UMA VIDA EM VERSOS
POEMACÃO
quando a todos for dado o seu quinhão
abaixo o poemacão
de novo os poetas serão
animadores de salão
mas por ora não
ão
ão
ão
p ão
p ão
p ão
pão ão-ão ão
pão ão-ão ão
pão ão-ão ão
PELA FUGA SE DESCOBREM
no tempo poema/modo
de ser estar permanecer
o apoeta dorme
ou passa ao largo
do compromisso
e o crime é pior
o que era sono
passa
a impudor
traição
abandono
HÁ ÍNDIOS E ÍNDIOS
antigamente eram os índios
eram os índios coleccionadores
de escalpos escalpelos
crânios e cabelos
artistas em êxtase
montados em capachos
a contemplar troféus
esses índios eram
circunscritos
limitados no tempo e no espaço
não cometeram feitos
não proclamaram fastos
digamos ruidosos
para subir ao palco da história
mas ficaram na história
esses índios de outrora
para biombo muralha
dos índios modernos
dos gringos de agora
quando a todos for dado o seu quinhão
abaixo o poemacão
de novo os poetas serão
animadores de salão
mas por ora não
ão
ão
ão
p ão
p ão
p ão
pão ão-ão ão
pão ão-ão ão
pão ão-ão ão
PELA FUGA SE DESCOBREM
no tempo poema/modo
de ser estar permanecer
o apoeta dorme
ou passa ao largo
do compromisso
e o crime é pior
o que era sono
passa
a impudor
traição
abandono
HÁ ÍNDIOS E ÍNDIOS
antigamente eram os índios
eram os índios coleccionadores
de escalpos escalpelos
crânios e cabelos
artistas em êxtase
montados em capachos
a contemplar troféus
esses índios eram
circunscritos
limitados no tempo e no espaço
não cometeram feitos
não proclamaram fastos
digamos ruidosos
para subir ao palco da história
mas ficaram na história
esses índios de outrora
para biombo muralha
dos índios modernos
dos gringos de agora
um quase nada de suspirar pensamento,
areias movediças para dançar pés-de-vento.
um quase nada de arriscar amor aos outros,
direito a selo: vermelhos marotos.
um quase nada de dignidade por dentro,
processo mil folhas de enrolar um cento.
um quase nada de apostar na verdade,
vermes mercenários roem à vontade.
um quase nada quase o homem todo,
um quase quase quase Quasímodo.
PERSONAE NON GRATAE
não usa gravata
persona non grata
se veste de trapo
criminoso nato
se é refilão
vai já para a prisão
se não diz amém
é filho da mãe
e se for à luta
é filho da puta
quem não bebe à mão
é filho de cão
homem que não chora
não mama
não come
que morra
de fome
** O Manuel António Pimentel, padre Católico, doutorado em direito canónico, em Roma, professor no Seminário de Angra do Heroísmo, certa noite, assistiu, por acaso, à passagem de dois polícias a levar para a esquadra um pobre graciosense, a pontapés e empurrões. Indignado, no dia seguinte escreveu um pequeno texto na União – jornal diocesano – a denunciar a ocorrência. Foi-lhe, por isso, instaurado um processo judicial, foi julgado, embora, no final, tenha sido absolvido, por falta de animus injuriandi, de dolo, de intenção de injuriar a instituição policial. Era este o crime pelo qual fora acusado. A mim, amigo do peito do Manuel António, para além de o ter aconselhado enquanto decorreu o processos, se calhar covardemente, saiu-me apenas este poema que, evidentemente, lhe dediquei. Ainda assim, ele gostou e mostrou-se comovido e grato.
André Moa
* POEMACÃO – O segundo livro da Antologia de um Desconhecido que agora começa a ser para aqui trasladado aos poucos.
areias movediças para dançar pés-de-vento.
um quase nada de arriscar amor aos outros,
direito a selo: vermelhos marotos.
um quase nada de dignidade por dentro,
processo mil folhas de enrolar um cento.
um quase nada de apostar na verdade,
vermes mercenários roem à vontade.
um quase nada quase o homem todo,
um quase quase quase Quasímodo.
