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DIÁRIO DE UM PACIENTE II

sábado, 25 de julho de 2009


O QUE UM HOMEM NÃO FAZ PELA SAÚDE!?

A não ser que se encontre dominado por algum vício ou se sinta cansado da vida, um homem faz tudo, por vezes desesperadamente tudo, até o não recomendável, pela saúde. Não tanto pela saúde, mas pela recuperação da saúde malbaratada e perdida, por força dos tratos de polé infligidos. Só quando ela dá o berro e se põe a gritar aqui d’el rei que me matam, depois de todos os alarmes dispararem a pontos de nunca mais pararem é que passamos a dar-lhe a devida atenção, a olhá-la com esmero e carinho. Por ela, então, mas só então, fazemos tudo, desde emborcar tudo quanto nos recomendam, por receita médica ou indicação de curandeiro, ou nós engendramos, desde umas caminhadas a pé, que são higiénicas e fonte de vida (circular é viver), a umas promessas sacrificiais que nos obrigam a rastejar por sobre lama ou pedra dura.
No passado dia 10 de Junho, por indicação de um amigo, fui consultar um naturista que me pôs a pão e água, digo, a água morna, a sumo de couve, cenoura, maçã ou beterraba, salsa e limão, a arroz integral, a outras paparocas com que nunca antes sequer sonhara e me levou a submeter-me a uma trasfega de sangue por semana. Trasfega digo eu, que sou do Alto Douro, habituado na infância a assistir, deleitado, à trasfega do vinho, três, quatro meses depois de ser retirado dos lagares para o vasilhame provisório. Deste para o definitivo, o vinho é trasfegado para sossegar até ser bebido ou vendido para ser bebido.
Já foram efectuadas em mim nove trasfegas, que consistem em retirar sangue venoso com uma seringa e injectá-lo de seguida nos músculos dos braços. Como não me tenho dado mal com a experiência, e me garantem que provoca uma reacção que leva a fortificar o sistema imunitário, vou continuar até dizer já chega.
Só hoje consegui coragem suficiente para falar nisto. De início não me senti com lata para tanto, receoso de que a coisa desse para o torto e eu começasse a esguichar sangue por tudo quanto é poro, que nem barril mal calafetado a espichar vinho pelas juntas das desconjuntadas aduelas.
Não fossem estas malditas dores de costas e até estaria a passar um período tranquilo e sossegado. Mas estas dores cadelas não param de me morder os músculos e os tendões à volta da omoplata esquerda. Dizem que é do computador. Deve ser. Mas que fazer, se estou numa fase de febre criativa alta, se o meu grande prazer sem estas dores seria computar?
Se tu computas, se ele computa, se todo o mundo computa, só eu é que não vou computar!? Lá se vai mais um prazer! Que desgraça a minha!
André Moa

sexta-feira, 10 de julho de 2009







NÃO RESISTO

(E porque não resisto, aí vão uns bons nacos de prosa que me deixaram todo ‘prosa’.
André Moa

«Caríssimo Autor,
No rescaldo do excelente lançamento de ontem, tinha hoje à minha espera o texto que vai em anexo do Dr. Beja Santos, a quem tínhamos enviado o livro, reforçado por um telefonema há minutos a pedir desculpa por não ter podido estar presente no lançamento e a reforçar o quão notável achou o seu testemunho.

Aqui lho envio, pois, com todo o gosto que imagina, e a pedido do Dr. Beja Santos.
Um abraço,
Ana Pereirinha
Mau tempo no anal

