POETA À SOLTA - VERSOS DE UMA VIDA COM REVERSOS
DE GRAU 8 COLECÇÃO GAIVOTA/35
SECRETARIA REGIONAL DA EDUCAÇÃO E CULTURA
1984
XVI
na cama a noite
dobra-se ao silvo
do cio agreste
do tempo. abre-se um infinito
de sombra correio.
é o assobio travesso do medo
com raios nos olhos.
vagarosa na charneca
a insónia solitária.
é desta vez que a tenda voa?
é desta vez?
XVII
a humidade ontem
tomou-me o pulso
e o humor
limos vermelhos
de mim escorrem
só o musgo apetece
neste saibro mal batido
por dois passos de alegria amarga
XVIII
confundem-se os cabelos do poeta
com o pó da estrada
com a dor da calçada
os dedos prolongam-se
para além do desespero
o fluxo da angústia renova-se
em todas as esquinas
SECRETARIA REGIONAL DA EDUCAÇÃO E CULTURA
1984
XVI
na cama a noite
dobra-se ao silvo
do cio agreste
do tempo. abre-se um infinito
de sombra correio.
é o assobio travesso do medo
com raios nos olhos.
vagarosa na charneca
a insónia solitária.
é desta vez que a tenda voa?
é desta vez?
XVII
a humidade ontem
tomou-me o pulso
e o humor
limos vermelhos
de mim escorrem
só o musgo apetece
neste saibro mal batido
por dois passos de alegria amarga
XVIII
confundem-se os cabelos do poeta
com o pó da estrada
com a dor da calçada
os dedos prolongam-se
para além do desespero
o fluxo da angústia renova-se
em todas as esquinas
XIX
início de um desejo
confusão e ruas
ano novo
gritos novos
esperanças idas
corpos submersos
os cadáveres habitam
casas
com asas atingidas
pela pedra traiçoeira
XX
nas trevas
adejam
tenebrosos beijos
mortos
antes do mexer
dos lábios
fantasia breve
amor devorado
ao tremer dos corpos
soterrados
XXI
a sombra das casas ondula sobre a areia
o vento dorme à beira dos telhados
a vida pende do cadeirão deserto
moramos em jardins dilacerados
a rua exprime sensações de medo
fios nervosos movimentam marionetas
em gestos de esgar
qualquer impressão tem a cor de sapo
forma agoniada
no momento cesariano
a terra abre-se em dor e pranto
nas horas sofridas de trevas e lamento
só a imaginação põe ovos de oiro
início de um desejo
confusão e ruas
ano novo
gritos novos
esperanças idas
corpos submersos
os cadáveres habitam
casas
com asas atingidas
pela pedra traiçoeira
XX
nas trevas
adejam
tenebrosos beijos
mortos
antes do mexer
dos lábios
fantasia breve
amor devorado
ao tremer dos corpos
soterrados
XXI
a sombra das casas ondula sobre a areia
o vento dorme à beira dos telhados
a vida pende do cadeirão deserto
moramos em jardins dilacerados
a rua exprime sensações de medo
fios nervosos movimentam marionetas
em gestos de esgar
qualquer impressão tem a cor de sapo
forma agoniada
no momento cesariano
a terra abre-se em dor e pranto
nas horas sofridas de trevas e lamento
só a imaginação põe ovos de oiro
XXII
a areia vem da pedra
a nuvem vem do mar
é brisa
é espuma
coisa nenhuma
na base os mortos
mal cobertos
na pressa da memória
tumular
recordam
tempos idos para sempre
na fúria desta dança súbita
asas negras sobrevoam
estas casas
estes arcos
abatidos
sob a vibração do clarim telúrico
ao deflagrar o coro dos gemidos
XXIII
um sopro de vida um peito magoado
na curva da estrada um momento parado
uma vara uma sombra uma cruz uma rosa
lágrimas caídas na rua medrosa
uma cara um esgar um sorriso suspenso
um deserto verde vestido de imenso
dois pontos dois eixos um queixo um queixume
um verme na derme com patas de lume
um sudário dois brincos um sobrolho pisado
uma tela dois planos três dedos de lado
um berço um retrato a cair da parede
um susto um quebranto um manto uma rede
um rosto uma estátua um parque um brinquedo
memórias perdidas na rua do medo
a areia vem da pedra
a nuvem vem do mar
é brisa
é espuma
coisa nenhuma
na base os mortos
mal cobertos
na pressa da memória
tumular
recordam
tempos idos para sempre
na fúria desta dança súbita
asas negras sobrevoam
estas casas
estes arcos
abatidos
sob a vibração do clarim telúrico
ao deflagrar o coro dos gemidos
XXIII
um sopro de vida um peito magoado
na curva da estrada um momento parado
uma vara uma sombra uma cruz uma rosa
lágrimas caídas na rua medrosa
uma cara um esgar um sorriso suspenso
um deserto verde vestido de imenso
dois pontos dois eixos um queixo um queixume
um verme na derme com patas de lume
um sudário dois brincos um sobrolho pisado
uma tela dois planos três dedos de lado
um berço um retrato a cair da parede
um susto um quebranto um manto uma rede
um rosto uma estátua um parque um brinquedo
memórias perdidas na rua do medo
8 Comentários:
Às 9 de janeiro de 2011 às 14:25 , José María Souza Costa disse...
