SEJAM MUITO BEM VINDOS A ESTE BLOG!--------ENA!-- TANTOS LEITORES DO MEU BLOG QUASE DIÁRIO! ---ESTA FOTO É UMA VISTA AÉREA DA MINHA TERRA,-TABUAÇO! UM ABRAÇO PARA CADA UM DE VÓS! -ANDRÉ MOA-

segunda-feira, 29 de março de 2010

UMA VIDA EM VERSOS

Um maestro falhado e a sua banda de palmo e meio

AOS SETENTA SÓ SESSENTA DE POESIA – 9

ANTOLOGIA DE UM DESCONHECIDO

(edição do autor – colecção Degrau 2)

1973

CANTATA DA PAZ EM DÓ MENOR
(CONTINUAÇÃO)


10.º andamento – “allegro con fuoco”
“mezzo forte”

se os pássaros fossem burgueses,
que de música?

os pássaros são operários
são do povo
os pássaros cantam

se as flores fossem
pertença exclusiva dos solares,
que de beleza?

as flores entram e sorriem
na casa de toda a gente
mesmo nos casebres mais pobres…
vale a pena cultivá-las

*****
11.º andamento – “poco mosso”

Caim… Caim… Caim…
SÉCULO XX

não nasceu de adão:
a mãe não gosta de maçãs

vomita sem lamento
ódio esterilizado

afoga-se em pensamentos
de liquidação

ninguém lhe conheceu ama
nem sabe como se chama

abel não é:
nunca bebeu leite de ovelha
que é puro
é leite virgem
e sabe a primavera

*****
12.º andamento – “allegro ma non tropo”
“forte”

ALJUBRE

cantou nos bosques
construiu ninhos
sonhou mares
rasgou céus
o pássaro dorido na gaiola

a terra toda céus e mares
já foram seus

agora dão-lhe gotas de água
por esmola

13.º andamento – “presto”

CARTA TESTAMENTO

da cela do medo
amor
escrevo
amor
te escrevo
ainda vivo

por baixo deste corpo dolorido
ainda canto
ainda grito
exangue entoo
em silêncio penso
proclamo
e digo
JUSTIÇA
LIBERDADE
PAZ
……………………….
recebe e dá
beijos meus
abraços destes
ao nosso rapaz

só assim poderei morrer
em paz


14.º andamento – “prestíssimo”

CHAMPAGNE PARA A MESA DA FOME

champagne para a mesa do lado
a mesa dois terços
a mesa do canto
a mesa do chão
a mesa do cantochão da fome

champagne em forma de pão
…………………………………
sai ou não?

14 Comentários:

  • Às 29 de março de 2010 às 22:16 , Blogger Espaço do João disse...

    Meu caro André.
    Já faz tempo que não passo or cá. Tenho andado numa roda viva , pois nesta época há muito que fazer e, enquanto não me faltar as forças, vou tentar. Para mim o hoje já passou, espero que o amanhã chegue com o sol a brilhar , pois o quintal est´+a numa miséria e, è preciso dar ao dedo para que ele fique com a cara lavada e perfumada. Espero que a tua saúde também te ajude até amanhã, pois mais vale pedir dia a dia do que pedir longos anos. Recebe aquele abraço de pura amizade do João.

     
  • Às 29 de março de 2010 às 22:20 , Blogger Kim disse...

    Ó André, isto são andamentos a mais cá para o pessoal!
    A tua banda parece afinadinha. E tu pareces um maestro a sério. Muito bem! Gostei, principalmente do champanhe com pão!

     
  • Às 29 de março de 2010 às 23:20 , Blogger Osvaldo disse...

    Caro maestro;

    Siga a banda e toque a mesma!...

