CORO DOS VELHOS DO DOURO
Neste dia dos enamorados, presto esta singela homenagem aos nossos avoengos durienses que, com suor, sacrifício, fome, sede e enamoramento, transformaram terras áridas, árduas e rudes numa região de atracção turística de âmbito mundial, erigiram o Douro Vinhateiro, hoje património da humanidade.
CORO DOS VELHOS DO DOURO
Gerados na dureza de um penedo
sob uma latada à luz da lua;
de uvas e de mosto alimentados
brincámos aos barquinhos de papel
nos estreitos regos da rua.
Cedo deixámos de brincar, que a vida
ainda imberbes nos puxou para as vindimas
para o rebusco da azeitona e da castanha
para a canga do cesto vindimeiro
encosta acima até o despejar,
úbere de mosto, dentro do lagar.
Cedo aprendemos a regar
as ressequidas cepas, a aguentar
o fio de água do Douro no estio
com o suor que o sol e a labuta
faziam saltar das nossas testas
para o chão calcinado, todo em gretas.
Casámos, fomos pais e, hoje, avós,
já nos falta a coragem para viver.
Apenas ruminamos o remorso
de não termos saído dos limites
das serras que nos cercam e nos tolhem
o voo ensaiado noite adentro,
entre o sono, a vigília e o lamento
de não termos gritado a tempo:
barco rabelo, tu não vás sem nós,
estrada, sonho, esperança, não te vás!
Agora que gritamos já nos falta a voz.
Fizemos deste rio, deste chão,
o nosso cais, a nossa foz,
o nosso pranto, o nosso caixão,
onde um dia nos havemos de deitar
a sonhar que somos barco em alto mar.
André Moa
CORO DOS VELHOS DO DOURO
Gerados na dureza de um penedo
sob uma latada à luz da lua;
de uvas e de mosto alimentados
brincámos aos barquinhos de papel
nos estreitos regos da rua.
Cedo deixámos de brincar, que a vida
ainda imberbes nos puxou para as vindimas
para o rebusco da azeitona e da castanha
para a canga do cesto vindimeiro
encosta acima até o despejar,
úbere de mosto, dentro do lagar.
Cedo aprendemos a regar
as ressequidas cepas, a aguentar
o fio de água do Douro no estio
com o suor que o sol e a labuta
faziam saltar das nossas testas
para o chão calcinado, todo em gretas.
Casámos, fomos pais e, hoje, avós,
já nos falta a coragem para viver.
Apenas ruminamos o remorso
de não termos saído dos limites
das serras que nos cercam e nos tolhem
o voo ensaiado noite adentro,
entre o sono, a vigília e o lamento
de não termos gritado a tempo:
barco rabelo, tu não vás sem nós,
estrada, sonho, esperança, não te vás!
Agora que gritamos já nos falta a voz.
Fizemos deste rio, deste chão,
o nosso cais, a nossa foz,
o nosso pranto, o nosso caixão,
onde um dia nos havemos de deitar
a sonhar que somos barco em alto mar.
André Moa
18 Comentários:
Às 15 de fevereiro de 2010 às 00:10 , Laura disse...
Que ternura de poesia
que palavras jamais faladas
sairam desse coração.
Que palavras brotando
de uma mente que sofreu
e que com a vida lutou
e nem assim ela venceu.
Os nossos pais de antigamente
é que sofreram na carne
a dureza que a vida lhes pespegou
e que com tanta dor os martirizou.
Mas, deixaram-vos um património
do qual vos podeis orgulhar
e quando por lá passardes
bem podeis a fronte, levantar.
E eu sinto-me uma felizarda
porque por vós fui levada
à terra de vossos pais
onde me senti tão amada.
Pisei socalcos e vinhas
bebi da água das fontes
comi do fruto das vinhas
dancei nas ruas à noitinha.
Enamorei-me do Douro
assim como da sua gente
vim de lá tão feliz
de coração contente.
Beijinhos ó Moa, e Parabéns por tão bela Poesia..laura
Às 15 de fevereiro de 2010 às 10:05 , Laura disse...
Não vos desejo feliz Carnaval
nem meninas envoltas apenas
em fio dental.
Pois mascarados andamos todos
a fingir que tudo vai bem
sem conseguir convencer ninguém.
É mais uma dia que passa
onde se vestem do que querem ser
pensando que na vida real vai acontecer.
desiludam-se os sonhadores como eu
que pensam que por muito sonhar
o sonho há-de voltar.