Beja Santos

Começando por um lugar-comum, constate-se que o cancro é uma das doenças mais temidas e que evoca emoções fortes não só no doente mas também na família. Aliás, é vasta a bibliografia respeitante ao doente oncológico e à sua família, diferentes ramos científicos (caso da Psicologia Oncológica) debruçam-se sobre as perturbações psicossociais associadas ao diagnóstico do cancro, terapêuticas e acompanhamento da família do doente. O cancro é foco contínuo de ansiedade e stress, levanta problemas delicados ao processo de comunicação entre os profissionais e os doentes, orienta-se pela adesão terapêutica e qualidade de vida possível para o doente, na medida em que os tratamentos podem recorrer à cirurgia, radioterapia ou quimioterapia, com intuito de controlar ou exterminar a doença, há sempre efeitos secundários como náuseas, vómitos prostração ou perda de cabelo, fazem-se acompanhar de desconforto físico, tristeza ou medo de morrer.
Cada doente é um caso individual, não há nível idêntico de raiva ou revolta quando se conhece o diagnóstico em dois ou mais casos, temos depois a aceitação durante o tratamento, a relação entre os profissionais de saúde e o doente pode ser fundamental no apoio e na recuperação do doente.
Vêm estas observações genéricas a propósito de um livro singular, o diário de um paciente que sofre do recto e da próstata, os flagelos quase que se sobrepõem, as dores são excruciantes, o doente enfrenta os turbilhões dos diferentes sofrimentos, consegue encontrar humor na observação que faz à vida na enfermaria e aos tratamentos. É, no seu todo, um hino ao optimismo, um relato espantoso de uma vitória sobre esses sofrimentos, páginas de sinceridade de quem continua a viver agarrado à vida rememorando os ciclos temporais, os amores, as amizades, o estro poético, as leituras, o registo da evolução da doença, as relações com Deus e a indiferença perante o fenómeno do divino, a serena preparação para a morte, venha ela quando vier. O livro chama-se “Mau tempo no anal” e o seu autor é André Moa, o canceroso que sobreviveu e enganou a morte, com sangue, suor e lágrimas (Quidnovi, 2009).
É um relato, um testemunho a que nenhum doente se deve furtar. O melindroso é troçado e aligeirado: “dona Bexiga”, ou “o Sr. Cu-Recto”. É mordaz na enfermaria, pois esta é um ambiente que reproduz todos os outros ambientes. É o caso de um doente que chega e parte rapidamente, sem estabelecer comunicação: “Ontem foi internado um dandy. De quarenta, cinquenta anos? Oficial? Sargento? Civil? Foi operado a um ouvido. Já não é a primeira operação do género a que se submeteu. Passou o dia muito calado, a maior parte do tempo a ler um livro volumoso cujo título não consegui decifrar. Literatura policial, será? Já teve alta, hoje. Despediu-se quase tão laconicamente como quando chegou. Desejei-lhe as melhoras e que não sentisse necessidade de voltar. Nem o nome dele me ficou. Chamo-lhe Meteorito com ânsias de Estrela”. Tudo começa quando ao irmão lhe é detectada uma doença maligna, à cautela, porque há factores hereditários, faz exames e é aqui que ele sabe que tem um tumor, prontamente André Moa se atira ao combate. Supera as crises, adapta-se, seguramente que a ideia da morte vai e vem, no seu diário ele fala dessa fé na vida e a sua descrença nos valores divinos. Agarra-se à família, ao netinho, aos amigos, responde ao telemóvel, está sempre com mais esperança do que permite a lógica da dor. No seu diário fala do que sabe e do que não entende nos tratamentos. Gosta da equipa de saúde, faz a colonoscopia, a TAC, leva-nos a partilhar do seu estado de alma: “O veredicto chegou inexorável. A intervenção no recto será mais premente do que a inicialmente prevista, pelo que não poderá ser feita via rectal, mas pelo abdómen. Neste caso não poderei ser operado para já à próstata: uma cirurgia é suja, a outra é limpa... Está a ver, dona Próstata? Tanta chinfrineira para nada”. Vai ser sujeito a um “bombardeamento nuclear”, um conjunto de sessões de radioterapia e regista as primeiras dores: “Na noite passada não preguei olho. Um forte ataque hemorroidal, doloroso até mais não. Com estas dores constantes, sem posição para estar deitado, sentado ou de pé, sem qualquer medicamentação que me alivie pouco que seja, encontro-me numa situação desesperante... Presentemente estão a servir-me de muletas duas oxibutininas, comprimidos, 5 mg por dia, dois pacotinhos de nimesulida inibsa, 100 mg, granulado para suspensão oral, e dois comprimidos de diosmina + hesperidina, 450 mg + 50 mg. Que o organismo reaja segundo as boas intenções de quem tal prescreveu e de quem isto toma. Amen”.
Regista aturadamente os tratamentos, a endoscopia, o bombardeio nuclear, ao todo 20 sessões, quimioterapia, tudo o que seja necessário para afastar a dona Morte, dia após dia arranja forças para acreditar que estas situações anormais não podem prostrar um ânimo forte, a dose de químio, a dose de rádio, o encontro com as máquinas que o doente humaniza: “De barriga para cima, o meu olhar bate de chapa na cabeça do monstro degolado e nele se tem fixado, a estudar-lhe a anatomia, a tentar decifrar os seus dotes, a sua actividade, os seus intentos, o modo de funcionamento. Hoje reparei que a cabeça do robot até orelhas tem. Fazem lembrar uns auscultadores achatados e bem colados ao pavilhão auricular”.
De forma brutal, vem o mau tempo no anal, continuam as doses de químio e rádio, continua algaliado e ele não resiste a confessar: “Urinar para mim tornou-se um martírio; a sanita, a minha pedra sacrificial... Há três noites que não durmo praticamente nada. Tenho corrido para a casa de banho de 15 em 15 minutos, pelo que não dá tempo para fechar os olhos e adormecer. Urino com dores, mas urino”.
Fim da radioterapia, é o compasso de espera para a operação, continua a urinar muitas vezes, chega o dia D, e depois de rapado vai para o bloco operatório. O seu optimismo triunfou, seguem-se as confirmações de que o cancro não aguentou esta luta. Mais tarde, seguir-se-á a operação à próstata. André Moa aprendeu (ou reaprendeu?) o que é verdadeiramente significante e o que deve ser tratado como insignificante, fica feliz com a sua vida nova, deixa-nos um relato interessantíssimo sobre literacia em saúde a propósito do seu relatório da TAC e um dia o diário finda, finda porque entrou num novo estádio de saúde, André Moa sente a acalmia corporal, entoa loas à vida e diz-nos à despedida: “Basta de tanto sofrer. Eu quero viver muito e bem. Eu quero viver muito bem. Amen. Fim do diário, que ainda não de mim”.
A dedicatória do livro também pode ajudar os últimos hesitantes acerca da urgência desta leitura: “A todos quantos necessitam, necessitaram ou venham a necessitar de uma palavra de coragem que os ajude a suportar e a superar os reveses da vida”.