    Soltem os foguetes que acaba de chegar a banda de Salzedas pro Fundo e a de São Mamede de Ribatua para o Cimo!.
    E depois do baile, começam as Marchas e as meninas do Fundo (ralés) com seu traje Azul Celeste e borduras pretas desfilam garbosamente pela Avenida, sobem a rua da Relva até ao Calvário e descem a 1° de Dezembro até à Praça 5 de Outubro, onde um último arranque da Banda de Salzedas acorda todos os Santos da Igreja e em seguida retomam o Quartel General na Avenida...
    De seguida, é a vez das meninas burguesas do Cimo (escaravelhos) desfilarem brilhantemente com seus trajes Vermelho Vivo (à Benfica?) e bordura preta, bordados com motivos minhotos, descerem até à Avenida e mostrarem à gandaia, quem sabe rodar a saia. É um espetáculo e os balões com cheiros a naftalina lá vão queimando as pontas dos cabelos de alguns, mas a Marcha continua!... O Rancho vai à frente seguido pela Banda de São Mamede e o povo de Cima vai logo atrás... Estou a ver os Silvas (Edmundo & Co), os Machado, os Leandro, os Trones, o Manel Delfin e a Generosa, o Osório, os Gonçalves, os Aristides, os Barradas, os Geremias, os Ferrador (Marechal Ferrand), os Amaral, os Serrão, os Faias com a Maria Faia sempre bairrista, os Caçoilas, a Maria do Forno, os Carecas (a Madalena e a tia Julia na frente), seguidos da estudantes do Externato e as costureirinhas do Porto que não perdiam um São João no Cimo de Vila!...

    caro irmão,... vê lá o que foi que a tua Banda me recordou!...
    Só citei as familias do Cima, porque as do Fundo deixo pra ti.
    Que grande filme não daria esta história!!!.

    Ps. Os amigos desculpem mas este comentário, um pouco à margem, só será bem interpretado pelo Moa, Paixão, Ernesto e alguns veteranos da Guerra do São João.

    Um abraço irmão e vê lá, não chores, tá!.
    Osvaldo

     
  • Às 29 de março de 2010 às 23:48 , Blogger Paixão Lima disse...

    Caro André Moa,
    A fotografia está um encanto. Espero que não tenhas estado a ensinar aos miúdos o canto gregoriano. Afinal, vendo bem, a lição era de flauta ou de pífaro?! Lembras-te dos pífaros de barro da nossa infância e que se vendiam nas romarias? Que saudades eu tenho, do pífaro. O teu poema tem espírito e é espirituoso (pelo champanhe). Naquele tempo eras o Che Guevara da poesia. Ainda hoje não entendo porque não foste preso. Fenómeno que só tem uma explicação. A ditadura, pressentindo o fim, já andava distraída.
    O poema acaba muito bem. No fim. Quero dizer. Com uma pergunta sempre actual e que, ainda hoje, não obteve resposta:

    «CHAMPANHE EM FORMA DE PÃO SAI OU NÃO?»
    (Que responda quem souber)

    Um abraço.

     
  • Às 30 de março de 2010 às 00:47 , Blogger Paixão Lima disse...

    A narrativa do Osvaldo, traduz, com realismo, o que se passava em Tabuaço nas festividades do S. João. A rivalidade entre a «ralé», o Fundo de Vila (os azuis) e os «escaravelhos», o Cimo de Vila (os vermelhos), era mais violenta que o Porto-benfica ou Sporting-benfica. Não era só rivalidade verbal. No meio das bandas de música, das marchas luminosas, dos ranchos e do foguetório, por vezes estabelecia-se a confusão e então passávamos a vias de facto. Era cacetada bravia. No rescaldo e no calor da refrega, havia sangue vertido e muita cabeça partida. Eu pertencia e pertenço à «ralé», o Fundo de Vila. Mas regozijo-me com o balanço final positivo. Foram mais as vitórias que as derrotas. Quero dizer, que dei mais porrada que aquela que levei. Como bravo combatente, ainda hoje ostento com orgulho, umas tantas cicatrizes daquelas guerras gloriosas que acabaram com a vitória indiscutível do Fundo de Vila.
    Agradeço ao Osvaldo o seu testemunho, a memória dos factos e o seu poder narrativo.
    Um grande abraço Osvaldo e parabéns por teres sobrevivido à guerra.

     
  • Às 30 de março de 2010 às 17:04 , Blogger Maria disse...

    Querido André
    Lindos os poemas. Continua.
    Como te sentes?
    Dá notícias.
    Beijinhos
    Maria

     
  • Às 30 de março de 2010 às 20:58 , Blogger Laura disse...

    Andamentos, cantos, travagens, alto lá...

