SEJAM MUITO BEM VINDOS A ESTE BLOG!--------ENA!-- TANTOS LEITORES DO MEU BLOG QUASE DIÁRIO! ---ESTA FOTO É UMA VISTA AÉREA DA MINHA TERRA,-TABUAÇO! UM ABRAÇO PARA CADA UM DE VÓS! -ANDRÉ MOA-

DIÁRIO DE UM PACIENTE II

sábado, 31 de outubro de 2009

AS VELHAS - GUERRAS DO CAVACO E DA LAGOSTA





























Caríssimas, caríssimos,

Desculpem introduzir na "dança" - que tenho preparado, seguido e mantido com muito interesse, agrado e atenção, qual tia sentada à volta do salão onde decorre o bailarico, a função - a brejeirice que se segue.
Servirá para desanuviar um pouco o ambiente carregado de dor, amor, sabença e profundidade, e para desta forma singela prestar a minha homenagem aos ilustres visitantes do meu blogue, que fazem o favor de, para além de aturarem as minhas diatribes, ser meus amigos. As velhas são uma moda da Ilha Terceira. Brejeira, atrevida, picante quanto baste, é geralmente cantada ao desafio nos arraiais, onde de forma engraçada, se vão cantando as agruras e as alegrias da vida.
Um abraço para todos.
P.S. O cavaco é um marisco (o grande dicionário da língua portuguesa apresenta-o como «peixe do mar dos Açores», primo afastado da lagosta, meio adocicado, sensaborão, apanhado com frequência no mar dos Açores. Há quem goste: Eu prefiro, de longe, a lagosta. Só que esta é muito mais cara. Por isso, à falta de melhor, lá se vai trincando o cavaquinho de vez em quando. Que remédio!

AS VELHAS

GUERRAS DO CAVACO E DA LAGOSTA
(à moda da Terceira)


Há um marisco no mar
Que só serve para enganar
Os incautos e glutões.
Há quem diga que até gosta
Mais dele que de lagosta,
Mas nada de confusões.
Só quem tem gosto estragado
Ou quem delire de febre
Se sentirá confortado
A comer gato por lebre.

Agridoce, meio insonso,
Cara de pau, olhar sonso,
Quem havera de dizer
Que viria a ser proposto
Como prato de bom gosto
Para em Belém se comer.
A quem aprecia e gosta
De produtos a pataco
Direi que meia lagosta
Vale mais que um cavaco.

Baço, obscuro, opaco,
Foi sempre assim o cavaco,
Marisco sensaborão.
Quando se sente acossado
Tenta passar disfarçado
Ou se arma em sabichão.
Petulante, sem estofo,
Um convencido de truz.
De pensamento balofo,
Mestre em criar tabus.

O cavaco, vejam bem,
Deu em pensar que em Belém
Tinham montado um radar.

Ficou cheiinho de medo
Que escutem algum segredo
Que não queira revelar.
Eriçado, entrou logo,
Contra todos em disputa
E a largar forte fogo
Contra os filhos da escuta.

A lagosta, avermelhada,
Afirmou não haver nada
Mas sempre lhas foi cantando:
Cavaco, toma juízo
Senão - sou eu que te aviso -
És cozido em lume brando.
Cavaco baixou a crista,
Acabou por afirmar
Que a lagosta sacrista
Voltasse a governar.

E ela vai governar,
Já se habituou a mandar
Seja nos ares, seja em terra.
No mar então nem se fala!
Se quiserem apanhá-la,
Vão ter luta, vão ter guerra
Do alecrim, da manjerona,
Do cão, do gato e do rato,
Guerra da uva mijona
Que se vende ao desbarato.

Meus senhores, dêem-se bem!
Cavaco, vá para Belém,
Onde é apreciado!
Lagosta, vá para São Bento
Que é santo de sustento
E de gosto requintado!
Se cada um no seu posto
Não cuidar da sua vida,
Ou o cavaco é deposto
Ou a lagosta é comida.

FIM

terça-feira, 27 de outubro de 2009

REFLEXOS





Barco Rabelo reflectido nas águas espelhadas do Douro
Foto de Osvaldo Ribeiro


1

BARCO RABELO

Meu barco
Meu berço
Meu sonho
Meu norte
Meu rumo
Meu ser
Minha alcova e rota
Mapa de brincar
Devaneio e meta
Atracção e fuga
Encanto e fúria
Pesar e miragem
Meu sol e luar
Espelho
Imagem
Do mundo por vir
Do mundo a achar

Meu barco rabelo
No teu balançar
Deixa-me dormir
Deixa-me sonhar
Quero reflectir
Quero recordar
e reencontrar
em ti a criança
embalada
no teu balançar
para ser levada
Quando já crescida
No bojo da esperança
Para o mar da vida