PERSONAE NON GRATAE
não usa gravata
persona non grata
se veste de trapo
criminoso nato
se é refilão
vai já para a prisão
se não diz amém
é filho da mãe
e se for à luta
é filho da puta
quem não bebe à mão
é filho de cão
homem que não chora
não mama
não come
que morra
de fome
** O Manuel António Pimentel, padre Católico, doutorado em direito canónico, em Roma, professor no Seminário de Angra do Heroísmo, certa noite, assistiu, por acaso, à passagem de dois polícias a levar para a esquadra um pobre graciosense, a pontapés e empurrões. Indignado, no dia seguinte escreveu um pequeno texto na União – jornal diocesano – a denunciar a ocorrência. Foi-lhe, por isso, instaurado um processo judicial, foi julgado, embora, no final, tenha sido absolvido, por falta de animus injuriandi, de dolo, de intenção de injuriar a instituição policial. Era este o crime pelo qual fora acusado. A mim, amigo do peito do Manuel António, para além de o ter aconselhado enquanto decorreu o processos, se calhar covardemente, saiu-me apenas este poema que, evidentemente, lhe dediquei. Ainda assim, ele gostou e mostrou-se comovido e grato.
André Moa
* POEMACÃO – O segundo livro da Antologia de um Desconhecido que agora começa a ser para aqui trasladado aos poucos.
10 Comentários:
Às 12 de abril de 2010 às 23:48 , Paixão Lima disse...
Ao ver a fotografia dos teus miúdos, hoje graúdos e maduros, tenho de reconhecer, que o tempo não decorre em vão. Mas é pena que ande tão depressa.
O mundo é cão
Pela falta de pão.
Abaixo o poemacão?!
Ainda não! Ainda não!...
Pela fuga se descobrem
E só foge quem tem razões para fugir.
Nem nos índios há igualdade. Para biombo muralha, só a muralha de Jericó do Clark Gable.
Quasímodo o disforme, só na forma. No seu peito, bate um coração igual aos outros.
Quanto a Personae Non Gratae, está bem demais. Não tenho palavras para descrever. Com coragem, tratas os bois pelos nomes. É o mundo das aparência e o pedir para conseguir. Poema, infelizmente, ainda actual.
Ao Manuel António, o ser padre, terá sido um acidente de percurso?! O hábito não faz o monge. A padres como este, até Guerra Junqueiro daria um abraço e renderia homenagem.
Um grande abraço, Amigo André Moa.
Às 13 de abril de 2010 às 11:57 , Laura disse...
Sempre os ninos tão fofos, e a Susana uma loirinha bem travessa!...
Sempre em defesa do oprimido! O padre devia ter socorrido o homem naquele momento pedindo em nome de Deus (é a fórmula sagrada que detém os maus instintos do homem, com medo que Deus apareça e os esmague) que se o homem merecia a prisão, que o levassem, ams bater daquela forma,s e assim o fizeram a olhos vistos, imagine-se lá dentro, ah...
Mas que o padre as ouviu e foi julgado, e vá que foi absolvido.
Gosto da última poesia...
Aquele apertadinho abraço da laura
Às 13 de abril de 2010 às 15:58 , Je Vois La Vie en Vert disse...
Querido André,
Estas tuas criancinhas bonitas e queridas já se tornaram adultos e até a tua filha te ofereceu um querido netinho que te permitiu descobrir mais uma felicidade na vida. Encontro ar de família em todas as fotos. O Moa se perpetua nos traços e também vai perpetuar-se nas artes.
A arte da poesia, por exemplo. Ela começa com ão ão , continua com pão pão e acaba numa emoção quando ela consegue pôr uma belgazita a escrever algumas linhas a tentar fazer poemação...
Amigos padres, outros antigos seminaristas, visitantes do Bom Jesus de Braga, Madre Ana de Tabuaço, católicos praticantes, não escapas mesmo a Deus... "toi" (=tu em francês que tem o som Toa), o Moa, o do D(eu)s !
O Santo Padre vem a Lisboa
Ouviu falar no Vaticano
Dum certo artista republicano
Superdotado chamado Moa,
Intrigado por saber dum D(eu)s
Que não queria dizer-lhe adeus.
Mesmo assim dar-lhe-á a bênção
Porque rima com poemação...
Beijinhos da Verdinha
E que o Sporting ganhe hoje !
Às 13 de abril de 2010 às 20:42 , Laura disse...
Ah, e eu nem sabia quem jogava, mas se for Benfica e Sporting, ai, escondo-me e nem quero saber, quero os amigos muito amigos e a bola que se lixe...
Ah, olha a poeta evrdinha!...
beijinhos, laura
Às 14 de abril de 2010 às 13:38 , Maria disse...