    Para começar, o mais belo e apetecido Maestro que conheço, já que a banda está participativa e feliz a imitar o Mestre!...

    Os pássaros são do Povo, logo, todo o Povo é um pássaro que tem o direito de cantar quando a vida é diferente do que sonhamos...

    Caim Caim, quem é quem e o Abel, ah, personagens que farão parte da História sem ser a Biblia!...

    A justiça, liberdade e paz, vão demorar porque o home não ajuda o suficiente, parece que se passaram todos para o lado oposto, mas, deixa lá, a verdade chegará cá um dia nem muito distante...e a verdadeira Justiça e Liberdade, Paz, serão uma realidade...

    bem diz o paixão, tiveste sorte a mais e nem mais!...

    de resto só tu entendes do que falas mas champanhe na mesa do pobre quando tem fome? ah...

    Tu devias ser um tenor Italiano na outra vida, só pode...as cantatas, sonatas...
    beijinhos mil da pariga de longe que te adora..laura

     
  • Às 30 de março de 2010 às 22:25 , Blogger Je Vois La Vie en Vert disse...

    Caro amigo André,

    Vejo-te lindamente neste papel de maestro dirigindo uma verdadeira orquestra e compondo esta bela sinfonia de palavras !

    Beijinhos

    Verdinha

     
  • Às 30 de março de 2010 às 23:48 , Blogger Andre Moa disse...

    Caros amigos,
    Ontem lá fui fazer a TAC tripla. Para lá da xaropada preparatória, da bexiga pejada de água, do jejum até às duas da tarde, etc, etc, etc, tudo correu às mil maravilhas. Os resultados só os irei receber no próximo dia 15 de Abril, bem como o veredicto do oncologista. Tenho já consulta marcada para esse dia. Até lá, muita esperança, muita confiança e muita amizade por todos vós.

    Caro João,
    é como dizes: viver o dia-a-dia o melhor possível, que o ontem já passou e o amanhã mão existe. Carpe Diem, já diziam os romanos. Gozemos pois o dia que passa. Saúde e sol. Quanto mais não seja, o sol da amizade.

    Caro Kim,

    Serão andamentos a mais, mas ainda vai haver mais alguns, já que cada poema do primeiro livro da Antologia de um desconhecido - Cantata da paz em dó menor - corresponde a um andamento. Ou é cantata ou não é cantata.

    Caro irmão Osvaldo,

    "Siga a rusga, siga a rusga, siga a rusga sem cessar, ....cada qual com o seu par..." Isto cantavam os do fundo de vila (a ralé). Eu sempre fui do fundo de vila, onde nasci, apesar de me ter mudado para a casa da rua dos quintais que fica no cimo de vila, ainda não tinha dois anos. Mas como nasci no fundo e toda a minha família era do fundo, à excepção dos meus irmãos que já nasceram todos no cimo d vila, eu também fui sempre do fundo. No São João é que a malta do cimo me escurraçava. Mas nem era preciso, que eu ia sempre para a festa do fundo e só de passagem, porque era a dois passos de minha casa é que eu passava pela festinha do cima. eheheheeh! Estes bairrismos! Estou como o Paixão. a tua descrição é bem real e viva. Fizeste-me recordar esses bons velhos tempos. Bem-hajas.

    Caro irmão Paixão,

    Boa descrição a tua. Tu e o Osvaldo fizeram-me reviver até ao pormenor muitos e muitos dos folguedos joaninos da nosaa infância e juventude. Deixa lá, que também apanhei muitas. A minha cabeça chegou a parecer um mapa mundo em alto relevo.
    Se me lembro dos pífaros? Claro que sim. Dos pífaros, dos assobios de barro que custavam cinco tostões, das flautas que custavam dez tostões e das gaitas de cana e papel de seda que não custavam nada porque cada um fazia a sua, com que formávamos autênticas bandas e percorríamos as ruas da Vila em alegre convívio. aliás, vem-me daí a grande apetência pela música. E foi a recordar isso, por certo, que me armei em maestro da miudagem, como esta foto retrata, forma expedita de entreter a garotada, num dia de anos do meu filho Pedro Miguel.

