UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS - AOS SETENTA só SESSENTA DE POESIA
DE GRAU 8
COLECÇÃO GAIVOTA/35SECRETARIA REGIONAL DA EDUCAÇÃO E CULTURA1984
I
DE GRAU 8
TERRAMOTO DE 1 DE JANEIRO DE 1980
(e eu que com outros o vivi dele dou este testemunho)
VI
a chuva não canta
grita
o vento não assobia
berra
a cabeça estala
só o desespero
fala
mas nós
teimosos
aos ombros
transportamos
a esperança que arrancamos
dos escombros
VII
já aqui não moro
habito ao lado
sob este tecto
desconjuntado
onde nos amámos
hoje submergimos
VIII
o passado não morreu
vive no medo
dói na incerteza
de voltar
esta ideia de abalada
esta ideia de ficar
livre da vertigem
desta dádiva
de vida
num deserto verde
IX
cobertor de pedra mal talhada
a casa
passou a ser
beijada pelo luar
ganhou jardins suspensos
e vistas para o mar
tem agora em frente
o Monte Brasil
simplificadas as janelas
perderam o lancil
as escadas cansadas de folia
são um balão amarrotado
no fundo da agonia
a árvore de natal
de luzes espantadas
despeja para a rua
uma alegria envergonhada
X
na mesma rua os risos
das crianças debandaram
foi o terror das casas
aparentes
nas praças contrafeitas nos juntámos
amor desesperado
passámos a viver
em nenhum lado
10 Comentários:
Às 11 de dezembro de 2010 às 08:51 , Zé do Cão disse...
Ontem foi um dia lindo da nossa existência.
Que felizes estávamos todos.
Moa, a minha "Dona" adorou a valiosa prendinha de Natal que me ofereceste, tendo guardando e lugar destacado a dedicatória.
Um apertado abraço e que a nossa presença no Apeadeiro, fosse para entrar no comboio e não o fim de viagem
Às 11 de dezembro de 2010 às 11:26 , Maria disse...
Querido André
Dia 7 houve um Tornado em Tomar. Casas inabitáveis, arvores desenraízadas, um infantário destruído. Há uma criança ferida com certa gravidade e muitas feridas nas pequeninas alminhas, que nunca irão esquecer. Há gente sem casa e sem dinheiro para a arranjar. Os abalos nos Açores ensinam que tudo se recompõe. E há muitos Açorenos descendentes de Tomarenses. Até a Festa do Espirito Santo é inspirada nos Tabuleiros de Tomar. Assim espero que os Tomarenses ajam como os açoreanos, sem estarem à espera dos de fora.
Mais uma vez gostei muito do Poema.
Beijinhos para os 4
Maria
Às 11 de dezembro de 2010 às 20:03 , Je Vois La Vie en Vert disse...
Querido Guimoa !
Quando a natureza se zanga, por qualquer razão, é normal que "só o desespero fala" porque é-nós impossível, a nós os homens, lutar contra esta força medonha. (Roubei-te as palavras porque são belas, como o poema) Mas o homem é lutador, arregaça as mangas e volta a fazer o que foi destruído.
E tu és um exemplo vivo da força do homem. Vi isso ontem e pude confirmar ainda hoje !
Um grande abreijo amigo
Verdinha
Às 11 de dezembro de 2010 às 20:10 , Andre Moa disse...
Amigo Zé,
Um apeadeiro é sempre um lugar de passagem, de abastecimento para, reabastecidos, reconfortados, continuarmos viagem por muitos anos e bons. Ainda bem que a tua "Dona" gostou. Pelos vistos tu não gostaste. Só ela. eheheheheheh.
As nossas "Donas" são muito sensíveis. A minha acaba de me informar que provou das especiarias de Azeitão que tu nos ofereceste e que ela e a filha apreciaram muito. Eu não almocei em casa e, como sabes, não provo doces. Mas fiquei aguado.
Obrigado.
Abreijos
André Moa
Às 11 de dezembro de 2010 às 20:12 , Andre Moa disse...
Querida Maria,
Os tomarenses vão tomar Tomar nas mãos e no coração e vão, evidentemente, superar a calamidade que os afligiu. Eu confio. Basta conhecer uma tomarense como tu, paradigma do melhor que os portugueses têm, seja nos Açores, seja em Tomar, seja em Tabuaço.
Beijinhos
André Moa
Às 12 de dezembro de 2010 às 13:06 , Kim disse...
Guimoa
E não passámos a viver em lado nenhum porque tu estás em todo lado, quando não é presencial é em espirito.
E nós adoramos estar cotigo, mesmo quando vem ao de cima essa terrivel recordação de quando a terra tremeu.
Grande abraço amigo
Às 12 de dezembro de 2010 às 20:48 , DAD disse...
Querido Amigo,
Mais uma boa poemação - que o triste se espiritualiza sendo cantado!
Foi bonito o encontro em Sintra. Foi bonita a festa da inauguração do exposição.
Toda a gente estava feliz!
Beijinhos grandes para todos,
Às 13 de dezembro de 2010 às 00:46 , Andre Moa disse...
Querida Verdinha,
Com amigos do vosso quilate a rodear-me e com uma mesa tão bem composta, que querias tu? Que desse parte de fraco? Nem pensa! A dar ao dente ninguém me vence. Se estou assim tão magro é da ruindade.
Abreijos.
André Moa
Às 13 de dezembro de 2010 às 00:55 , Andre Moa disse...
Caríssimo Kim,
Como d(EU)s que sou,estou em todo o lado que me procuram, ou, melhor ainda, em todo o lado para onde me convidam. Como aconteceu ontem na Praia das Maçãs. Que dias loucos estes os de ontem e de anteontem.De ressuscitar mortos. Mesmo quando ou principalmente quando a terra treme e muitos de nós sucumbe. Alma até Almeida.
Abreijos
Guimoa
Às 13 de dezembro de 2010 às 00:59 , Andre Moa disse...
Querida DAD,
Tens razão: «gente feliz (ainda que, de vez em quando) com lágrimas», que a vida não se compõe apenas de folia. E quando sublimamos a tristeza, o mundo pula e avança um pouco mais.
Beijinhos
André Moa
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