Caríssima editora,

Cara Ana Pereirinha,

Que lindo, não é, este texto do Dr. Beja Santos? Só agora abri o correio, só agora o li, pelo que ainda me sinto emocionado, com um orvalhinho nos olhos. Agradeça-lhe muito em meu nome. Fez-me muito bem a sua leitura. Para mais no fim de um dia hospitalar e com notícias não muito agradáveis, já que tive hoje consulta e vi o resultado de umas análises feitas na passada segunda-feira, que mostram que o factor cancerígeno voltou a subir. Mau presságio. Assim, nunca mais paro de escrever diários. E eu que queria voltar-me para a ficção, a ter que continuar neste relato chão de uma realidade nadíssima agradável. É a vida como disse o outro e eu repito constantemente.
Um beijinho, cara amiga Ana.
Bem-haja por tudo, e agora por me ter encaminhado este belo texto, para mim muito salutar
André Moa

Caro Onésimo, acabo de ver e ler esta recensão do Dr. Beja Santos que a Ana Pereirinha fez o favor de me enviar. Ainda estou emocionado, Apresso-me a reencaminhá-la para ti, para partilhares desta doce e reconfortante emoção.
Um grande abraço.
André Moa

Magnífico!
Um bom presságio. Se já começa assim tão cedo, vais ver o que vai vir de reacções.
Grande abraço de parabéns.
E não te amedrontes com a subida. Isto nestes dias após a festa a adrenalina baixa e...
Grande abraço do
Onésimo

Querido André Moa,

Temos fé em si, porque a sua fé sem deus é mais contagiante do que qualquer nova descoberta química.
Assim o deixo antes do fim-de-semana, com a esperança que nos tem ensinado e de que já não sabemos abdicar!
Um grande beijinho,
Transmiti a sua mensagem ao Dr. Beja Santos,
Até segunda,
Ana»