Transformado no que queremos
em tudo o que toda a vida, desejamos
oh, como por vezes nos enganamos.
Só que eu sou mais teimosa
que a teimosia e estrago-lhe os planos
e sonho sonho sempre de noite até ser dia.
E algo me impele para a frente
algo me diz que continue a sonhar
pois a vida ainda tem muito para me dar.
Sonhemos, sonhemos então
que a vida é imensidão
e se lhe juntarmos coração
teremos da vida a afeição!
Beijinho da laura num dia qualquer que por acaso até se chama Carnaval.
Às 15 de fevereiro de 2010 às 11:10 , Maria disse...
De Miguel Torga para ti, André.
DOIRO
Suor, rio, doçura.
(No princípio era o homem ...)
De cachão em cachão,
O mosto vai correndo
No seu leito de pedra.
Correndo e reflectindo
A bifronte paisagem marginal.
Correndo como corre
Um doirado caudal
De sofrimento.
Correndo, sem saber
Se avança ou se recua.
Correndo, sem correr,
O desespero nunca desagua ...
Miguel Torga
Beijinhos
Maria
Às 15 de fevereiro de 2010 às 12:49 , DAD disse...
É no sabor agreste dos penedos
Que se talharam muitos seres da poesia,
É nessas serranias agrestes,
Nessas paisagens campestres
Que nasceram trovadores
Como estes que conhecemos.
O Moa e o Paixão já embelezam o mundo,
Mostrando cá para fora,
amizade, e alegria
Aquele saber profundo,
Que embeleza o nosso mundo
Dia a dia!
Também a nossa Laurinha
Que está sempre inspirada
Merece o meu elogio,
Pois também é boa poeta
Amiga e companheira,
Com uma rima certeira
A minha poesia é mais pincéis,
Mais tintas, sombras e riscos,
Aguadas e muitas cores,
Com que enfeito as minhas telas,
Com pinceladas de amores
Conceitos e bagatelas…
E para todos desejo um dia muito feliz
Cheio de amor e carinho,
Que o tempo está tão frio
Que sequer apetece
Sair cá do nosso ninho,
Não é?
Beijinhos para todos!
Às 15 de fevereiro de 2010 às 14:06 , Maria disse...
Douro
Eu vi primeiro o Douro nas ruas da Ribeira.
As cheias, as Alminhas, as Pontes, então duas.
Vi Rabelos carregados de pipos desse oiro
Líquido e doce, vi casas e vi ruas.
Vi o Duque salvar ou arrastar
Corpos vivos e corpos já sem vida.
Vi o Douro, na Foz deixar-se abraçar,
Pelas ondas do mar numa louca corrida.
Depois subi o Douro e vi aquele verde
Todo em socalcos na alta penedia.
Vi-o manso e tranquilo no vale onde se perde,
Vi-o lançar-se louco em grande correria.
E vi os homens com o cesto às costas,
Mortos de cansaço, de fome, de calor,
Subir os montes, cavalgar encostas.
E dei aquela gente o meu amor.
Depois li Torga e entendi melhor
A amargura, a dor e, a vaidade
De ter nascido ali, para o bem e o pior,
De ser um duriense de verdade.
Para o André,
Com um beijinho da Maria
Às 15 de fevereiro de 2010 às 16:58 , Laura disse...
Querida Dad;
Quanta simplicidade
no manejo de pincéis
e quanta qualidade
descrevendo menestreis.(trovadores)
E ainda dizes
que só sabes pintar
os pincéis manejar
e riscos, rabiscar.
Não foi isso o que vi
quando agora te li
numa amálgama de sentimentos
mostrando o bem, em ti.
Consigo versejar
sendo de pouca escola
mas quando quero pintar
quase que peço esmola.
Tivesse-te aqui mais perto
na tua porta ia bater
esperançada que me desses
lições para aprender.
Pois as tuas Obras de Arte
são do melhor que já vi
são daquelas pinturas
que parecem partituras.
Onde, nem sequer me perguntes
porque não sei onde te vi
pintando o céu estrelado
e o bico de um juriti.
Como vês é só andar
as rimas poder casar
deixar correr a pena
e mais uns versos a acabar!...
Amei ler-te querida Dad, amei conhecer-te, e devagarinho as almas puras, cheias de luz, vão-se juntando, vão-se encontrando e abraçando, tornando o seu mundo e o dos outros um pouco melhor!
beijinho ternurento da, laura
Às 15 de fevereiro de 2010 às 18:11 , Paixão Lima disse...
