UMA VIDA EM VERSOS
Susana e Pedro Miguel com dois e três anos, respectivamente, à época em que foram escritos estes poemas. Hoje têm 40 e 41. Como cresceram! E tão depressa!
AOS SETENTA SÓ SESSENTA DE POESIA - 8
ANTOLOGIA DE UM DESCONHECIDO
(edição do autor – colecção Degrau 2)
1973
CANTATA DA PAZ EM DÓ MENOR
(CONTINUAÇÃO)
6.º andamento – “andante”
“pianissimo”
- Senhor barqueiro, como vai a vida?
- Não vai, senhor, não vai. Como há-de ir?
Rio abaixo… rio acima…
Fecha a boca… aperta o cinto…
e cá vamos… morrendo.
*****
7.º andamento – “ andantino”
GUERRA E PAZ NO VIETNAME[1]
mesa quadrada
mesa redonda
mesa oval
mesa rectangular
PAZ
a estrangular
*****
8.º andamento – “allegretto”
AQUI JAZ A PAZ
a PAZ morreu há muito
fala-se em conluio para a sua exumação
aqui… ali… dia-a-dia… “floresce”
nos lábios “generosos” da metralha
algures… não sei bem onde…
longos anos permanece…
imóvel… numa urna… tipo mesa…
em exposição…
para gáudio da canalha
*****
9.º andamento – “grazioso”
SAUDADES DE MAIO[2]
este maio
é maio
mas não é
florido
maio
em
des
maio
maio
des
maiado
maio
sem
maias
flores tristes
flores velhas
de sofrimento vermelhas
de medos acizentadas
maio de
flores
desmaiadas
maio de
bocas
caladas
[1] A Guerra do Vietname foi um conflito armado que começou no ano de 1959 e terminou em 1975. Em 1964, os Estados Unidos resolveram entrar directamente no conflito. No início de 1973 começaram as negociações em Paris, tendo em vista um acordo de paz. O primeiro e “transcendental” problema levantado teve a ver com o formato da mesa de reuniões. Eis a razão deste meu epigrama, deste meu insignificante mas sentido grito de indignação, mero apontamento poético do caricato da situação. Quando o que urgia era a paz, os intervenientes levaram a discutir dias e dias, a ponto de colocarem em perigo a continuação das negociações, o formato da mesa onde se sentarem.
[2] Uma vez mais o 1.º de Maio foi silenciado. Corriam os idos dos anos do fim da década de 60. Estávamos, continuávamos, submetidos à ditadura do velho regime, ironicamente auto denominado “Estado Novo”
(CONTINUAÇÃO)
6.º andamento – “andante”
“pianissimo”
- Senhor barqueiro, como vai a vida?
- Não vai, senhor, não vai. Como há-de ir?
Rio abaixo… rio acima…
Fecha a boca… aperta o cinto…
e cá vamos… morrendo.
*****
7.º andamento – “ andantino”
GUERRA E PAZ NO VIETNAME[1]
mesa quadrada
mesa redonda
mesa oval
mesa rectangular
PAZ
a estrangular
*****
8.º andamento – “allegretto”
AQUI JAZ A PAZ
a PAZ morreu há muito
fala-se em conluio para a sua exumação
aqui… ali… dia-a-dia… “floresce”
nos lábios “generosos” da metralha
algures… não sei bem onde…
longos anos permanece…
imóvel… numa urna… tipo mesa…
em exposição…
para gáudio da canalha
*****
9.º andamento – “grazioso”
SAUDADES DE MAIO[2]
este maio
é maio
mas não é
florido
maio
em
des
maio
maio
des
maiado
maio
sem
maias
flores tristes
flores velhas
de sofrimento vermelhas
de medos acizentadas
maio de
flores
desmaiadas
maio de
bocas
caladas
[1] A Guerra do Vietname foi um conflito armado que começou no ano de 1959 e terminou em 1975. Em 1964, os Estados Unidos resolveram entrar directamente no conflito. No início de 1973 começaram as negociações em Paris, tendo em vista um acordo de paz. O primeiro e “transcendental” problema levantado teve a ver com o formato da mesa de reuniões. Eis a razão deste meu epigrama, deste meu insignificante mas sentido grito de indignação, mero apontamento poético do caricato da situação. Quando o que urgia era a paz, os intervenientes levaram a discutir dias e dias, a ponto de colocarem em perigo a continuação das negociações, o formato da mesa onde se sentarem.