Muito obrigado e bom fim-de-semana.
Beijinhos
André Moa

quinta-feira, 2 de julho de 2009

PALAVRAS DE AGRADECIMENTO NO LANÇAMENTO DO LIVRO MAU TEMPO NO ANAL-DIÁRIO DE UM PACIENTE

(O TEXTO É COMPRIDO PARA POST, MAS ATENDENDO AOS APLAUSOS E ELOGIOS RECEBIDOS, PARTO DO PRINCÍPIO DE QUE VALE A PENA LÊ-LO)

MAU TEMPO NO ANAL – DIÁRIO DE UM PACIENTE

Excelentes e queridíssimas amigas,

Excelentes e queridos amigos,

Excelentes inimigos,

EXCELÊNCIAS:

Partindo da premissa de que a minha presença aqui se justifica mais pela escrita do que pela fala, em vez de preparar e decorar meticulosamente um improviso para este acto solene, resolvi escrever o que agora vos leio.

Esta resolução levar-me-á, espero, a ser mais breve e a não perder tão facilmente o rumo, por falta de água ao leme. Que meta água sim, mas que ao menos o leme se mantenha firme e activo.

De imediato, e antes que a língua se me entaramele, a voz se me embargue, a emoção me traia, a comoção não me deixe articular palavra, expresso o meu profundo reconhecimento a todos quantos contribuiram para que tenha chegado a este areópago, exposto nesta custódia em forma de livro onde restarei para todo o sempre, em corpo, alma e divindade.
Formulado que fica o meu reconhecimento plural e abstracto a todos os presentes e ausentes, o primeiro reconhecimento singular e concreto vai para a nossa anfitriã – a Ordem dos Médicos – realçando a sua disponibilidade em franquear-nos as portas, tão predisposta ela está a acolher eventos relativos quer à saúde quer à cultura.
MAU TEMPO NO ANAL – DIÁRIO DE UM PACIENTE ficará, indelével e simultaneamente ligado à saúde e à arte, por isso, considerámos ser este o lugar ideal para anunciarmos urbi et orbi o nascimento deste livro (deste filho) que, proveniente de um parto com dor, cedo se transformou num acto colectivo de amor. O meu sentido reconhecimento a todos os membros dirigentes desta prestimosa instituição que generosamente nos acolhe, extensivo ao Doutor Germano de Sousa, ex-bastonário da Ordem dos Médicos (que tão gentil e abnegadamente se prestou a ser o porta-voz deste desejo do autor, logo secundado pela editora, a Quidnovi) e ao professor universitário Onésimo Teotónio Almeida – o impulsionador mor disto tudo.

Hoje sinto-me como que levado em triunfal procissão pelas ruas da cidade, depois de ter andado pelas ruas da amargura.

Toda esta apoteose resulta do facto de me ter ocorrido verter para o computador, dizem que com alguma graça, toda a desgraça que sobre mim desabava e enquanto desabava; todo o amor por que suspirava; todo o humor que ia inventando para melhor me livrar da hecatombe, isto é, do sacrifício de cem bois em ritual da Grécia antiga, como consta do Dicionário da Língua Portuguesa Contemporânea; toda a dor sentida, toda a dor ‘fingida’ (fingida à Fernando Pessoa, ou seja, duplamente sentida); os meus desesperos; as minhas dúvidas; as minhas esperanças.

Será caso para proclamar: santas dores, abençoada doença, que tantas manifestações de apreço e carinho me têm proporcionado.

Costuma dizer-se de um sofredor com cara por onde visivelmente a dor anda a lavrar fundo e feio: «parece um Cristo».

Segundo rezam as crónicas, o sofrimento de Cristo terá durado umas escassas horas, um dia, vá lá. O meu dura… dura… e perdura.

O verdadeiro Cristo terá morrido convencido de que iria ressuscitar ao terceiro dia. Eu não creio em ressurreições post mortem.

Não obstante (e aqui fica o solene aviso) se um dia morrer e me vier a acontecer ressuscitar, não direi que não. Ficarei mesmo muito grato ao autor ou autores de tal façanha.