Oh! Alma do catano! Duriense rijo e fero! Indomàvel na dureza do xisto circundante. Uma namorada a preceito, com geito e geitosa como o nosso Douro tão belo sóm para ti. Que sorte meu rapaz. Uma vénia reverente ao poeta do xisto, da uva, do lagar e do vinho fino. Poeta do Douro deslumbrante e das suas gentes sofredoras. Um abraço ao poeta André Moa.
Às 15 de fevereiro de 2010 às 19:13 , Anónimo disse...
Aqui fala-se do Douro
Da terra que transmite calma
Aqui fala-se de poetas
Que nos alimentam a alma
Aqui fala-se de "gentes"
E de campos verdejantes
De vida que acontece
Toda ela feita prece
Hoje e sempre, como dantes.
Aqui fala-se do doce madrugar
Pintalgado com magia
Aqui predomina o verbo amar
Numa corrente que contagia.
Beijos duplos
L&L
Às 15 de fevereiro de 2010 às 19:56 , Laura disse...
Luisinha da L&L;
Não é Poesia, é fado
esta cantoria que aqui deixo
saida das minhas entranhas
escutando vozes estranhas.
Aqui fala-se de amor
ouve-se o murmurar das fontes
da brisa cálida dos montes
enquanto entardece no horizonte.
Fala-se de vidas passadas
de dores trespassadas
almas desfiguradas
em lamentos de dor.
Fala-se de falas namoradas
porque o amor sempre existiu
numa terra onde o xisto é rei
e se cavaram socalcos à força, sem lei.
Terra do sol tornado oiro
onde cada um deixou enterrado
da sua alma um bocado
transformado em tesoiro.
Onde crianças ainda
faziam a vigília da madrugada
trazendo apenas no bolso
um naco de pão e uma cebola salgada.
Mas hoje ó glória das glórias
as crianças cresceram
tornaram-se homens destemidos
e deles não se ouvem gemidos.
Homens que honram o nome
de seus pais, até demais
Homens integros sempre de olhar
fixo no horizonte, duros como o xisto
Que lhes deu guarida
numa qualquer altura da vida
e hoje as crianças que já foram
voltaram ao lugar onde nasceram
E onde cresceram
sem um pai ou uma mãe
que os deram ao mundo
para que o mundo
seja deles também!...
Aos rapazes de Tabuaço, Moa, Osvaldo, António e Lima, e aos moços do grupo do GT, porque fizeram parte dele quando eu fui na caravana...conhecer a terra amada nos nossos valentes!...e por ali me perdi, feliz e contente, rodeada de gente que me fez sentir da sua gente!
Teresinha, Verdinha, Ana, Luisinha, e respectivos rapazes, aqui vos deixo meu abraço de amor, pela ternura com que me envolvem... laura
Escrevi este fado a ouvir a musica de uma fadista, cuja voz não entendia, nem era para entender, uma vez que assim consigo escrever e fazer as palavras brotar, tal e qual as quero cantar!...
Amo-vos minha gente!
Às 15 de fevereiro de 2010 às 20:39 , Laura disse...
Nina Luisinha, realmente, o amor aqui, contagia, fiquei presa à corrente que deixaste, e minhas palavras saíram, brotaram em amor, em dor!
Sabes o que estou a adorar? muito, mas muito mesmo? é que o desafio foi feito e levaste-o em conta, porque eu disse, deixa a poesia acontecer, deixas as palavras correr, sairem de ti e o resto, há-de vir. Estou a ver que já foste Poeta noutras vidas, só estás a retomar a pena nos dias de agora!
É isso que sinto que é, é daí que vem muita coisa boa para nos deliciar!
Força na pena!
laura
Às 15 de fevereiro de 2010 às 21:31 , Bichodeconta disse...
Cheguei!
Uma lágrima desliza ao sabor das palavras
Sorte ter chegado em dia de colheita
Quando parti o estio sentia-se
No som do restolho
Nas palavras que então bebi
Feliz por chegar ao lugar de partida
Onde deixei saudades despercebidas
Voltar é viver um pouco
É ler e reler alguém em cujas veias
Corre o Douro
E cujo nome é feito amor e poesia..
