ESPAÇO DISPONÍVEL
COLECÇÃO GAIVOTA/35
SECRETARIA REGIONAL DA EDUCAÇÃO E CULTURA
1984
II
ESPAÇO DISPONÍVEL
Este segundo livro constitui, como já disse atrás, a minha cardiolírica açoriana. Ser introduzido nesta colectânea DEGRAU 8, uma vez que os poemas que o compõem destoam dos restantes, constituiu um reforço da homenagem prestada ao povo açoriano, nomeadamente ao hospitaleiro e heróico povo da Ilha Terceira ao qual me sinto irmanado para todo o sempre, ainda que dele arrancado pelas circunstâncias trágicas que me couberam na rifa do bazar da vida, há trinta anos.
ESPAÇO DISPONÍVEL
Este segundo livro constitui, como já disse atrás, a minha cardiolírica açoriana. Ser introduzido nesta colectânea DEGRAU 8, uma vez que os poemas que o compõem destoam dos restantes, constituiu um reforço da homenagem prestada ao povo açoriano, nomeadamente ao hospitaleiro e heróico povo da Ilha Terceira ao qual me sinto irmanado para todo o sempre, ainda que dele arrancado pelas circunstâncias trágicas que me couberam na rifa do bazar da vida, há trinta anos.
ESPAÇO DE PAPOILAS
noiva da noite
a sombra tudo aquece
no verão os corpos são mais rubros
livres
povoam de suor a terra em carne viva
espaço de papoilas
fogo ao vento
VINHO MOSTO
lavro o papel
com
amor
levanto a enxada
bem
alto
beijo a poeira
com
gosto
sangue
e
tinta
vinho mosto
GOTA D’OURO
da vide
a dádiva
da vida
pende
gota
a
gota
o suor
no xisto
cai
num ápice
num cálice
o homem
em suor
se esvai
ESPAÇO DISPONÍVEL
expressão do espaço disponível
dou forma e vida ao sofrimento
em lágrimas comovidas cristalizo
o pensamento
TEMPO AMAR
na floresta suspirada das palavras
pedra a pedra ergo a expressão
repetidamente traído
por símbolos patéticos
a ideia mordo
na inflexão do tempo amar
A RAÚL BRANDÃO
eu
pescador
me confesso
por tradição
marinheiro
do mar possesso
por maldição
aprendiz
em Ceuta
morri em Fez
não sei
onde se forma
ou finda
o meu país
sou português
corpo estendido
no mar profundo
alma derramada
pelo mundo
ÍNSULA[1]
em frente o mar
por cima uma gaivota
eu
nuvem parada
chorando uma alma
morta
a minha
a de outros
tempos
hoje só existe
em pensamentos difusos
rarefeitos
levados pelo vento
saudade sedentária
em mim
permanentemente
minha companheira
até ao fundo
até ao fim
mar sem barcos
não é estrada
apenas infinito
e uma toada
a gaivota não me espera
nem transporta
as nuvens que se vão
não dizem nada
eu
só
nuvem chão
ao chão pregada
[1] Poema escrito em Fevereiro de 1980, nas Velas, São Jorge, onde me desloquei, repentinamente, devido ao inesperado falecimento de minha sogra, e onde fiquei retido devido ao mau tempo para lá do previsto, a aguardar barco que me levasse até à Terceira, para então poder regressar a Lisboa onde já morava há meio ano.