[2] Uma vez mais o 1.º de Maio foi silenciado. Corriam os idos dos anos do fim da década de 60. Estávamos, continuávamos, submetidos à ditadura do velho regime, ironicamente auto denominado “Estado Novo”
11 Comentários:
Às 19 de março de 2010 às 22:50 , Kim disse...
Meu amigo André!
Enquanto os dirigentes se preocupavam com as mesas redondas ou quadradas, o napalm continuava a fazer das suas.
Enquanto, as pequenas questões se sobrepuserem a outros interesses mais importantes, o homem continuará sempre a olhar para o seu umbigo.
QUEM DIRIA QUE ESTA MENINA É A TUA SUSANA.
Grande abraço amigo
Às 19 de março de 2010 às 23:10 , Laura disse...
Ehhh o teu neto é muito parecido com o tio e contigo, tal e qual, que nina linda a Susana, ah, como o tempo voa!
As guerras hão-de continuar os homens precisam de dinheiro para esbanjar, porque se só precisassem dele para viver, chegava para todos viveremos dignamente...
Aquele abraço da laura
Às 19 de março de 2010 às 23:19 , Paixão Lima disse...
André Moa, grande fotógrafo!
Desta vez ultrapassaste as melhores expectativas. O teu post está uma maravilha. Logo hoje, no dia dos pais babados, expões as fotografias dos teus filhos quando pequenos, hoje já grandotes. Deverias ter colocado também a fotografia do teu neto ou netos, para completar a santíssima trindade. A miúda Susana sai mesmo ao Pai. Por acaso ela não é farmacêutica?
Quanto ao resto, comentarei amanhã para não prolongar o comentário. Isto, porque o tema é apetecível e motivador. O teu lindo poema e a reflexão política, são de gritos. O formato da mesa da paz então, nem se fala. Também recordo esse episódio caricato.
Até amanhã, caríssimo André.
Um abraço.
Às 19 de março de 2010 às 23:23 , Anónimo disse...
Amigo André!
As coisas boas da nossa vida, têm sempre um período curto, por estarem sujeitas ao ciclo evolutivo. Mas quando abrimos o baú das memórias coisas extraordinárias e felizes por vezes recordamos, tal como esta fotografia.
Os poemas são muito interessantes, mas falar de Guerra e paz, é como teimar falar de palavras cansadas de permanecerem palavras...
Houve uma terra que era tão bela
Onde diariamente o sol nascia a brilhar
Os pássaros no céu azul voavam
O povo nos campos de arroz trabalhava a cantar
Mas certo dia, tudo acabou...
Pois a guerra a essa terra chegou.
A meu ver toda a guerra é burra
Atrasa as mentes, mata, destroi, não dá para entender.
Todo o homem que se veste de soldado, não precisa de uma razão para lutar
E sim uma bandeira para defender.
A paz cada vez mais se confirma como necessidade da humanidade, a guerra é uma necessidade anti-humanidade, que teima em continuar.
Mas, se é paz que procuramos
No mês de Maio a encontraremos.
Maio de todos os prazeres
És mar, sol e primavera
És perfume, poesia e quimera
Maio, palavra curta
de conteúdo imenso
Mês das flores e de fé
Oração, milagres e incenso.
Floresce Maio agora
Nesta hora de bandeiras caídas no chão
Esperanças desfraldadas no tempo de outrora
E traz de novo a força que sonhámos ter dentro da mão.
Um beijinho Duplo
L&L
Às 20 de março de 2010 às 01:09 , Paixão Lima disse...
