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quinta-feira, 3 de junho de 2010

CICLO EMOÇÃO


VAZIO!

Das fragas escarpadas
Do meu ser
Estatelaram-se memórias
Dum viver
Sem remédio,
Que a morte e o tédio
Só hão-de vir
Quando se gastar
Toda a paciência
Na demência
De mim, que nunca fui!
Que só era
Quando concebido
E não nascido;
Depois, condenado e perdido
Por imposição alheia.
E o primeiro choro
Que ouviram de mim
Foi prenúncio de morte,
Premonição de má sorte...
Quando a todos disse que sim,
Eu sabia e queria um não
Rotundo de exclusão.
E numa demonstração de humanidade,
Porque não entenderam o silêncio,
Porque não compreenderam a renúncia,
Em vez de me darem o punhal,
Sorriram-me o perdão, por caridade...

E, agora, quando me tentam encontrar,
Só vêem o vazio em meu lugar!

Ernesto Leandro

Apontamentos anticancro 11

Todos nós precisamos de nos sentir úteis ao próximo. É um alimento indispensável à alma. Esta necessidade, quando não satisfeita, provoca mágoa, e uma mágoa ainda mais profunda se a morte estiver próxima. Grande parte daquilo a que chamamos medo da morte provém do receio de que a nossa vida não tenha tido qualquer sentido, que tenhamos vivido em vão, que a nossa existência não tenha sido importante para nada nem para ninguém.
Nunca esqueci a lição que aprendi: no limiar da morte, ainda podemos conseguir salvar a vida.
Há catorze anos que celebro o «aniversário» do diagnóstico do meu cancro. Não me lembro da data exacta da ressonância magnética. Sei apenas que foi por volta do dia 15 de Outubro. Portanto, o período entre 15 e 20 é uma época especial para mim, um pouco como Yom Kippur, a Semana Santa ou o jejum do Ramadão. É um ritual pessoal. Arranjo tempo para estar sozinho. Por vezes faço uma espécie de «peregrinação» a uma igreja, uma sinagoga ou a um local sagrado. Medito sobre o que me aconteceu, a dor, o medo, a crise. Dou graças, pois transformei-me, pois sou um homem muito mais feliz desde o meu segundo nascimento»
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

Nota – É natural que a transcrição que aqui faço do livro sejam as que mais me tocaram, as que, em meu critério, mais possam tocar e assim ajudar alguém que aqui as leia. Por outro lado, dou por mim a verificar que tais transcrições correspondem às passagens do livro onde me revejo espelhado, correspondendo muitas delas quase em cem por cento á minha própria experiência de paciente portador há quatro anos de um cancro que me foi diagnosticado no dia 5 de Maio de 2006. André Moa

2 Comentários:

  • Às 3 de junho de 2010 às 21:16 , Blogger Bichodeconta disse...

    Há cancros que corroiem até ao infinito, sem que de tal uma palavras se tenha dito.. Lindo, assustador, veridico e por isso mais assustador.Depoimento com uma força que abarca o Mundo..Parabéns pela força das palavras e pela coragem de partilhar estas vivencias..
    Abreijos, Mel

     
  • Às 4 de junho de 2010 às 00:20 , Blogger Paixão Lima disse...

    Meu caro Ernesto,
    Vou fazer um comentário ao teu último poema deste Ciclo Emoção. E que belo poema de despedida ! «...Que a morte e o tédio só hão-de vir quando se gastar toda a paciência...». O que quer dizer, meu Irmão, que continuas a ser um paciente. Neste caso, o Paciente III ou o Paciente IV, se contarmos com a minha impaciência própria dum paciente também. Não podemos exigir que gostem de boa poesia como a tua. Os gostos não se discutem, respeitam-se. Respeitemos, portanto, a paz do sepulcro. Das ideias sem ideias e do nada de nada. E para encerrar com chave d'ouro, permito-me citar os últimos versos do teu lindo poema: «...E, agora, quando me tentam encontrar, só vêem o vazio em meu lugar ! »
    Um abraço, Ernesto.

     

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