UMA VIDA EM VERSOS com REVERSOS
Aos setenta só sessenta de poesia
P(OVO)
EDIÇÃO DO AUTOR
COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO DE JOSÉ DINIS
Outubro/1979
(CONTINUAÇÃO)
O FUTURO
um devaneio
um furo
de permeio
um adiar
do presente projectado
P(OVO)
EDIÇÃO DO AUTOR
COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO DE JOSÉ DINIS
Outubro/1979
(CONTINUAÇÃO)
O FUTURO
um devaneio
um furo
de permeio
um adiar
do presente projectado
futuro é massa
a inchar
prenhe de frutos
somos nós
juntos
a levedar
«COISA AMAR»(GA)
(homenagem crítica a Manuel Alegre)
«acontecia. no vento. na chuva. acontecia».
acontecia em todo o lado. menos dentro.
e era dentro que mais apetecia
pois é dentro. dentro. bem dentro.
que mora. ou não mora. a poesia.
deste-lhe um dia a mão. foi tua irmã.
com certo acerto em ti fez-se mulher.
formosa e bem segura em robustez.
foi para nós sol muito antes da manhã.
farol no cativeiro português.
forte a abraçaste. peito à luta dado.
logo desceste à «praça da canção».
«o canto e as armas» mais que canto foi vulcão.
«um barco para ítaca» em mar encapelado.
luzeiro de «letras» feito. «lusíada exilado».
depois de ser cativo. depois de ser palavra.
por descobrir uma estrela. uma espada..
porque era fogo. porque era lava.
«porque era amor (diziam)».
mas muitos não sabiam.
desse amor. «coisa amar»ga. nem sinal.
apenas sal. «uma réstea». «um rasto de navio».
um «amor que se não teve». Um vazio.
«um punhado de areia loira poeira louca».
uma brochura azul e branca. coisa bem pouca.
«acontecia. no vento. na chuva. acontecia».
acontecia em todo o lado. menos dentro.
e era dentro que mais apetecia.
pois é dentro. dentro. bem dentro.
que mora. ou morre. a poesia.
DENS(A)IDADE
rompia a aurora
era noite
batia lento o meio-dia
uma vida em cada hora
arrefecia
chegava a noite dobrada
noite por dentro e por fora
nem o homem mais afoito
se afoita agora
a densidade das coisas
adensa a idade dos homens
trocam-se os nomes às coisas
se as coisas não têm nome
perdem-se as coisas e os homens
é a memória que os come
CERTEZA EQUESTRE
a tarde era de mais para ser verdade
inteira no areal da solidão
precipitadamente
a noite veio
e foi a negação
a certeza equestre
não tardaria apeada
pelo galope incontido
da tardia madrugada
Apontamentos anticancro 37·
«Um estudo recente descobriu que os trabalhadores das vinhas regularmente expostos a pesticidas e fungicidas têm um elevado risco de desenvolver tumores cerebrais. Entre 1963 e 1970, dois aos nove anos, eu brincava em milheirais pulverizados com atrazina perto da nossa casa, na Normandia. Até me ter sido diagnosticado cancro, toda a vida bebi leite, e comi ovos, iogurtes e carnes de animais alimentados com milho pulverizado com pesticidas. Comia maçãs com casca que haviam sido pulverizadas 15 vezes com pesticidas antes de chegarem à mercearia. Bebia água da torneira proveniente de cursos e veios freáticos contaminados. As minhas duas primas que tiveram cancro da mama, brincavam nos mesmos milheirais, bebiam da mesma água e comiam o mesmo que eu.».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» - de David Servan-Schreiber.
a inchar
prenhe de frutos
somos nós
juntos
a levedar
«COISA AMAR»(GA)
(homenagem crítica a Manuel Alegre)
«acontecia. no vento. na chuva. acontecia».
acontecia em todo o lado. menos dentro.
e era dentro que mais apetecia
pois é dentro. dentro. bem dentro.
que mora. ou não mora. a poesia.
deste-lhe um dia a mão. foi tua irmã.
com certo acerto em ti fez-se mulher.
formosa e bem segura em robustez.
foi para nós sol muito antes da manhã.
farol no cativeiro português.
forte a abraçaste. peito à luta dado.
logo desceste à «praça da canção».
«o canto e as armas» mais que canto foi vulcão.
«um barco para ítaca» em mar encapelado.
luzeiro de «letras» feito. «lusíada exilado».
depois de ser cativo. depois de ser palavra.
por descobrir uma estrela. uma espada..
porque era fogo. porque era lava.
«porque era amor (diziam)».
mas muitos não sabiam.
desse amor. «coisa amar»ga. nem sinal.
apenas sal. «uma réstea». «um rasto de navio».
um «amor que se não teve». Um vazio.
«um punhado de areia loira poeira louca».
uma brochura azul e branca. coisa bem pouca.
«acontecia. no vento. na chuva. acontecia».
acontecia em todo o lado. menos dentro.
e era dentro que mais apetecia.
pois é dentro. dentro. bem dentro.
que mora. ou morre. a poesia.
