CICLO EMOÇÃO
Ernesto Leandro a declamar
CICLO EMOÇÃO 2
Voltemos à poesia de Ernesto Leandro, ao ciclo emoção, que emoção é com os poetas e com os que o não são, mas sentem a poesia, a beleza, a arte, a vida, a amizade, a solidariedade, o amor.
E cá temos nós hoje um poeta a cantar outro poeta, neste caso Florbela Espanca, num poema de alto lá com ele.
Boa leitura.
André Moa
FLORBELA ESPANCA
No calor da planície alentejana
Ardeste em poesia.
Mais tarde, junto ao mar
De Vila do Conde,
Deste o coração a palpitar
Ao teu admirador italiano
No puro engano
De quem pressentia
Que a dor que te habitou,
Do berço à morte,
Não consentia
Uma entrega em alegria
Continuada,
Depois de consumada
No Tejo
A perca do teu grande amor,
A quem deras, sem pejo
E sem pudor,
O coração apaixonado
Sedento de entrega.
Morreste aí.
A morte física, depois,
Com dis, mês e ano,
Foi uma mera questão estatística.
A tua sorte foi moldada
E malfadada
Por alguém que te encrostou
O génio.
Nunca te libertaste
E tudo deste, a chorar,
Escrava obediente
Da musa impiedosa que encontraste
E nunca te deixou.
Entusiasmaste
Toda a gente que te leu,
Mas tu, indiferente,
Ao não poderes ressuscitá-lo,
Pelas tuas mãos morreste
Na tua única vitória na vida.
Ensinaste-nos
Que viver só importa
Se pela entrega incondicional
For permitida,
Até à eternidade,
A liberdade
No amor em exaltação plena.
Senão, não vale a pena.
Ernesto Leandro
Voltemos à poesia de Ernesto Leandro, ao ciclo emoção, que emoção é com os poetas e com os que o não são, mas sentem a poesia, a beleza, a arte, a vida, a amizade, a solidariedade, o amor.
E cá temos nós hoje um poeta a cantar outro poeta, neste caso Florbela Espanca, num poema de alto lá com ele.
Boa leitura.
André Moa
FLORBELA ESPANCA
No calor da planície alentejana
Ardeste em poesia.
Mais tarde, junto ao mar
De Vila do Conde,
Deste o coração a palpitar
Ao teu admirador italiano
No puro engano
De quem pressentia
Que a dor que te habitou,
Do berço à morte,
Não consentia
Uma entrega em alegria
Continuada,
Depois de consumada
No Tejo
A perca do teu grande amor,
A quem deras, sem pejo
E sem pudor,
O coração apaixonado
Sedento de entrega.
Morreste aí.
A morte física, depois,
Com dis, mês e ano,
Foi uma mera questão estatística.
A tua sorte foi moldada
E malfadada
Por alguém que te encrostou
O génio.
Nunca te libertaste
E tudo deste, a chorar,
Escrava obediente
Da musa impiedosa que encontraste
E nunca te deixou.
Entusiasmaste
Toda a gente que te leu,
Mas tu, indiferente,
Ao não poderes ressuscitá-lo,
Pelas tuas mãos morreste
Na tua única vitória na vida.
Ensinaste-nos
Que viver só importa
Se pela entrega incondicional
For permitida,
Até à eternidade,
A liberdade
No amor em exaltação plena.
Senão, não vale a pena.
Ernesto Leandro
15 Comentários:
Às 20 de fevereiro de 2010 às 21:06 , Kim disse...
Viver só importa se a vida for feita de poesia. E aqui encontro sempre duas coisas, muita vida e muita poesia. Assim vale a pena Leandro!
Abraço grande amigo André
Às 20 de fevereiro de 2010 às 21:43 , DAD disse...
Puxa eu estava mesmo muito concentrada...
O poema é muito interessante.
Beijinhos,
Às 20 de fevereiro de 2010 às 23:43 , Osvaldo disse...
Caro Ernesto Leandro;
Vale sempre a pena e por mais que insistam,...a Alma não é pequena.
Este poema, que acordaria qualquer alma endormida, sonolenta ou adormecida, certamente tocou Florbela num dos seus momentos de insatisfação literária nas margens de lagos celestes para onde ela se mudou com armas e bagagens e sem deixar endereço, depois da sua inadaptada passagem pelos montes, terras e areias deste cantinho poético algures na Terra.
