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terça-feira, 13 de julho de 2010

CRÓNICAS NO FEMININO


TUDO VALE A PENA

Esta minha vida de andarilha tem-me levado a escrever nos mais inusitados lugares sem que isso me crie qualquer tipo de constrangimento. Talvez porque o acto de produção do texto me passe todo ainda pela mão. Dispenso, por isso, o aparato de ter de transportar comigo qualquer tipo de tecnologia. Pedaços de papel e o aparo de uma caneta são-me, por enquanto, suficientes.
No entanto, quando há quatro anos regressei definitivamente a Portugal e me instalei no meu escritório da casa do Sardoal, apercebi-me de que aqui, rodeada de memórias, oiço o respirar da alma que o habita. Olho para as paredes e estantes e cada centímetro me transporta a um tempo e a um lugar já vividos. Deve ser por isso que também os meus netos adoram estar nesta divisão da casa. Depois do sótão, arrisco-me a dizer que este é o lugar de eleição deles.
Manuseiam muitas das minhas recordações - objectos dispersos aqui e ali -, e fazem-me perguntas próprias da idade. Respondo-lhes com a certeza de ter valido a pena este percurso por tantos lugares diferentes. O mais novo não percebe ainda tudo quanto explico e entretém-se nas brincadeiras do costume. O mais velho faz já percursos diferentes do olhar, em busca de novidades que eu vou colocando no painel de corticite por cima da secretária, onde os autocolantes amarelos me chamam a atenção para assuntos pendentes.
Entre estes, figuram também pequenas memórias de outros tempos: postais, fotos e pequenas ofertas que antigos alunos e alguns amigos me mandaram. Fixa-se num pedaço rectangular de pele de carneira. Era um marcador de livros, oferta de Salme Jamalainen, presidente da Associação de Amizade Finlândia-Portugal durante os oito anos em que vivi em Helsínquia. Deu-mo há mais de dez anos e ali estava preso a um coração de madeira a lembrar-me a perfumada floresta da Lapónia. Na tira encontra-se gravado um texto que ele leu em voz alta:
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, Fernando Pessoa.
Logo que acabou de pronunciar o nome, atirou-me de rompante: “Ó vóo! Foi teu aluno?”
A pergunta nada tinha de absurdo, habituado que estava a lidar com referências permanentes aos meus antigos alunos.
- Não, querido, não foi meu aluno! - respondi.
Sorri e expliquei-lhe quem foi. Não lhe disse ainda tudo. A escrita tem lugares mas tem também um tempo, o tempo de perceber quanto vale uma palavra na mão de um poeta multiplicado como ele. Por isso guardei as estrofes “O oitavo poema de O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me a mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

Para, num tempo futuro, lhe dizer que Fernando Pessoa não foi apenas um, mas vários num só. Como todos nós, quando num corpo de criança começa a espevitar-se a curiosidade intelectual de um adulto.
Aida Baptista

Apontamentos anticancro 27
«Geralmente, o mais difícil é dar a notícia àqueles que amamos. Primeiro contei aos meus três irmãos, um de cada vez. Par meu grande alívio, reagiram de uma forma simples e directa. Não entraram em pânico. Não tentaram tranquilizar-me a mim ou a eles com grandes frases arrebatadoras. Não disseram: «Não é assim tão mau, vais ver. Vais safar-te». São palavras triviais que parecem encorajadoras mas são temidas por quem não souber quais serão as suas hipóteses de sobrevivência. Os meus irmãos encontraram palavras para exprimir a sua dor pelo que eu estava a passar. Deram-me a certeza do seu apoio incondicional, que era, na verdade, tudo aquilo de que eu precisava».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

5 Comentários:

  • Às 14 de julho de 2010 às 17:09 , Blogger Maria disse...

    Aida
    Como eu entendo o que sente nessa divisão da casa! Procurei criar num dos quartos da minha casa, com alguns móveis vindos da casa de meus avós, os meus livros e lembranças antigas e novas, um cantinho assim. Os móveis dão-lhe o cheiro e o aspecto da velha casa. Quando lá estou, a memória traz-me coisas muito antigas, algumas de antes de ter nascido. Sinto-me bem, rodeada de rostos amigos nas velhas fotos. Lá tenho um mundo só meu, onde me meto como se fosse um bicho da seda no casulo. Tenho lá passado momentos amargos e alegres. É lá que converso com aqueles que já partiram. Nela, o meu filho mais novo vai procurar as raízes do que lhe transmito. Os netos são ainda muito novos para entenderem, mas sentem-se bem lá.
    Adorei este seu desfiar de lembranças.
    Beijo
    Maria

     
  • Às 14 de julho de 2010 às 21:38 , Blogger Andre Moa disse...

    Caras amigas,caros amigos,
    para evitar alguma distracção, lembro que a pintora Maria da Piedade é a nossa querida DAD. A pintura é bela e muito boa; a escultura da sua parceira igualmente. E há ainda um extra. O André Moa e outros, cujo nome não revelo para manter o suspense, mas que o grupo conhece bem, irão dizer alguns poemas do livro O ESPÍRITO DAS ÁGUAS, DE POESIA E PINTURA, de André Moa e Dad.

     
  • Às 15 de julho de 2010 às 07:14 , Blogger Osvaldo disse...

    Cara Aida;
    Compreendo perfeitamente esta sensação que se sente em certos lugares, sejam eles interiores ou exteriores, talvez mais os interiores de uma casa, em que temos a impressão, que no silêncio desse espaço, tudo nos fala, tudo nos faz reviver lembranças de factos, casos e obras vividas.
    Mas há também lugares e obras ou simples objectos visitados, vistos e tocados uma primeira vez, por vezes em lugares ou países nunca antes aflorados e que nos mostram que afianal somos nós o instrumento que dará um senso à existensias para o qual o artista o concebeu.

    Excelente, como sempre, este texto.
    bjs, Aida.
    Osvaldo

     
  • Às 15 de julho de 2010 às 17:43 , Blogger Laura disse...

    Aida querida. Nem sabes como me sinto quando entro na casa dos meus avós perto de Montalegre, e vou à sala que a tia mantém fechada, os moveis, objectos, fotos, tudo nos mesmos lugares, abro as janelas para entrar a luz e sentir de novo a alegria do tempo em que lá chegava e eles me esperavam com as tias, era uma alegria divinal que em mais lugar nenhum encontrarei...
    Na cas dos meus pais como é recente, lá está tudo ainda como sempre, sei que mais tarde lembrarei esse aconchego, mas já vivi por meio mundo, Luanda, aqui e África do sul..logo as raízes não são tão profundas...
    aquele abraço da laura que é amiga da Isabel e da Zezinha... de benguela...

     
  • Às 15 de julho de 2010 às 20:58 , Anonymous Anónimo disse...

    Muitos parabéns à Dadinha querida. Que o dia de sábado seja um prenúncio de alegrias mil, pois já vi as pinturas em foto, as que ela tem no blogue e...são lindíssimas, merecem ser vistas por todo mundo.


    Moa; parabéns também e haja cantoria..tentarei ouvir-te de longe e sei que te ouço com o coração, dentro de mim soará a inesquecível balada do Outono e aquele Longe lá longe, tão longe assim...
    Aquele abraço apertadinho da laura anónima por ter o resteas desafinado..

     

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