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domingo, 21 de fevereiro de 2010

AOS SETENTA só SESSENTA DE POESIA - 5

Mãe e filhos, em Tabuaço, em 1957, pouco tempo antes de partirmos para Angola


(CONTINUAÇÃO)

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Os primeiros versos a sério, quiçá já merecedores de serem considerados ténues manifestações de poesia, datam dos longínquos anos de 1955, 1956 e 1957. Foram, se não todos, a maioria deles escritos no Lago, lugar aprazível sobranceiro à Vila de Tabuaço, anfiteatro verde do meu primeiro palco da vida, refúgio e refrigério nas tardes cálidas de Verão; postal nórdico com os cedros e pinheiros revestidos de neve nos rigorosos meses de Inverno.
Calculo eu que nos finais de 1955, princípios de 1956 (como sabemos, o Inverno vai de 21 de Dezembro e 21 de Março, se bem que anos há em que o mês de Novembro é muito mais rigoroso que os seguintes), um dia Tabuaço acordou todo coberto por um senhor nevão, como não há memória de outro igual, nem anterior nem posterior a este de que ainda hoje se fala. A serra parecia um campo de batalha alvo de neve, pejado de cadáveres verdes, enquanto sobre a vila estralejava forte tiroteio. Eram os ramos das árvores a ceder e a quebrar ao peso da neve e do sincelo. Ruas e estradas ficaram intransitáveis durante oito dias. As escolas encerraram durante aqueles dias. Foi uma festa para a estudantada do externato. Rapazes e raparigas engalfinhados durante todos aqueles santos dias em autênticas batalhas com bolas de neve que só serviam paras aproximar as almas e aquecer os corações. À noite, o embrião de poeta sonhava e escrevia ardentes poemas de amor.
Ubi sunt? Sepultados no pó dos caminhos, reduzidos a uma massa informe de lama em 1969, sob uma tremenda enxurrada que desfez e sepultou ad aeternum todo o espólio da minha juventude, inclusivamente o caderno onde ia escrevinhando os meus poemas adolescentes. Os que levei de Tabuaço e os que escrevi em Luanda, para onde emigrara em Janeiro de 1958, com a promissora e esperançosa idade de dezoito anos, e onde vivi até finais de 1964. O amor os gerou, a água os levou. Salvou-se um ou outro que a minha fraca memória lá conseguiu reproduzir e que mais tarde incluí num dos quatro livros da “ANTOLOGIA DE UM DESCONHECIDO”, clandestinamente compilada e passada a estêncil, na multiplicadora da paróquia de São Pedro, cidade de Angra do Heroísmo, onde preponderava o jovem, progressista e entusiasta Padre Avelino Soares, graças ao empenho e labor de meia dúzia de estudantes amigos, então a frequentar o curso complementar no liceu de Angra do Heroísmo, sob a batuta dos indefectíveis e saudosos amigos, poetas também eles, José Henrique Santos Barros e Ivone Chinita. Desse grupo de rapazes aguerridos, recordo aqui, com agrado, agradecimento e saudade, para lá do malogrado casal e do Padre Avelino Soares: o Lobão que emigrou pouco tempo depois para os Estados Unidos da América, tendo-lhe perdido o rasto, até hoje; o José Lúcio, autor da pintura constante da capa (o José Lúcio veio para Lisboa, sei que foi aluno brilhante e mais tarde professor da Escola de Arroios, vi-o uma vez ou outra em casa do Santos Barros, mas isso já foi há cerca de trinta anos. Nunca mais soube dele); o Fagundes. O Luís Fagundes Duarte tornou-se um filólogo de valor. É professor na Universidade Nova de Lisboa e exerceu vários cargos políticos, nomeadamente nos Açores, sendo actualmente Deputado da Assembleia da República. Revejo-o de longe em longe na Casa dos Açores em Lisboa. Há tempos fez-me lembrar que foi ele quem dactilografou os poemas desta pequena Antologia. Que honra! Faz-me lembrar a célebre quadra do António Aleixo, alusiva ao seu amigo professor de liceu, Dr. Joaquim Magalhães:

Não há nenhum milionário
que seja feliz como eu:
tenho como secretário
um professor do liceu.