DENS(A)IDADE
rompia a aurora
era noite
batia lento o meio-dia
uma vida em cada hora
arrefecia
chegava a noite dobrada
noite por dentro e por fora
nem o homem mais afoito
se afoita agora
a densidade das coisas
adensa a idade dos homens
trocam-se os nomes às coisas
se as coisas não têm nome
perdem-se as coisas e os homens
é a memória que os come
CERTEZA EQUESTRE
a tarde era de mais para ser verdade
inteira no areal da solidão
precipitadamente
a noite veio
e foi a negação
a certeza equestre
não tardaria apeada
pelo galope incontido
da tardia madrugada
Apontamentos anticancro 37·
«Um estudo recente descobriu que os trabalhadores das vinhas regularmente expostos a pesticidas e fungicidas têm um elevado risco de desenvolver tumores cerebrais. Entre 1963 e 1970, dois aos nove anos, eu brincava em milheirais pulverizados com atrazina perto da nossa casa, na Normandia. Até me ter sido diagnosticado cancro, toda a vida bebi leite, e comi ovos, iogurtes e carnes de animais alimentados com milho pulverizado com pesticidas. Comia maçãs com casca que haviam sido pulverizadas 15 vezes com pesticidas antes de chegarem à mercearia. Bebia água da torneira proveniente de cursos e veios freáticos contaminados. As minhas duas primas que tiveram cancro da mama, brincavam nos mesmos milheirais, bebiam da mesma água e comiam o mesmo que eu.».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» - de David Servan-Schreiber.
10 Comentários:
Às 7 de outubro de 2010 às 22:30 , Kim disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Às 7 de outubro de 2010 às 22:31 , Kim disse...
Meu querido André!
Sou um fã incondicional da tua poesia e como de costume aqui a trazes com a mestria já conhecida. Infelizmente o mesmo não se passa com o poeta Manuel Alegre, de quem não consigo gostar enquanto político inacabado.
Um grande abraço
Às 8 de outubro de 2010 às 13:10 , Green Knight disse...
Amigo André Môa apesar de andar arredado dos posts,sempre tenho acompanhado o meu amigo e nâo quero aqui expressar em pormenor, a minha admiração pela sua pessoa e pelo que escreve,quer nos seus poemas, quer nos seus textos.
Obrigado
Um abraço
jrom
Às 8 de outubro de 2010 às 14:57 , Laura disse...
Moa, meu amigo querido.. É bem de dentro que vem a poesia. Os que escrevem só por fora não atingem os píncaros dos montes! nem bebem da água pura das fontes.
O Manuel Alegre do pouco que li dele não conseguiu deixar-me sua fã, logo...lembraste-o aqui, eu lembrei que o li e não gostei!
Beijinho da nina e até loguito na janela do manjerico.
Às 9 de outubro de 2010 às 09:34 , Laura disse...
Ah hoje estou de trombas de elefante simplesmente porque o constipadinho ainda continua com a nina...
E como costume, já leste o Diário da manhã? tem um pequeno suplemento muito interessante.
Gostaste da noite passada na sala da nina? cada um levou o melhor que tinha e, é giro ver como podemos dar-nos bem com todo o mundo.
Abraço apertadinho da nina
Às 10 de outubro de 2010 às 17:59 , Anónimo disse...
Olá viva.Sou mais uma das muitas pessoas que o visitam e ficam maravilhadas com a sua escrita,
e não só,também, vi e ouvi declamar no blog de um amigo seu.
(A Energia do Universo,dar-lhe-á força para continuar)
Leio os apontamentos anticancro,nunca é demais
lembrar o que nos pode fazer tanto mal.
Quanto a Manuel Alegre,não tenho conhecimento
suficiente que me permita, falar sobre ele.
Abraço.
Anali
Às 10 de outubro de 2010 às 23:43 , Andre Moa disse...
Cara Anali,
grato pelas suas estimulantes palavras. Quanto ao Manuel Alegre, não me importa tanto o político, sim o poeta, ou melhor ainda, a sua poesia de que gosto.E da prosa também. Será caso para dizer que é melhor a obra que o operário. Isto sem querer tasquinhar ou fazer propaganda política contra ele. Até porque não tenho qualquer rebuço em afirmar que, por certo, irei votar nele, com base no princípio de que do mal o menos. Aliás, já há cinco anos votei nele. Mas se o poeta me empolga, por vezes, o político já não me entusiasma assim tanto. Mas, repito: do mal o menos.
À falta de melhor, que venha ele.
Beijinhos
André Moa
Às 10 de outubro de 2010 às 23:46 , Andre Moa disse...
Caro Kim,
tu é que és um incondicional amigo e camaradão. Como te estou grato! Foi tão lindo e tão bom conhecer-te! É que tu és grande, mas a tua alma ainda é maior.
Abreijos
André Moa
Às 10 de outubro de 2010 às 23:48 , Andre Moa disse...
Caro JROM,
Podem ser poucos, mas são muito saborosos e bons os teus comentários. Sempre que queiras e possas, sabes que serás bem-vindo e lido com muito apreço.
Abreijos
André Moa
Às 12 de outubro de 2010 às 10:37 , Maria disse...
Querido André
Se o Manel visse esta poesia iria gostar.
Eu, fã incondicional dele (como poeta e escritor), como político tenho um pouco de medo. Ele e o Nobre vão meter-se num saco de gatos. Mas eles lá sabem.
Dá noticias da tua saúde. Estou preocupada.
Beijinhos para todos vós.
Maria
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