Fundamentalista da perfeição literária, Florbela sentiria neste poema um alento de esperança em como ainda se poderá, através da poesia, se construir o que os insípidos teimam em destruir.
Feliz da língua que tem poetas que tratam por "tu" a sua gramático e num jogo de letras transformam o liquido em sólido poético.
Obrigado, caro Ernesto Leandro, por nos ofereceres o que de mais belo tem a nossa literatura, que é a poesia,... e que poesia!.
Um abraço.
Osvaldo
Às 20 de fevereiro de 2010 às 23:58 , Espaço do João disse...
Para o meu amigo André, apaziguar a sua vida.
Há se dEUs acreditasse
Nos conventos do amor
Sabendo que Ele amasse
Mesmo que eu me cansasse.
Sofrendo a mesma dor.
Se dEus é omnipotente
Enclausurando o AMOR
Daquele que está ausente
Mas o seu amor presente
Fresco e belo como uma flor
dEus disse, criei e multipliquei
Não sofrendo o que sofri
O que for difícil simplifiquei
O que for fácil complicarei
Não deixai para trás - sorri
Lembrei-me da Florbela
Mas disso ninguém espanta
Enclausurada numa cela
Tão humilde como ela
O amor até encanta
Vendo nascer raios de luz
Pelas grades de minha cela
pensando que a vida é bela
Não me surpreende a dor na cruz
Sabendo que carregarei com ela.
Às 21 de fevereiro de 2010 às 11:09 , Laura disse...
Florbela, a amante assumida, a mulher inebriada de amor que apenas levou coices da vida!A mulher Poeta que soube traduzir a dor e o amor, o desprezo que sentia.
Florbela, única, mas muito triste, quando me ofereceram um livro sobre ela, desisti, nem a meio cheguei, e as poesias, tristes como a morte!
Moa, ela também não acreditava na vida depois da morte, vou ver se encontro a Poesia que através de Mediunidade, li numa revista Espirita...
Sei-a quase de cor, mas sei que tenho centenas de revistas e não vou encontrá-la assim, mais para te dizer de onde saiu etc etc, mas aui fica, pela memória que tenho de a ler, gostei tanto e por vezes dou comigo a declamá-la, só para mim!
Não a encontrando onde penso estar, tinha-a numa pasta, mas aqui vai e me penitencio se não estiver correcta mas é assim que a lembro, tal e qual..a cena em que ela declama isso através d epoesia, passa-se quando ela lá do lugar onde está, se reviu morta num caixão...
Revejo novamente a minha cruz
voltam com ela todos os cansaços
quem me cortou os pulsos
doem-me os braços
e essa morta quem a trouxe
á média luz?
Tem faces de mármore
os pés nús
por onde dize lá
foram teus passos
tens olhos tristes
puros
olhos baços
Essa morta sou eu
Cristo Jesus
Ninguém tanto sofreu
num só momento
estava viva e soluçava ao vento!
Trinta anos a vaguear
quem sabe alguém me viu passar
a bater, sempre em vão
de porta em porta...
e eu era louca
tornada morta!
Um beijinho da laura.
Às 21 de fevereiro de 2010 às 12:19 , Laura disse...
Dad, estvas sim, muito interessada no que se declamava ou falava, e, estavas linda como sempre..Abraço apertadinho da laura
Às 21 de fevereiro de 2010 às 14:11 , Bichodeconta disse...
poema magnifico, parece feito prá nossa Laurinha.. Mas confesso que ando com umas saudades do versejar do Moa amigo.. COMO É QUE ENTRO PELA PORTA DAS TRASEIRAS, PRECISO DE FALAR COM O MERETÍSSIMO DE ASSUNTO SÉRIO, MAS A BRINCAR.. BEIJINHO, ELL
Às 21 de fevereiro de 2010 às 14:24 , Maria disse...
Caro Ernesto Leandro
Mais um poeta, mais um amigo, a encher a sala do nosso André.
Sem ter veleidades de lhe chegar aos calcanhares (o seu poema é lindo), atrevo-me a mandar-lhe uma coisinha feita aos pés da campa da grande Florbela. Perdoe-me o atrevimento.
Florbela
Ao nascer, lhe chamaram Florbela.
Foi poetisa insatisfeita e triste.
E ninguém soube cantar como ela,
O amor que é eterno enquanto existe.
Passou a vida numa vã procura
De um amor perfeito sem igual,
Até a busca se tornar loucura
E terminar numa manhã fatal.
Nesse dia, já farta de sofrer
Acabou com a vida que a matava
E que ela não sabia compreender.
