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terça-feira, 29 de junho de 2010

CRÓNICAS NO FEMININO








POEMA DE LUA CHEIA

Faz este mês de Julho quarenta e um anos. O tempo corria lento, como sempre corre quando se espera por alguma coisa muito desejada. Eu estava redonda, muito redonda, e guardava dentro de mim a edição de uma outra obra, igualmente planeada como fora a primeira. Não sabia ainda se seria ou não da mesma série, pois o nosso conhecimento mútuo limitava-se a monólogos sem resposta e a um silêncio que tudo dizia. Percebi, a partir de então, que a linguagem do amor é a única que não precisa de réplicas e se alimenta de gestos e carícias engendrados em metáforas do faz-de-conta.
Era a minha lua cheia, a que eu carregava na ânsia de que se completasse o último ciclo. Depois de nove voltas completas - lua nova, quarto minguante, quarto crescente e lua cheia - chegarias com o aviso de um romper de águas, numa manhã de cacimbo que humedecia a natureza à nossa volta, num gesto de solidariedade para comigo – ambas húmidas de fertilidade! O mês dos santos populares terminara, mas o meu balão aumentava de volume a cada dia que passava.
- «Foi por lá no balão!», ou «Deixou-se ir no balão!» – eram expressões que minha mãe utilizava quando, na ingenuidade dos seus eufemismos populares, queria dizer que mais uma rapariga fora na conversa das falsas intenções do namorado. Eu sempre achara graça ao seu pudor, à forma como tudo na sua boca ganhava um ar tão limpo, avesso à brejeirice explícita ou ao palavrão desbocado. Contrariando um pouco o curso normal da natureza - que nos faz avós depois de sermos mães -, demos por nós a falar do nosso estado de graça: para mim, o segundo; no caso dela, o décimo primeiro. Não nego que senti algum ciúme ou a sensação de uma concorrência desleal, que servia de mote às conversas das amigas e conhecidas, que tudo davam para espalhar a nova pouco vulgar: mãe e filha grávidas ao mesmo tempo.
Vai fazer quarenta e um anos que os jornais acordaram prenhes de notícias, as rádios de comentários, as televisões de imagens. Lemos e ouvimos vezes sem conta a frase «Foi um pequeno passo para o homem, mas um salto gigante para a humanidade!». Tudo isto, na altura, me passou ao lado porque eu vivia recolhida na escuridão do meu eclipse. Tacteava a minha lua sem me importar com o que acontecia com a lua de todos nós. Atenta aos movimentos do planeta do meu universo, e apenas do meu, na esperança de que, chegada a hora, a mesma fosse breve.
Sem televisão que me devolvesse imagens, sonhei o meu próprio filme sobre a proeza dos homens. Vi-os descer da nave e caminhar na lua, em câmara lenta, como ouvira dizer, e a bandeira americana desfraldada. Eu conhecia a influência da lua nas marés e no anunciar dos partos. Dei, então, por mim a pensar até que ponto aquela epopeia iria mudar o mundo. Por momentos, vieram-me pensamentos loucos. Imaginei as grávidas todas, em fim de tempo, mãos sobrepostas nas suas luas, suspensas de uma ordem dos astronautas que alterasse o normal curso do calendário lunar. Imaginei-as a todas indefinidamente grávidas, a passear de contentamento as suas luas de amor, apesar de uma ou outra mais resignada, por a sua lua ter sido fruto de um descuido ou um acaso inesperado.
Acordei com o mesmo peso dos últimos dias. Saí e olhei para as outras luas, umas ainda em quarto crescente, e senti que nada havia mudado. Pelo menos eu não notara nenhuma alteração que merecesse o meu cuidado. As suas donas caminhavam com o mesmo passo inclinado para trás, apoiando as mãos nos rins, de cada vez que paravam para descansar.
Não tive que esperar muito mais. A manhã de vinte e cinco chegou depois de uma noite sem sobressaltos, dormida no aconchego dos sonhos auspiciosos. Não fora a humidade do orvalho nos lençóis a despertar-me para a realidade e a minha hora breve teria chegado sem aviso. Porque foi mesmo uma hora muito breve, daquelas que se arriscam a não traçar os minutos todos por falta de tempo. Em menos de nada, vi-me com o menino nos braços. O meu menino de cabeleira negra e farta deitado sobre o meu ventre vazio e lasso dele.
Quarenta e um anos depois, eu celebro o mês e o dia em que a minha lua, cansada de iluminar o crepúsculo dos dias, deitou, na minha cama de esperanças, um último raio de luz. Nessa hora, escrevi as estrofes do meu mais lindo poema à lua - o meu filho - Alexandre de seu nome!
Um pequeno passo na obra do Criador, um salto gigante numa vida que se iniciava!
Aida Baptista

8 Comentários:

  • Às 29 de junho de 2010 às 21:06 , Blogger Osvaldo disse...