Como não tenho sono e porque, não deixes para amanhã o que podes fazer hoje, vou antecipar o comentário prometido.
O início do poema, faz lembrar, remotamente, o Auto da Barca do nosso amigo Gil. Poema precursor da Revolução de Abril, logo um poema revolucionário. Um poema heróico e dos tempos heróicos. Coragem não te faltava Irmão, mas juízo, isso sim, faltava-te. Como não fostes parar a Peniche dá graças a d(EU)s, isto é, a ti próprio.
Ao fazer-se a paz no Vietname, independente do formato da mesa, acabou-se apenas com uma guerra. Logo três começaram, pelo menos. As guerras perpetuam-se no tempo. Fazem parte do nosso A.D.N., da nossa própria natureza. Como inventamos a guerra, entretemo-nos a fazê-la. Olha o que se passa agora com o Iraque, Afeganistão, etc.etc.
Quanto ao 1º. de Maio, o Maio do nosso descontentamento, também levei muita porrada. Mas nesse tempo eu tinha as costas largas.
Mas nunca é demais relembrar esses tempos negros da ditadura, quanto mais não seja para refrescar a memória da nova geração que não fazendo ideia tem tendência a desvalorizar o que se passou.
Um bravo, ao bravo combatente.
Às 20 de março de 2010 às 10:27 , Maria disse...
A palavra Guerra é feia, pior que palavrão.
Belo poema, querido amigo. Linda a foto. Porque será que os filhos crescem tão depressa? É tão bom quando são pequeninos e nós tentamos que nada lhes faça mal... Depois, os anos passam e nós ficamos a vê-los viver, sem poder evitar que a vida os magoe.
Beijinhos e que a Paz volte um dia, no que cada vez acredito menos.
Maria
Às 20 de março de 2010 às 14:50 , Osvaldo disse...
Caro irmão;
Melhor que todos os poemas, melhor que todas as crónicas e das guerras já nem falo, o melhor de tudo neste post é ver as carinhas larocas da Susana e do Pedro Miguel.
Se a Susana à muito que faz parte da nossa familia. o Pedro Miguel ainda não conhecemos, mas certamente não faltará muito para isso e claro, então, fará parte da familia a tempo e corpo inteiro!...
Um abraço caro irmão e bjs para todos,
da Ana e Osvaldo
Às 20 de março de 2010 às 17:16 , Laura disse...
Essa foto levou a que lembrasse dos meus ninos a Neide 5 anos mais nova que o Nuno e na ternura e cumplicidade que sempre houve entre os dois e mesmo agora ela com 26 e ele quase 31, são os melhores amigos da vida, são os filhos mais leais que tenho...É lindo o amor que sentimos por eles, ou não sejam eles carne da nossa carne, sangue do nosso sangue! Enfim é o Amor na sua plenitude.
Grande abraço ao clã Moa, e felicidade sem fim pela vida fora. Laura
Às 20 de março de 2010 às 17:19 , Unknown disse...
Andrezito
Não te conheço, infelizmente, mas de tudo o que tenho lido e ouvido a teu propósito TENS de ser um gajo PORREIRAÇO!!!... E estes versos são mais uma achega.
Regressados, a Raquel e eu, de 50 dias inolvidáveis em Goa & outras Índias, estou a publicar, saudosíssimo, apontamentos da viagem. Dizem os goeses, incluindo a Raquel, que eu sou mais goês do que eles. Concordo. Se quiseres ir ao Travessa e deixar cumentários com o, agradeço
Abs
Às 20 de março de 2010 às 21:46 , DAD disse...
Querido Moa,
Fiquei comovida com este post pois para além do que li, a foto é muito linda! Que parecido que o teu neto é com o teu filho!
Beijinho grande,
Às 21 de março de 2010 às 00:03 , Je Vois La Vie en Vert disse...
Que linda foto ! Realmente há muitas parecenças !
Depois de regressar da Bélgica hoje à noite, passei para te deixar um beijinho, bem como a todos os teus familiares e amigos.
Verdinha
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