    Cara Maria,

    Esta seca, digo saga, é mesmo para continuar. Como estou a antologiar a minha poesia toda, vou-a trasladando para aqui. É uma forma de melhor me dar a conhecer a vós, caros amigos, e de tentar compensar-vos como sei pela vossa amizade, a vossa solidariedade, a vossa paciência para me aturarem, tirando-vos a paciência com tanta poesia. eheheheheh.

    Cara Laura,

    Com tão rasgados elogios, já nem me sinto um maestro falhado. eheheheheh. Como poeta é que me sisnto frustrado, ao ouvir-te dizer (escrever): «de resto só tu entendes do que falas». Quer dizer que não me faço entender, não é? Já agora, um esclarecimento:eu não peço champanhe para a mesa do pobre com fome, mas champanhe em forma de pão. É uma forma irónica de reclamar pão para quem o não tem. Não deve ler-se à letra este poema, mas como linguagem metafórica e ao mesmo tempo satírica. Senão, lá me dás cabo do poema. ehehehehe.

    Cara Verdinha,

    Mas que síntese tão perfeita e tão elogiosa!

    Abreijos
    André Moa

     
  • Às 31 de março de 2010 às 00:22 , Blogger Laura disse...

    Moa, é em parte isso, entendo sem entender que falas de algo do passado que não tinha justiça nem verdade nem igualdade, é apenas isso...e foi isso que pensei, pão em vez de champanhe se nem o pão havia...

    Não te dou cabo de poema nenhum,. longe de mim, mas se falarmos sobre isso entendia melhor ehhhhhh, e dei conta que é meia noite e dezanove e o menino maestro ainda canta de galo nas janelas do chat...

    Felizes novas nos aguardem a todos quando o médico se decidir a dar as noticias que todos esperamos, melhor não poderia haver...vamos lá...

    aquele sempre abraço apertadinho da laura

     
  • Às 31 de março de 2010 às 09:54 , Blogger Maria disse...

    Meu querido André
    Ainda bem que vais passar toda a tua poesia para aqui.
    Os exames estão feitos, agora é esperar o dia 15, sem pensar neles. Eu só dia 26, irei fazer novos exames. Lá terá que ser. Os nossos barcos irão chegar ao porto, espero que sem grandes sobressaltos. Até lá, iremos falando de outras coisas.
    Beijinhos muito solidários da
    Maria

     
  • Às 31 de março de 2010 às 13:28 , Blogger Bichodeconta disse...

    Olá meu amigo, vou aguardar o dia quinze com esperança renovada.. Tenho seguido os teus escritos embora não deixe rasto..Tenho saudades de vos ver e deixo aqui o desejo de Feliz Páscoa, porque felizes desejo todos os vossos dias.. Importante é que tudo se vá recompondo, infelizmente os exames e consultas levam o seu tempo.. Sejamos serenos e esperançosos..Abreijos, Ell

     
  • Às 31 de março de 2010 às 16:18 , Blogger Laura disse...

    E falando em consultas; menina Ell, como vai o borracho do seu médico >Romeu< será que devia marcar uma consulta pra mim que sofro tanto do coração só de ouvir que há por aí um Romeu tão sózinho lindo e carente? é que! quem sabeeeeeeee..tenho de vos ir visitar e claro só no dia da consulta.
    A menina faça favor de se manter mais presente por aqui... deixe os ovos no ninho os morangos amadurecer, a fruta verde faz mal...
    Um beijinho Ell, Moa, hoje teve de ser assim...consultas agora para mim só no Dr Romeu!...
    aquele abraço da laura

     
  • Às 31 de março de 2010 às 19:46 , Blogger Andre Moa disse...

    Está bem, Julieta. eheheh.
    Feliz Páscoa, cara Ell. Bem-hajas pelas palavras carinhosas e confiantes.
    Cara Maria,
    força e confiança é connosco, não é verdade? Vai tudo correr como desejamos. Até lá, alegria pascal, que é o que está a dar, o que vem mesmo a calhar, dado o calendário por que nos regemos e que nos guia desde pequeninos, que é a idade em que se torcem os pepinos. Nós é que "degenerámos" et pour cause, ficámos no antes quebrar que torcer.

    Abreijos
    André Moa

     

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Que cantan los poetas andaluces de ahora...