O António Aleixo que me desculpe, mas eu tenho razões para me sentir ainda mais feliz do que ele, pois que tive como “dactilógrafo” um futuro e ilustre professor universitário.
Como diria o nosso querido Vinícius de Morais: Sarabá, amigo Fagundes!

16 Comentários:

  • Às 22 de fevereiro de 2010 às 13:38 , Blogger Maria disse...

    Querido André
    Como sabe bem, ler pedaços de uma vida rica como a tua, numa linguagem limpa, correcta, sem grandes rodriguinhos, acessivel a todos!
    Sou Cusca, sabes? Pelo-me por histórias de vidas vividas, como me pelo pelos grandes romances. A única diferença, é que as verdadeiras têm rosto, neste caso o teu, que conheço. Continua a contar. Sinto-me de novo, a pequena Maria, que ouvia vezes sem conta as histórias de família, contadas pela minha avó e o meu pai. Faz-me bem ler-te. Lava-me a alma. Procuro conhecer aqueles de quem gosto, mas às vezes, é dificil. As pessoas não são capazes de se despojarem como tu.
    Beijinhos grandes.
    Dá notícias das análises.
    Maria

     
  • Às 22 de fevereiro de 2010 às 14:21 , Blogger Espaço do João disse...

    Meu caro André.
    Como todas as mensagens que recebo em spam, vão direitinhas para o caixote do lixo sem as abrir. Agradeço que me envies novamente a tua morada, pois certamente farei chegar o dito veneno. Um abraço grande resistente.

     
  • Às 22 de fevereiro de 2010 às 19:22 , Blogger Paixão Lima disse...

    Discordo do título. A meu ver, o título adequado seria este:- Aos setenta anos, setenta anos de poesia - A Poesia é um dom que, como todos os dons, não é passível adquirir. Nasce em alguns seres humanos privilegiados no acto da própria natividade. É um sopro divino à criança que nasceu e que se revela mais tarde e constitui uma virtude rara, de excepção. Não é por acaso que ha poucos poetas. Em contrapartida ha muitos fazedores de versos que nada tendo a ver com a poesia se servem dela só para confundir o trigo com o joio. A Poesia não se aprende nem tem manuais. Não ha escola de poetas.
    Tenho sorte em ter amigos poetas, tão raros no mercado. Entre eles, é justo destacar o André Moa.

     
  • Às 22 de fevereiro de 2010 às 20:00 , Blogger Laura disse...

    Ainda bem que o Paixão não leu os meus versos sobre (aos sessenta, só se tenta! ) aquilo saiu que nem sei e...foi um riso pegado...

    Bom, amei ler, estava sentada encostada a um dos pinheiros já entradotes (como tu ehhh)e a ver as águas do rio, mansas a correr, enquanto te ouvia discorrer sobre os teus tempos, em 1955, 6 tinha eu 5 anitos, ainda não entendia lá de Poesia, mas decerto gostaria de te ver ali sentado a declamar, para mim, ora pois, alto lá, só para eu te ler, que lá os poemas podiam ser para as meninas mais jeitosas lá do lugar, nessa idade ainda não tinha paixões, acho eu...
    Adoro, sou como a Maria, deve ser por sermos ambas sagitarianas, ams histórias da vida real, contadas a preceito não é qualquer um que o faz! Sabes que mais? lamento viver longe, porque fariamos saraus de Poesia só para os mais intimos, uns fadinhos, umas cantorias e saberia tão bem a alegria de todos, mas...é longe, aqui nunca vou a nada disso, nada, só me junto com as amigas num jantar ou outro e tá feito.
    As tua manas são lindas, e os rapazes? os rapazes querem-se feiotes ehhhh..
    Abraço apertadinho da laura
    E como sempre, adoro-te, sei que és alguém com um elevado escalão na vida, mas, apenas te sinto o meu querido Moa, o meu Moinha como eu digo quando te vejo assomar à janela, mas que amor o meu!...meu querido amigo, meu irmão, meu amor, o que for, até rima!
    Abraço apertadinho.
    laurinha olhá Teresinha mai-lo rolo da massa! vá que a minha janela não tem telhados de vidro!
    laura

     
  • Às 22 de fevereiro de 2010 às 22:50 , Blogger Andre Moa disse...