PS:Privilégio o de te receber em amor e em amor me poder dar a alguém que nunca esquecerei.Estive sem net, é terrivel, várias vezes pensei ligar para saber como estão, mas respeito a privacidade naturalmente.. O neto, a Teresa , D.Teresa, grande mulher, senhora se assim quizermos!A filhota que como pássaro assustado tem na vóz e no olhar as cores e os ventos da Ilha que serviu de berço.. Moa e os exames, quiçá estão mais abaixo e ainda não cheguei lá, mas estava torcendo para que tudo se vá equilibrando..Imagina que ontem, a caminho de Castelo Branco, a seguir a Constança, escrevi ao Tejo, ao meu rio. E é ao meu rio que vou postar depois destas visitas..Eu tenho saudades vossas, rever o trabalho magnifico das produções Kim foi demais.. Beijinho da Ell.
Às 15 de fevereiro de 2010 às 22:36 , Espaço do João disse...
Caro André.
Que bela homenagem ao rio Douro!!!O néctar das suas uvas transformado em remédio para as minhas amarguras, será sempre um Ex-libris do norte de Portugal.
Douro sofrido, Douro doido, Douro maltratado Douro espezinhado.
Douro compadecido,
Douro recalcado
Douro espremido
Douro doirado
Douro vinificado
Douro de rabelo transportado
Douro no mundo conhecido
Douro no mundo lembrado
Douro mal compreendido
Douro pelo Marquês lembrado
Douro pela filoxera perdido
Douro de Baco apreciado
Douro de sabor embarcado
Serás sempre conhecido
Como lágrima do meu Portugal amado.
Às 15 de fevereiro de 2010 às 23:10 , Je Vois La Vie en Vert disse...
Ao ler tão bela poesia
Retiro-me e me silencio
Para não manchar tal harmonia
A escrever versos renuncio.
Mas não quero sair sem confessar
Que ao Coro dos Velhos do Douro
Gostava imenso de a minha voz juntar
E a este desejo um futuro duradouro.
Beijinhos da
Verdinha
Bon Carnaval
Às 15 de fevereiro de 2010 às 23:43 , Kim disse...
Tantas terras eu já vi
Do Douro me encantei
Por ali te conheci
E ali eu te filmei
Foram tantos e tão poucos
Os momentos já não sei
Foram loucas foram loucos
Os momentos que passei
Um grande abraço meu amigo!
Às 16 de fevereiro de 2010 às 00:17 , Andre Moa disse...
Tantos mimos e recados!
Para bem ou para mal dos meus pecados?
Até o Torga aqui veio
Cantar o Doiro
com a sua costumada arte
com todo o aprumo.
Receio
que a sua presença hoje
tenha a ver com um puxão de orelhas
por ter ousado trazer para aqui
o coro dos velhos do Douro
e ter ignorado
o coro das velhas
das velhas mães
das eternas mártires
das velhas que ao Douro
deram tantos filhos
para em dor os ver
sofrer e morrer
para que o milagre
da transformação
do xisto em ouro
da terra em pão
viesse a acontecer.
Mestre Torga tem razão.
Velhas mães do Douro,
peço-vos perdão.
Não tardou
a remição
que poonta me chegou
nas palavras
vibrantes de emoção,
da Laura, da Maria,do Paixão
da Dad, da Luisa, da Ell e do João.
Perante tanta e tão boa poesia
que mais dizer
senão agradecer às belas musas
e aos dois musos
que nem por sombras
entre as musas são intrusos,
pois que elas e eles me concederam
este rico e inolvidável dia.
Abreijos para todos.
André Moa
Às 16 de fevereiro de 2010 às 00:28 , Andre Moa disse...
E por fim
eis a Verdinha e o Kim
que chegaram sorrateiros
enquanto aeu falava com os primeiros.
Mas chegaram bem a tempo
para engrossar o coro
dos velhos heróis do Douro
Abreijos, amigos,
deste vosso amigo
que sou d(EU)s
e que se pudesse
a todos vos daria
terra, mar e céus.
Ad(EU)s
Abreijos
André Moa
Às 17 de fevereiro de 2010 às 07:46 , Osvaldo disse...
Irmão, melhor homenagem ao nosso povo, ao bravo povo duriense, que com a força de seu caráter, com a pujança de seus braços e com a ternura da sua alma, conseguiu o milagre de transformar em doce e frutifera paisagem o que era rude e agreste,... não poderias ter feito.
É lendo destes poemas dos filhos da terra, que mais orgulhos sentimos dos feitos da nossa gente.
Um abraço,
Osvaldo
Às 17 de fevereiro de 2010 às 12:46 , Andre Moa disse...
OBRIGADO,CARO OSVALDO, MEU IRMÃO TELÚRICO, COMO EU, GRANDE APAIXONADO DE TABUAÇO E DO DOURO CIRCUNDANTE.
UM GRANDE ABRAÇO.
ANDRÉ MOA
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