Quem foi que te levou Soror Saudade?
Quem poderá saber quem te chamava?
Será que encontraste no fim a felicidade?
2009-06-10
Um abraço da
Maria
Às 21 de fevereiro de 2010 às 15:47 , Je Vois La Vie en Vert disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Às 21 de fevereiro de 2010 às 15:49 , Je Vois La Vie en Vert disse...
"Um poeta a cantar outro poeta" ! Lindo !
Nunca li a Florbela Espanca mas pelo que leio aqui, literatura triste, não será bem uma leitura da minha escolha. Sei, vão dizer, a cultura tem que se estender mas não peçam demais a uma estrangeira que já faz um esforço para se manter a par da cultura portuguesa.
Neste momento, estando bastante abalada pelas imagens que estou a ver sobre a catástrofe da Ilha da Madeira, não consigo encontrar mais palavras para expressar-me. Mas nunca é demais lembrar "nunca deixas para amanhã o que podes fazer hoje", o futuro é tão incerto e mesmo se apetece-me ficar no sossego em casa, vou sair para ouvir um concerto.
Beijinhos
Verdinha
Às 21 de fevereiro de 2010 às 20:14 , Laura disse...
Já agora, reparei que os dois Poetas têm barba, acho que vou ter de deixar crecer a minha, ou o bigode, vá lá senão nunca serei como vós.O Moa, barbas lindas, o Ernesto Leandro, barbas, todos elegantes nas fatiotas, assim, barba laurinha, barba...
Beijinhos mil, laura
Às 21 de fevereiro de 2010 às 22:37 , Andre Moa disse...
Laurinha, eu não sabia,
- que ignorância me acode! -
que a fonte da poesia
era a barba ou o bigode.
Se não tens pêlo na venta,
tu não te rales. Co'a breca!
A poesia rebenta
mesmo num corpo careca.
Amanhã vou fazer análises. Na quarta-feira saberei o resultado e o veredicto do oncologista. Até lá, e para satisfazer a Ell e quem já sentir saudades, vou postar mais um pouco da biobibliografia de MOI =(Moa em francês). A Laura chamou a este reservado familiar (esta zona de comentários) O CANTINHO DO POETA. Eu rectifico. Este é o CANTINHO DOS POETAS. E DAS POETISAS QUE SÃO MUITAS E BOAS.
ABREIJOS.
André Moa
Às 21 de fevereiro de 2010 às 23:13 , Espaço do João disse...
Caro André.
Isto cá para nós. vamos ter carangueijo no forno. Eu tenho um môlho especial que se chama:- "veneno do João". Se um dia se proporcionar ou se tiver a direcção da tua casa, enviu-te uma amostra pelo correio. Não há marisco que resista, podes crer. Se achares conveniênte manda-me tua direcção por e-mail e, verificarás que é verdade. < jsousa41@gmail.com > Um forte abraço Velho Lobo do Mar. Resistente de todas as tempestades.
Às 22 de fevereiro de 2010 às 00:20 , Andre Moa disse...
Caro João, se a receita é assim tão boa, pespega-a já aqui, para gáudio e proveito de todo este grupo amigo.
Obrigado pela solidriedade.
Um grande abraço.
André Moa
Às 22 de fevereiro de 2010 às 07:59 , Laura disse...
E venha lá a receita
práfogar o caranguejo
numa boa marinada
mas que não tenha poejo.
Eu cá por mim vou cozinhá-lo
em mil vinhos embebedá-lo
depois crivo-o na peneira
e ele não solta nenhum badalo.
Assim bem esmagadinho
será ainda peneirado
lavado em águas do minho
naquele tão bom 'abafado'
e cum raio ou cum caneco
temos o Moa curado
ou ao menos, melhorado
práguentar mais um tempeco!
Ó João, mas que raio, quando há algo que sirva para ajudar quem for, não se pergunta se quer a receita, avia-se logo e trás-se em mão pra que todo mundo possa ter a cura do pé prá mão!
Obrigada mermão lá dos lados do Alentejo, terra de mel e de pão , e também do desgraçado do poejo (que detesto porque nunca provei) ahhhhh..Bom, tenham um dia bom, MOa depois respondo aos teus versos, agora vou áquela rotina de tempos a tempos com a senhora dona elisa.. laura e entretanto deixo abraços a todos os que por aqui cirandam. Laura
Enviar um comentário
Subscrever Enviar feedback [Atom]
<< Página inicial