Imitação de um painel


Ideia e foto de Osvaldo Ribeiro

2

Movimento reflexo

Eis que dou por mim - reflectido no espelho estilhaçado do íntimo do ser - a reflectir sobre a capacidade de amar do poeta que tudo abarca, que a todos acolhe no seu infinito e insaciável amplexo amoroso. O poeta ama, ama sempre, como proclamou Florbela Espanca, perdidamente, este, aquele e o outro, toda a gente…
Sina de poeta!
Mas…Será possível? É aqui, perante esta pertinente questão, que se fixa a minha reflexão.
Que pensar?
Apenas isto: Que
O poeta é um sonhador.
Sonha tão completamente,
Que chega a sentir amor
Amor para toda a gente.

Plagiando ainda mais de perto o poeta dos poetas, Fernando Pessoa, o criador de sonhos por excelência, poderá dizer-se que

“O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir” amor
Amor que “deveras sente”.

O poeta quando ama – o poeta ama sempre – ama em cada ser o ideal que o povoa. O poeta voa, voa, sempre em busca do seu Graal, do seu ideal. Onde poisa o olhar, aí erege um pedestal para nele implantar a coisa ou pessoa amada, aquela que, naquele momento, encarna o seu ideal.
O poeta quer a todos por igual, ama a todos com igual intensidade e ardor.
O poeta vê em tudo e em todos o seu ideal.
O poeta nunca esquece quem amou. O poeta nunca olvida o seu ideal.
O poeta é capaz de amar, ao mesmo tempo e com igual intensidade, este, aquele, todos, toda a gente, a pessoa em que o poeta vislumbra o seu ideal. Se é bela ou feia a pessoa amada, isso é de somenos. Aos olhos do poeta será sempre, sempre bela, pois que o seu rosto será sempre o rosto simaginado, o rosto do seu ideal.
O ideal do poeta é incomensurável. Nenhuma mulher, ou homem, coisa ou pessoa, o preenche. Daí a propensão (ou necessidade?) do poeta para amar, simultaneamente, com a mesma exaltação, inquietude e intensidade, tudo e todos.
O poeta é o amante ideal, o amante ardente e volúvel, o amante pouco recomendável, o amante de amores arrebatados, de amores eternos, enquanto duram.

André Moa

sábado, 24 de outubro de 2009

HAJA SAÚDE








Fonte da Moa – foto Osvaldo Ribeiro


HAJA SAÚDE

- Haja saúde! - Assim se saúdam os amigos.
- Haja saúde… - vociferam os quase inimigos, ao virarem-nos as costas, antes que lhes salte a tampa e cheguem a vias de facto, com a raiva mal contida a espumar-lhes nos cantos da boca.
- Haja saúde e coza o forno – pronunciam a torto e a direito os bem-aventurados pobres de espírito.
- Haja saúde e merda, que deus não pode dar tudo – digo eu com muita frequência. Esta fase vem-me, por certo, dos longínquos Idos em que passei pela tropa, pois que é nitidamente de caserna este linguajar, onde perdi a ingenuidade do coração e a virgindade da linguagem. Até então eu nem merda dizia. Agora, tresando. Não paro de me desfazer em trampa.
Vem este arrazoado todo e tão mal cheiroso a despropósito dos últimos meses em que andei constantemente com o credo na boca. E continuo, já que o antigénio carcinoembrionário (CEA) teima em galopar e os nódulos nos pulmões insistem em aumentar.
Significa isto que o raio do cancro teima em corroer-me no silêncio das interioridades. Mas enganou-se na porta, no corpo em que se alojou. Mal ele sabe com que besta se meteu. Se ele é persistente, eu sou dos casmurros que lutam até à exaustão. Esqueceu-se de que sou natural de Tabuaço. Pode roer-me a tábua mas vai partir os dentes, gemer e recuar irremediavelmente quando chegar ao aço, conforme, muito sabiamente, alvitra o meu irmão.
Assim sendo, estou convicto de que vou continuar a beber, durante muitos e bons anos, da bendita água da Fonte da Moa.
Lisboa, 2009-10-23
André Moa

domingo, 18 de outubro de 2009

A PROPÓSITO DO DESPROPÓSITO DE MAITÉ PROENÇA

O mal foi sair à rua,
vestidinha, em Lisboa;
quando ela apenas nua
e muda seria boa.

Abriu a boca, cuspiu...
quebrou-se-lhe o pedestal.
Sabem que mais? ...Que a pariu!
Que não volte a Portugal.


Escrevi, está escrevido.
E se o não tivesse escrito?
Rebentava de raiva.
Até porque cheguei a ser fã dela,
mesmo vestida.