noiva da noite
a sombra tudo aquece
no verão os corpos são mais rubros
livres
povoam de suor a terra em carne viva
espaço de papoilas
fogo ao vento
VINHO MOSTO
lavro o papel
com
amor
levanto a enxada
bem
alto
beijo a poeira
com
gosto
sangue
e
tinta
vinho mosto
GOTA D’OURO
da vide
a dádiva
da vida
pende
gota
a
gota
o suor
no xisto
cai
num ápice
num cálice
o homem
em suor
se esvai
ESPAÇO DISPONÍVEL
expressão do espaço disponível
dou forma e vida ao sofrimento
em lágrimas comovidas cristalizo
o pensamento
TEMPO AMAR
na floresta suspirada das palavras
pedra a pedra ergo a expressão
repetidamente traído
por símbolos patéticos
a ideia mordo
na inflexão do tempo amar
A RAÚL BRANDÃO
eu
pescador
me confesso
por tradição
marinheiro
do mar possesso
por maldição
aprendiz
em Ceuta
morri em Fez
não sei
onde se forma
ou finda
o meu país
sou português
corpo estendido
no mar profundo
alma derramada
pelo mundo
ÍNSULA[1]
em frente o mar
por cima uma gaivota
eu
nuvem parada
chorando uma alma
morta
a minha
a de outros
tempos
hoje só existe
em pensamentos difusos
rarefeitos
levados pelo vento
saudade sedentária
em mim
permanentemente
minha companheira
até ao fundo
até ao fim
mar sem barcos
não é estrada
apenas infinito
e uma toada
a gaivota não me espera
nem transporta
as nuvens que se vão
não dizem nada
eu
só
nuvem chão
ao chão pregada
[1] Poema escrito em Fevereiro de 1980, nas Velas, São Jorge, onde me desloquei, repentinamente, devido ao inesperado falecimento de minha sogra, e onde fiquei retido devido ao mau tempo para lá do previsto, a aguardar barco que me levasse até à Terceira, para então poder regressar a Lisboa onde já morava há meio ano.
7 Comentários:
Às 24 de janeiro de 2011 às 23:29 , Osvaldo disse...
Caro irmão;
Enquanto esperamos por noticias positivas, vais nos oferendo estes maravilhosos momentos de tertúlia poética e nós bem que agradecemos.
Bjs aí em casa e um grande abraço para ti.
Osvaldo
Às 25 de janeiro de 2011 às 00:21 , Kim disse...
Grande amigo! Grande poeta! Grande abraço!
Às 25 de janeiro de 2011 às 14:51 , Bichodeconta disse...
Também eu num cais aguardo a resposta a tantas questões, entre elas espero saber como estás,deixo-te um abraço de ternura e deixo o desejo de te abraçar em breve..Abreijos.
Às 25 de janeiro de 2011 às 20:55 , Laura disse...
Os Açores ficaram-te bem dentro e jamais vais esquecer o que viveste e o povo viveu.
Tão belas palavras que não consigo comentar a jeito.
Ó poeta das estrelas, das tardes de sol, das naus que naufragaram, das casas derrubadas, corpos nas estradas, silêncios sepulcrais, ó poeta que sabes tão bem cantar os nossos ais...
Deixo-te um beijinho bem repenicado, merece-lo.
laura
Às 25 de janeiro de 2011 às 21:47 , Je Vois La Vie en Vert disse...
Rica homenagem a esta colorida parte de Portugal !
Beijinhos
Verdinha
Às 25 de janeiro de 2011 às 22:27 , Andre Moa disse...
Amici,
Quanto ao que está pendente,à espera continua. Amanhã vou ao hospital para ver se descubro em que ponto é que o processo burocrático se encontra. O estado de alma e do corpo continuam razoavelmente saudáveis. Só a lua cheia vermelhinha continua a moldar-me o rosto. Pelos vistos, dá-me um ar mais nédio. Até o Kim me achou nutrido. Mas é só de cara. Comesse eu sempre como hoje ao almoço com ele e mais uns amigos à mesa e não tardaria a ficar todo eu buda da cabeça aos pés, passando pela protuberância abdominal. eheheheheheheh
Abreijos
André Moa
Às 26 de janeiro de 2011 às 16:58 , Laura disse...
E eu já vi as fotos dos rapazes, e é caso para dizer; que borrachos, são os rapazes mais bonitos da Lisboa, gostei de te ver Moa, estás com boa cara e não há nada que o contradiga! Também vi os pratos, pois... deixa lá e continua a cuidar de ti. espero boas noticias amanhã.
Um abraço apertadinho da laura
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