Querido André
Gostei muito de todos, sobretudo o último.
´Tu escreves como quem respira. Quem me dera!
Beijinhos para ti, Teresinha, Susana e Maioral.
Maria
Às 14 de abril de 2010 às 15:57 , mundo azul disse...
___________________________________________
Você é um POETA! Nesse ultimo poema, brinca com as palavras e elas lhe são extremamente doceis, amáveis... Para satisfação de nossos sentidos!
Aplaudo de pé a sua escrita... Ainda chego lá.
Beijos de luz e o meu especial carinho!!!
______________________________________________
Às 14 de abril de 2010 às 17:09 , Paixão Lima disse...
Estás a ver Moa, quanto o azul é bonito e bom? Se o verde é esperança, o azul é a cor do céu. Por vezes, o céu está encoberto e não se vê. Mas a nuvem é passageira e logo, logo, volta-se a ver.E é tão lindo, não achas?
Um abraço, Amigo Moa.
Às 14 de abril de 2010 às 19:25 , Anónimo disse...
André Moa, irmão
Para mim, a amizade, o amor, a solidariedade,a nobreza de carácter, a humildade de espírito, o sentido do ridículo, o despojamento, a lucidez, a verdade de cada um respeitada por todos têm as cores do arco-íris. O `"Mundo Azul" e a Maria definiram-te bem: "Aplaudo de pé a sua escrita" e "escreves como respiras".
Assino por baixo. Amanhã, no médico, vai tudo correr como desejamos e mereces.
Um grande abraço do Ernesto
Ernesto Leandro
Às 14 de abril de 2010 às 19:40 , Andre Moa disse...
Antes de irmos reflectir sobre essa coisa do Tempo, permitam que deixe aqui o meu agradecimento a todos os amáveis comentaristas.
Boa síntese, amigo Paixão. Não, o facto de o Manuel António ter sido padre (morreu há cinco anos de cancro nos pulmões)não foi acidente de percurso. Foi mesmo por vocação, por amor aos outros, principalmente aos pobres e oprimidos, onde ele via Cristo, o seu Deus encarnado em cada homem. e foi duma coerência ímpar. Duma grandeza de alma, duma capacidade de doação, homem culto, inteligente e bom. Olhava-o e via nele a bonomia de João XXIII. Foi nomeado por duas vezes pelo Vaticano assistente mundial do MMTC - Momivento Mundial dos Trabalhadores Cristãos - depois de ter sido assistente dos trabalhadores emigrantes em França. Pertencia aos padres do Prado, uma espécie de padres operários. Posso considerá-lo o meu maior amigo de todos os tempos. E ele conhecia as minhas ideias de humanista (ateu). só que nem ele me tentou converter nunca, nem eu a ele. Ligava-nos, para além de uma velha e profunda amizade, uma cumplicidade pelo social e pela justiça no mundo. E isso nos bastava e congregava.
Laurinha, o que escrevi acima já serve um pouco de resposta a ti. O Manuel António era profundamente crente, mas colocava o amor aos outros acima da liturgia, do ritual, da crendice.
Cara Verdinha, nem d(Eu)s me separ(a)o dos homens, por mais padres que sejam, desde que sejam homens de boa vontade. d(Eu)s não sou anti-clerical nem anti-nada. Sou sim pró tudo o que é bom, belo, amoroso. Sou pró vida digna para todos.
E nem o Sporting ganhou nem o Papa me abençoou, que eu não sou o d(Eu)s que o traz a esta Lusa terra, a esta terra de luz. O que ele procura, já eu há muito lhe descobri a inexistência que é a mazela maior que um ser pode ter que é o não ser. Um ser não ser, topas?
Quem te dera o quê, cara Maria! Se tu escreves tão bem e com tanta naturalidade! Dizes que eu escrevo como quem respira. Será caso para perguntar se escrevo (mal) como quem rspira (mal). Deves ter razão. Escrevo como quem tem cancro nos pulmões. ehehehehe
Olá, mundo de luz!
Se o mundo fosse azul
seria um mundo de truz,
cheio de beijos de luz
com tanto amor e carinho
que leve seria a cruz
quer para os do Norte
quer pra os do Sul.
Abreijos para todos
Anré Moa
Às 14 de abril de 2010 às 20:09 , Andre Moa disse...
Caro irmão Ernesto,
deves ter aposto o teu comentário, enquanto preparava o meu, por isso só agora te vi. Obrigado pelo comentário amigo.
Abraço
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