Tal é o meu apego à vida, ainda que sofrida, ainda que dorida!

Talvez por isso mesmo, por ser sofrida é que eu amo desaustinadamente a Vida e me sinto reconhecido pelas bênçãos que, no meio de tantos escolhos e padecimentos, sobre mim tem derramado, a última das quais, permitam que a saliente, tem três anos, dá pelo nome de Luís Tiago, e me tem transmitido Vida...Vida…Vida…
Bem-hajas, meu querido neto.

Tudo leva a supor que Cristo terá morrido cheio de saúde. Teve o seu calvário, sim, mas nem um extra, se não levarmos em conta o sangue que terá suado no horto, pouco antes de ser preso.
Por mim, tive tantos e tais que fiquei conhecido entre os médicos e enfermeiros do Hospital da Força Aérea como o homem dos extras.
Os colaterais afligiram-me mais do que os ciúmes de uma próstata inflamada, do que o cancro no recto e, mais recentemente, do que o cancro nos pulmões. Os colaterais foram tantos e tais que não me deixaram pôr pé em ramo verde.

Apesar de tudo, sinto que tive algumas e saborosas vantagens sobre Cristo.
Porque tive não apenas uma mas muitas Verónicas a enxugar-me o rosto e muitos e bons Cireneus que não só me aligeiraram a carga das várias cruzes que sobre mim tombaram, como evitaram a minha crucifixão e morte. E com que denodo, com que saber, com que competência, com que devoção, com que abnegação, com que generosidade!

De todos os meus Cireneus (não falo dos familiares nem dos amigos próximos que, mais que Cireneus, foram outros tantos Cristos, comigo, em mim e por mim) apraz-me salientar neste acto de glorificação, neste hossana colectivo à Vida, os três médicos que não só me restabeleceram a saúde, como me agraciaram com o seu insuperável humanismo e me presentearam, sinto-o bem, com a sua amizade, como a sua presença e as amáveis palavras que o doutor Carlos Balhana acaba de proferir bem atestam.

Para esses taumaturgos que ressuscitaram este pobre Lázaro, o meu profundo e perene reconhecimento. Para vós todo o meu preito, cara doutora Maria de Jesus Salazar, caro Doutor Carlos Balhana, caro doutor Manuel Domingos.

Não vou falar mais de vias-sacras nem de calvários.

Prefiro retomar esta triunfal procissão que tanto me engrandece e lisonjeia.

Cá vou eu exposto nesta custódia (neste livro) congeminada e sustentada pela mente sábia e o coração generoso do professor, escritor e amigo Onésimo Teotónio Almeida que por sorte, ele que lecciona na Universidade da Brown, Providence, Massachusetts, U.S.A. (usa, mas não abusa), temos hoje entre nós, para nos honrar com a sua amistosa presença e nos brindar com a magistral lição de sapiência que acabámos de ouvir, toda ela salpicada de irradiante amizade e contagiante boa disposição, como é seu timbre.

Este livro contém o que porventura será inédito: três belos prefácios de três grandes senhores.

Só para dar a conhecer e a todos oferecer a oportunidade de saborear estes três textos já teria valido a pena publicar e divulgar este livro.

O primeiro texto em jeito de prefácio é do Onésimo Teotónio Almeida a que chamou: «Cac(a)fonia em dói menor». Um achado, este título. O texto é um verdadeiro tratado de sapiência, uma análise profunda, repleta de humor e cheia de graça.
O segundo texto em jeito de prefácio devo-o ao professor Olegário de Sousa Paz que também faz o favor de ser meu amigo.
Olegário Paz chamou-lhe, com demasiada humildade, «Notas de Leitura», mas como irão verificar ao lê-lo, é muito, mas muito mais do que isso: um verdadeiro tratado de saber literário, de análise de texto e, simultaneamente, de amizade.

O terceiro texto é do meu querido, santo e dedicado irmão, António Joaquim Macedo Fernandes que, ao ler o meu Diário, resolveu escrever-me uma carta de amor fraternal.

Aos três prefaciadores, o meu sentido abraço.