    Cara Aida;

    E da Lua, o Alexandre fez-se homem...
    Bela história, ou estória, se assim quizerem, de um parto sem que os astronautas tenha desfeito a Lua, a mesma Lua que sempre foi dos namorados.
    E se é dos namorados, nada mais lógica que seja a mesma Lua a ditar as normas e regular com exatidão o momento certo para que o fruto do amor se mostre...

    Sempre um imenso prazer ler os seus contos, Aida.
    bjs,
    Osvaldo

     
  • Às 30 de junho de 2010 às 09:14 , Blogger Maria disse...

    Aida
    Passei essa noite sentada na cama com o meu marido, uma garrafa de Porto e dois pacotes de bolacha Maria. Nunca nos deu o sono. Quando o 1º homem pisou a lua, chorei, gritámos, abraçamo-nos e tentei acordar os meus dois filhos, um com dois anos e outro com um, para que vissem um marco importante da Humanidade. Não se lembram, claro. Você, minha amiga, marcou o dia de forma muito mais bela, dando ao mundo mais um homem. O homem que nasceu no dia da conquista da lua. Parabéns por isso, e pela história bem contada como sempre.
    Maria

     
  • Às 30 de junho de 2010 às 10:00 , Blogger Laura disse...

    È caso para dizer que o rapaz nasceu virado prá lua... Apesar dos quarentas, muita felicidade lhe desejo. Primeiro por ser de terras Angolanas, a minha terra mãe,depois por vir no dia dos astronautas pisarem a Lua e mais ainda por ser um filho amado acarinhado no ventre de sua mãe como foram os meus (os dois africanos mas numa África diferente (do Sul)e para mim seres de África têm outras raízes diferentes do resto do mundo!
    Beijinhos Aida e Parabéns aos dois, da laura

     
  • Às 30 de junho de 2010 às 21:59 , Anonymous DAD disse...

    Gostei muito. Também eu amanhã serei lua que deaagua no meu querido filho que faz anos amanhã.
    Beijinhos grandes,

     
  • Às 1 de julho de 2010 às 17:41 , Blogger Laura disse...

    Ai que andamos às moscas!
    Tão bela escrita e tão belo relato e...
    Aida, beijinhos e abraço apertadinho.

    E beijinhos ao nino da Dadinha também, laura

     
  • Às 1 de julho de 2010 às 18:29 , Blogger Andre Moa disse...

    Que lindo poema de lua! Um poema de mão cheia. A crónica mais feminina de todas as femininas crónicas. Que terno e lindo poema! Verifico que comecei a ser pai no ano em que nasceu o Alexandre. Só que cinco meses mais cedo. Quando o Amstrong poisou na lua e pronunciou a célebre frase do pequeno grande passo, já o meu filho assistia e virava o pescoço para o écran mágico, contrariando todos os nossos esforços, como que irresistivelmente atraído pelo aguardado evento. Passou connosco, praticamente de vela, à espera do momento surpreendente, que foi sendo adiado durante a noite, até praticamente de madrugada.
    Belo texto! Que prazer deve sentir um filho perante tão encantadora prova de amor maternal!
    Abreijos para todas as mães.
    André Moa

     
  • Às 1 de julho de 2010 às 19:18 , Blogger Unknown disse...

    Muito bonito! Parabens.
    Chamo-me Getta, mulher e mãe.
    Quero compartilhar com quem me esteja e ler e sobretudo à autora do texto que ser uma mulher grávida foi para mim uma indescritível felicidade.
    Desejo belas luas cheias para todos.

    André Moa: Mil abraços para ti.
    Getta

     
  • Às 1 de julho de 2010 às 19:23 , Blogger Unknown disse...

    0nde se lê à autora, deverá ler-se com a autora.
    De novo mil abraços e de novo parabéns.
    Getta

     

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