    Cara Maria,
    Claro que continuarei a contar o que quero contar. Com o teu estímulo e incentivo, então, só poderei seguir em frente. Aliás, estes textos são extraídos de um livro que estou a compilar, de carácter biobibliográfico. Sois vós, amigos indefectíveis e assiduamente presentes neste blogue, que me mereceis consideração e estima, sois vós que me inspirais para que vá publicando aqui e agora, ainda que aos pedaços, o que vou ecrevendo. Faço-o com todo o prazer e em alta sintonia com o vosso sentir e o meu sentir por vós.
    Caro Paixão, se te deres ao cuidado de ir ver os primeiros capítulos desta novela, poderás ler que eu justifico o título com que tu não concordas, mas adianto que, rigorosamente, os meus tempos de poesia vêm da minha idade pré-natal. Lê e verás que concordo antecipadamente contigo. eheheheheh
    Cara Laura,
    Não temas pelas minhas costas, que me doem mais devido ao tempo que passo sentado aqui ao computador do que devido ao funcionamento do rolo da massa, instrumento de cozinha que já não vejo cá por casa há muitos anos, se é que alguma vez por cá andou. Não temas, que eu não temo, até porque quem não deve não teme.
    Amigos, como etava previsto, hoje fui fazer análises cujos resultados vou saber na próxima quarta-feira, bem como o correspondente veredicto do oncologista. Até lá, expectante, mas confiante. Como sempre.
    Abreijos.
    André Moa

     
  • Às 22 de fevereiro de 2010 às 23:22 , Blogger Branca disse...

    Olá Moa,

    Por cá estou a ler as tuas vivências por Tabuaço, uma forma de conhecer melhor uma vida tão rica quanto a tua.
    Quarta-Feira não estarei para saber se está tudo bem com os teus resultados, mas virei logo que possa, talvez ainda na Quinta-feira.
    Peço perdão pela minha ausência mais ou menos incerta dos últimos tempos. Uma medicação que ando a fazer tem-me deixado um poco sonolenta e apática, creio que agora isto está melhor, mas quando penso que tenho fôlego para passar por todos, às vezes fico por um ou dois e depois "apago-me".
    Voltarei logo que possa.
    Beijinho e muita saúde.
    Branca

     
  • Às 22 de fevereiro de 2010 às 23:37 , Anonymous Anónimo disse...

    Amigo André!

    Confesso que ás vezes
    Não consigo encontar as palavras certas
    Para poder descrever
    esta admirável escola de poetas.

    Fala-se do Douro e de d(EU)s
    entramos no CICLO EMOÇÂO.
    Chegamos aos SETENTA só SESSENTA DE POESIA
    E intervalamos com o CICLO PAIXAO.

    Beijos duplos da companhia
    L&L

     
  • Às 22 de fevereiro de 2010 às 23:58 , Anonymous DAD disse...

    Esta foto está o máximo! Que giro!
    Mas tu já parecias um homem!

    É sempre bom rever...

    Beijinho grande,

     
  • Às 23 de fevereiro de 2010 às 00:00 , Anonymous DAD disse...

    Estive a ver melhor a foto e reparei que ainda todos estão bem reconhecíveis. Isso é muito bom!

    Dorme bem!

     
  • Às 23 de fevereiro de 2010 às 00:22 , Blogger Kim disse...

    André!
    Isto não é um ciclo de paixão. Isto é já uma paixão eterna.
    Visitar-te é um compêndio na arte de não soçobrar.
    Grande abraço

     
  • Às 23 de fevereiro de 2010 às 15:29 , Blogger Je Vois La Vie en Vert disse...

    Caro Andre,

    Antes de mais nada, nao pensas que estou a errar e a esquecer-me de colocar os acentos... Nao sei que se passa com o meu teclado mas esta baralhado. So com a ajuda do meu rebento mais novo e que conseguirei, talvez voltar a escrever normalmente...passamos adiante...

    Foi bom saber mais um pouco sobre a tua vida, rica em acontecimentos, escrita, amigos e ate ao teus "subordinados".

    Amanha voltarei para saber dos resultados. Espero ja teres recebido o tal veneno do Joao...