A experiência no-lo diz que não há festa, procissão, livro algum, sem uma dedicada e organizada confraria, sem uma boa e empenhada mordomia, sem uma boa editora, predisposta a unir e conjugar esforços e boas vontades, saberes e sabores, a assumir os riscos inerentes a projectos deste quilate.

Sinto-me um privilegiado por ter sido acolhido, acarinhado e editado por tão competente, tão profissional, tão prestigiada editora como é a QUIDNOVI que, a meus olhos, tem dois rostos e uma equipa técnica: os rostos da Doutora Maria do Rosário Pedreira e da doutora Ana Pereirinha e uma equipa técnica cujos elementos não conheço mas de quem conheço e reconhecidamente exalto o seu óptimo trabalho bem patente na capa, como em toda a textura do livro.

A doutora Maria do Rosário Pedreira e a doutora Ana Pereirinha acolheram-me de uma forma ao mesmo tempo muito profissional e excepcionalmente simpática. Ensinaram-me, corrigiram-me, trataram de tudo com competência, profissionalismo, devoção e empenho inexcedíveis. Bem-hajam, caríssimas amigas, se me permitis extravasar desta forma o meu sentimento por vós. E parabéns pelo vosso excelente trabalho.

Editorialmente, este livro, está, de facto, uma perfeição. Uma autêntica obra de arte gráfica.

Os prefácios falam por si. São excelentes.

Do meu texto também direi que é excelente. Modéstia à parte, ouso afirmar isto, alto e bom som, por me sentir bem escudado atrás de duas fortíssimas e inultrapassáveis razões.

Primeira razão: sou modesto, mas não sou parvo.

Segunda razão (e esta é de peso): se pessoas honestas, com o gabarito e a craveira de um professor Onésimo, de um professor Olegário, de um senhor irmão, de uma senhora doutora Maria do Rosário Pedreira, de um senhor doutor Carlos Balhana, sim, se todas estas sumidades disseram o que disseram, escreveram o que escreveram; se não pouparam encómios nem regatearam elogios; se, em uníssono, tanto enalteceram obra e autor, quem sou eu, pobre poeta, paciente diarista diariamente paciente, sim, quem sou eu para os contradizer? Nessa não caio. E não caio, porque não quero, não posso e não devo, sob pena de cometer uma injusta e imperdoável falta de respeito, de consideração e de gratidão.

Prefiro, pois, fazer minhas as suas sábias e sentidas palavras e com eles proclamar em coro que MAU TEMPO NO ANAL – DIÁRIO DE UM PACIENTE é uma senhora obra, uma obra merecedora de ser lida, mastigada, reflectida, divulgada.

Para rematar, acrescentarei que MAU TEMPO NO ANAL – DIÁRIO DE UM PACIENTE foi escrito com muita dor, com muito amor e com uma boa dose de humor, concedo.

Escrever este livro foi para mim um eficaz placebo. Fez-me bem, ajudou-me muito a criar a necessária distância entre mim e mim, para melhor poder objectivar e desse modo superar a dor, o sofrimento, a preocupação, a ansiedade, a dúvida, o temor para não dizer o cagaço, sim, o cagaço que as doenças, nomeadamente as doenças do foro oncológico, habitualmente sugerem.

Publicá-lo, tomei-o eu como imperativo de consciência, na expectativa de com ele poder vir a ajudar alguém, muitos alguéns, se possível todos quantos estejam a sofrer e a carecer de uma palavra amiga, optimista, estimulante, uma palavra de conforto e de esperança.

Esta foi a intenção. Façam-na vossa, para que o desígnio deste livro se cumpra. Com a certeza de que, desse modo, cada um a seu modo, estará a exaltar a Vida.

A Vida implica, naturalmente, sofrimento e dor.

Que bom se todos a pudermos e soubermos fruir com optimismo, esperança, amor e humor! Sim, humor – essa firme ponte entre a dor e o amor, esse suavíssimo bálsamo da dor, esse poderoso tónico do amor.

Aqui chegado, resta-me pedir-vos desculpa pelo atrevimento e pelo tempo dispendido.
Bem hajam.

Lisboa, 24 de Junho de 2009
André Moa
 
Que cantan los poetas andaluces de ahora...