Abreijos
André Moa

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

RELATO POÉTICO DE UM PASSEIO A TABUAÇO

FADO TURÍSTICO
POR TERRAS DE TABUAÇO – DOURO VINHATEIRO
(letra de André Moa; música do fado andava a esgraçadinha no gamanço)


Andava o ‘esgraçadinho’ a sofrer
Este ar poluído de Lisboa,
Até que uma voz lhe vem dizer
Vai mas é passear, ó André Moa.

Então no dia dezoito de Setembro
Lá seguimos viagem – eu e o Tó.
E fomos recebidos – bem me lembro –
Com amizade, abraços, pão-de-ló.

Não terá sido bem esta a ementa,
Mas para o caso isso tanto faz,
Sei é que o serão foi de arrebenta
E até cantei o fado como em rapaz.

Boa terra do Dão esta primeira
Que a todos recebeu com mil carinhos.
A amizade jorrou a noite inteira
Na linda aldeia Rio de Moinhos.

Ana e Osvaldo foram os senhores
Que receberam estes foliões.
Que belo par! São mesmo uns amores!
O supra sumo dos anfitriões.

Passados os primeiros minutinhos
Entre gente que não se conhecia
Com uns abraços, beijos e carinhos
O gelo derreteu, veio a alegria.

Foi um serão de truz. Boda, cantares…
Reinou a noite inteira a amizade.
Pudera! Bons petiscos, bons manjares…
Só mesmo se houvesse má vontade.

Boa vontade, boa disposição,
Manifestou bem cedo o grupo todo.
Bastou escancarar o coração
Para a festa surgir. Que grande bodo!

Dormiu-se pouco, mas profundamente.
Bem apaparicados os corpinhos,
Logo o grupo se encontra bem em frente
Da Igreja do Senhor dos Caminhos.

Depois da bem urdida explicação
Feita pelo Zé, irmão da querida Ana,
Sobre as colunas, sobre a construção,
Lá segue o grupo em fim-de-semana.

Deixámos para trás terras do Dão
Para marcharmos por terras do demo.
Subiu-se a São Torcato. Foi então
Que se comeu, cantou, naquele ermo.

Ala, que se faz tarde e o destino
Como sabeis, de hoje, é Tabuaço,
Amado mundo onde fui menino,
Meu chão, meu berço e colo, meu regaço.

Subimos serras, fomos ver o Douro…
Belas paisagens a perder de vista!
O rio – o nome o diz – é um tesouro
Que só um coração d’ouro regista.

Fomos a um santuário, uma adega,
Comemos o famoso bacalhau,
Já noite alta, e para a sossega,
Junto à fonte da Moa, houve sarau.

A Verdinha e o Kim cantaram Brel,
A Laurinha e eu, que par de dança!
Todos cumpriram bem o seu papel,
Todos contribuíram para a festança.

Por certo efeito dessa bela água
Que sai da fonte Moa, de mansinho,
E lava a quem a bebe toda a mágoa,
E embriaga mais que qualquer vinho.

Vinho também beberam e do bom.
Eu tive que fazer cruzes na boca.
Desta vez eu cantei fora do tom,
Uma vez que a saúde ainda é pouca.

Essa água fresquinha a correr
Aos golos pela goela seca abaixo,
Mesmo à noite dá para aquecer
Como um bom vinho fino, um bom Cartaxo.

No moinho das poldras, figo e uvas,
E o cantar das águas desse rio
Que nos aquece a alma que nem luvas
As mãos enregeladas pelo frio.

Fomos dormir à Quinta das Herédias
Depois de alguns provarem vinho fino
A noite curta deu-nos curtas rédeas,
E não nos permitiu perder o tino.

Que lindo sol! Que dia promissor!
Ainda temos muito para andar.
E lá p’ra a tarde vai fazer calor
E muita gente tem que regressar.

O tempo é curto. E tanto por ver!
Todos gostaram e não viram nada!
Adeus, vamos embora, tem que ser…
Valeu pela amizade reforçada.

Gostei de vos mostrar meu pátrio Douro,
Gostei deste grupinho bem peralta
Verifiquei que o maior tesouro
Sois vós, amigos meus, ó gente, ó malta!

Verdinha, Leo, Laura, meu irmão!
Luisa, Kim, Luís, Osvaldo, Ana!
Para tamanha e linda procissão
Seria curta mesmo uma semana.

Mas não nos faltarão ocasiões
Para recarregarmos baterias
Palpitam-nos no peito corações
Que dão para aquecer milhentos dias.

Ficou tanto por ver e por dizer!
Havemos de voltar! Haja esperança!
O Sol em nós acaba de nascer!
A Vida em nós ainda é uma criança!

Abreijos para todos.

André Moa
 
Que cantan los poetas andaluces de ahora...