    Beijinhos

    Verdinha

     
  • Às 23 de fevereiro de 2010 às 18:31 , Blogger Bichodeconta disse...

    Bem, a musica, os poetas Anadaluzes são de uma magia! Fecho os olhos e escuto..Magnifico, obrigada pela partilha.. Obrigada também meu amigo pela partilha desta história de vida, de amor, de coragem e pela partilha da foto. Mas preciso de saber de ti, da tua saúde amigo!Não é altura de mais exames?Deixo um beijinho na esperança de que tudo esteja como nós desejamos.O Bras manda um abraço, eu mando um beijinho e digo, tenho saudades de falar, de estar contigo..

     
  • Às 23 de fevereiro de 2010 às 19:51 , Blogger Laura disse...

    Moa, claro que já sei que esse vil instrumento de tortura, nem existe na tua casa, pois sendo assim, já há muito que as nossas janelinhas não teriam vidros! É bom saber, mas, só pelo tempo que ali passamos,(deviamos, no minimo, ser desancados pela tua cara metade) na companhia dos nossos amigos, Osvaldo, Paixão, (este Paixão já está a dar corda aos sapatos, está sempre a postos já aprendeu como funciona quase tudo, um dia passa-nos a perna sobre a maquineta e os seus artifícios...) a estrelinha e ontem o Ernesto não conseguiu entrar porque eu não tinha o email dele nos meus contactos e por mais que tentasse, não consegui. daqui nada temos de tirar os canteiros da janela e mandar alargar as juntas!...
    Beijinho, abraço apertadinho e boa sorte para amanhã quando souberes o estado do raio do lacrau de muitas pernas. laura

     
  • Às 23 de fevereiro de 2010 às 23:59 , Blogger Andre Moa disse...

    Como já é tarde e estou com os miolos a arder pelo dia de amanhã, desculpem não vos respondeer, caras Brancamar, Verdinha, Dad, L&L, Laura, amigo Kim, como mereceis e eu costumo fazer, porque gosto de vos responder, à letra.
    Abreijos.
    André Moa

     
  • Às 24 de fevereiro de 2010 às 09:13 , Blogger Laura disse...

    Pois é, e nem seguiste a receita à letra, era meia noite e pouco, tinhas falado no chat, mas eu estava a ver a novela, depois voltei e já tinhas ido, mas, aquilo eram lá horas de andar a vadiar plas janelas? Não tinhas de te recolher pelas 22?
    Eu sei, eu sei que estás a arder em pólvora, eu sei que os resultados enquanto não saem nos desestabilizam o tino, mas, aguardemos, acredito que já vais a caminho e neste momento, acompanho-te, e prometo ir a teu lado caladinha, sentirás apenas que sou uma sombra amiga, e sentirás a minha mão na tua, enquanto baixinho te sussurro; coragem meu amigo meu irmão, coragem nestas horas e em todas as que a vida nos trás, porque mesmo não sabendo os resultados, tu sabes que te tens sentido melhor, menos cansado e isso conta muito!
    E com tantos e queridos amigos a querer partir as patas ao bicho e até a cozinhá-las, sabes que vai ser assim; dias melhores se aproximam, e a vida continuará em alegria paz e amor!

    Não te largarei da minha mão
    haja o que houver
    terás sempre em ti
    o meu coração
    dê lá por onde der!

    Hoje acordei assim a modos que ternurenta, já escrevi um jornal no Kim, talvez o meu sonho desta noite me levasse a lugares melhores do que este onde vivo, enfim! vim de lá rejuvenescida e disposta a falar do que sinto cá por dentro, da ternura e do amor que tenho pelos amigos, sou eu a velha laura!
    Amo-vos minha gente.

     
  • Às 24 de fevereiro de 2010 às 14:07 , Blogger Laura disse...

    Eh, já saí, fui á Cidade ao banco Á Farmácia, apanhei uma molha nas pernas que nem te digo, cheguei, espreitei, nada, voltei agora de novo e? ou andas tu de guarda chuva pla rua a partir as pernas do rais do caranguejo só para ele não se armar em valente e!...
    Seja o que for que nos digas, seja o que for que sintas em ti, não esqueças nunca que o Futuro a Deus pertence!
    Amo-te rapaz Poeta, amo-te meu amor de amigo! Laura

     

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