CICLO EMOÇÃO
na foto: rio Douro e quintas de Adorigo-Tabuaço, terra natal da mãe do Ernesto Leandro
A MINHA MÃE
Minha querida Mãe:
Na mesa-de-cabeceira,
Bem à minha beira,
Um jarro de flores
E o teu retrato
De mulher quando jovem.
Entrego-te as minhas dores
Com o recato
Que me ensinaste tão bem!
De manhã e à noite.
Tu vês-me, com certeza,
Na tua inefável beleza
Com olhos iguais aos meus;
Falo contigo calado,
Limpo o vidro embaciado,
Crendo que estás com Deus!
Tu bem sabes, minha Mãe,
Que na vida sou " Pedro Sem",
Que ela foi sempre madrasta;
Sinto que sofres por mim,
Porque acreditas que é assim
Essa solidariedade me basta;
Aprendi a descodificar
O teu silêncio, a decifrar
Tudo o que tens para dizer!
Os meus irmãos? Estão bem,
Mas com saudades também,
E o Pai que está a fazer?
Junto de ti, certamente,
Quando foste, andou ausente
Longe de todos, a sofrer;
Não tardará que nos vejamos
Para revelarmos o que, agora, calamos,
E ficaremos juntos, quero crer!
Entretanto, Mãe, fala comigo,
Que o teu filho é um poeta em perigo,
Que sê-lo-á até ao fim;
Se não puderes falar, deixa, Mãe,
Pede por mim, saberás a quem
Do mesmo jeito quando eu menino...
Desiludido,
Conto contigo,
Que sejas a dona do meu destino!
Minha Santa, fica bem,
Beija meu Pai, minha Mãe!
Ernesto Leandro
A MINHA MÃE
Minha querida Mãe:
Na mesa-de-cabeceira,
Bem à minha beira,
Um jarro de flores
E o teu retrato
De mulher quando jovem.
Entrego-te as minhas dores
Com o recato
Que me ensinaste tão bem!
De manhã e à noite.
Tu vês-me, com certeza,
Na tua inefável beleza
Com olhos iguais aos meus;
Falo contigo calado,
Limpo o vidro embaciado,
Crendo que estás com Deus!
Tu bem sabes, minha Mãe,
Que na vida sou " Pedro Sem",
Que ela foi sempre madrasta;
Sinto que sofres por mim,
Porque acreditas que é assim
Essa solidariedade me basta;
Aprendi a descodificar
O teu silêncio, a decifrar
Tudo o que tens para dizer!
Os meus irmãos? Estão bem,
Mas com saudades também,
E o Pai que está a fazer?
Junto de ti, certamente,
Quando foste, andou ausente
Longe de todos, a sofrer;
Não tardará que nos vejamos
Para revelarmos o que, agora, calamos,
E ficaremos juntos, quero crer!
Entretanto, Mãe, fala comigo,
Que o teu filho é um poeta em perigo,
Que sê-lo-á até ao fim;
Se não puderes falar, deixa, Mãe,
Pede por mim, saberás a quem
Do mesmo jeito quando eu menino...
Desiludido,
Conto contigo,
Que sejas a dona do meu destino!
Minha Santa, fica bem,
Beija meu Pai, minha Mãe!
Ernesto Leandro
8 Comentários:
Às 2 de abril de 2010 às 22:13 , Paixão Lima disse...
Conheço três belos poemas sobre a MÃE. Como o tema é inspirador, para os que possuem o dom de traduzir em verso os seus sentimentos sofridos e atormentados, é provável a existência de mais poemas sobre a MÃE. Eu não conheço. Os três poemas são os de Torga, Junqueiro e Leandro.
Torga, sublima o sentimento irreparável da perda da Mãe, na presença da própria Mãe sem vida. Junqueiro, releva o sentimento de saudade, que um filho sente por sua Mãe já falecida. É o retorno ao passado. Já Leandro, fala com a Mãe. Faz perguntas ao ente querido e obtém respostas. É um diálogo amoroso que se vive intensamente. O poeta recusa a morte da Mãe, já que a sente viva. Dos três poemas, o de Leandro é o mais original.
Parabéns ao grande poeta.
Às 3 de abril de 2010 às 09:12 , Maria disse...
O retrato da minha, está junto ao de meu pai e outros mortos queridos, em frente à minha cama. São a primeira coisa que vejo assim que acordo, e os últimos que vejo antes de adormecer.
Gostei muito do seu poema, como sempre.
Obrigada por esta linda partilha.
Boa Páscoa
Maria
Às 3 de abril de 2010 às 14:48 , Laura disse...
Ernesto, é isso, ela está á espera, mal chegues á Jerusalém da vida, ela estará lá em prece, por ti
recolhida!... esperandoa quele terno abraço que só uma mãe pode dar.
Dizem que mãe
há só uma
a que nos trás ao mundo
e as outras mesmo que sejam mães
não deixam cá dentro
amor tão profundo...
Claro que quando chegar a hora
vamos todos ficar juntos
naquele amor que no ventre
se gerou
feliz do filho
que a mãe sempre amou.
Há doçura na espera
e no tempo que parece
não passar
mas o amor não arrefece
nem o pranto emudece
enquanto nossa mãe
não pudermos abraçar.
Creio
creio que nesse dia
as estrelas deixarão de brilhar
ao ver o encontro
entre uma mãe e um filho
a Luz de Deus a abençoar!...
Beijinhoe abraço apertadinho, está belissimo, como sempre, laura
Às 3 de abril de 2010 às 16:05 , Andre Moa disse...
Associo à tua saudade de filho a minha saudade à tua mãe, a minha mãe cultural. Tu bem sabes, caro irmão Ernesto, quanto admiro e estremeço a tua e minha mãe Amália. Alegremo-nos e rejubilemos em sua memória, nesta saudade que em nós ressuscita, se renova, em cada dia do nosso viver.
Um abraço
André Moa
Às 3 de abril de 2010 às 22:01 , Dad disse...
Meus queridos Amigos,
Gostei de tudo o que li e venho desejar-vos uma boa Páscoa!
Beijinhos grandes para o meu amigo André Moa e para os "seus irmãos" todos!
Às 3 de abril de 2010 às 23:23 , Branca disse...
Querido amigo,
Este poema é uma emoção e traduz um amor único.
Venho deixar-te um grande abraço e mil beijinhos.
E como compreendo o teu sentido de religiosidade na não religiosidade, penso que gostarás do texto que tenho no meu sítio e do comnetário de uma amiga brasileira, que tem um outro mais realista, porque o amor só o pode ser em acção, tal como Jesus o queria e por isso foi condenado.
Deixo-te votos de uma lucidez sempre actuante, como é a tua e de dias de renascimento para todos os dias.
Muita saúde, boa Páscoa.
Beijos
Branca
Às 4 de abril de 2010 às 00:17 , Je Vois La Vie en Vert disse...
Caro Ernesto,
Quando falamos da nossa mãe, sentimos sempre muito emoção e tu conseguiste traduzí-la em palavras. Parabéns pelo lindo poema.
Uma feliz Páscoa !
Amigo André,
Desejo-te uma Feliz Páscoa com muitas amêndoas ou ovos ou coelhos de chocolate !
Beijinhos da Verdinha
Às 4 de abril de 2010 às 10:16 , Espaço do João disse...
Meu caro André
Espero que tua saúde esteja em melhoras rápidas. Sinto que não devia deixar passar este dia sem dar-te um grande abraço e que possas fazer a tua vida o melhor possível. Para ti e para todos aqueles que a vida lhes proporcionou muitas tritesas, um solidário abraço do João.
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