Bom dia
Passei aqui lendo. Vim lhe desejar um Tempo Agradável, Harmonioso e com Sabedoria. Nenhuma pessoa indicou-me ou chamou-me aqui. Gostei do que vi e li. Por isso, estou lhe convidando a visitar o meu blog. Muito Simplório por sinal. Mas, dinâmico e autêntico. E se possivel, seguirmos juntos por eles. Estarei lá, muito grato esperando por você. Se tiveres tuiter, e desejar, é só deixar que agente segue.
Um abraço e fique com DEUS.
http://josemariacostaescreveu.blogspot.com
Às 9 de janeiro de 2011 às 15:22 , Maria disse...
Querido André
Dia 12 faz um ano que os pobres haitianos sofreram o mesmo. A Terceira do "teu sismo", o Pico e Faial do "meu", renasceram. No Haity tudo se tem vindo a detiorar. Doenças como a cólera, matam mais do que o sismo.
Vieram a proposito os teus belos versos.
Como estás, meu amigo?
Beijos da
Maria
Às 10 de janeiro de 2011 às 00:31 , Branca disse...
Olá Moa,
Vim só deixar-te um beijinho hoje e saber como estás. Amanhã venho ler os teus versos e entretanto falaremos.
Jà é tarde e tenho que levantar cedinho.
Beijinhos de muita amizade.
Tudo de bom para ti.
Branca
Às 10 de janeiro de 2011 às 05:12 , Osvaldo disse...
Caro irmão;
São seis da manhã, mas antes de ir enfrentar " as feras", lembrei-me de passar por aqui para te deixar um grande abraço e te desejar uma semana de grandes e boas noticias.
Um abraço, irmão.
Osvaldo
Às 10 de janeiro de 2011 às 10:01 , Laura disse...
Palavras que a pena esculpiu
num olhar demorado
que alguém viu
sente-se a cada nova remessa
de palavras inventadas
nas pedras da calçada
nas paredes nuas
de casas quebradas...
Muito bela a poesia, a última deixou-me a ler e reler, palavras demoradas na angústia e no caos dos acontecimentos.
Beijinho e melhoras para ti.
laura
Às 10 de janeiro de 2011 às 11:07 , DAD disse...
Meu querido amigo,
Espero que cada dia te sintas melhor e que tudo se recomponha rapidamente.
Beijinho grande,
Às 11 de janeiro de 2011 às 00:06 , Kim disse...
Felizmente que os reversos te deram mais força para que fosse perpetuada a tua belissima veia poética.
As tuas melhoras meu velho!
Às 11 de janeiro de 2011 às 17:35 , Laura disse...
Aaaaaatchi...mmmmmmmmmmmmmmmmmm
Não passa, não passa! É no que dá a treta que acabou na janelinha! fez-me ficar constipada e com tosse que nem sei.
Beijinhos e vim saber como te sentes e se te ressentes das costas!
laura
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