SEJAM MUITO BEM VINDOS A ESTE BLOG!--------ENA!-- TANTOS LEITORES DO MEU BLOG QUASE DIÁRIO! ---ESTA FOTO É UMA VISTA AÉREA DA MINHA TERRA,-TABUAÇO! UM ABRAÇO PARA CADA UM DE VÓS! -ANDRÉ MOA-

DIÁRIO DE UM PACIENTE II

terça-feira, 30 de novembro de 2010

UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS AOS SETENTA só SESSENTA DE POESIA


I

DE GRAU 8

TERRAMOTO DE 1 DE JANEIRO DE 1980
(e eu que com outros o vivi dele dou este testemunho)

I

No degrau 8
anéis de medo
prenderam-nos
os passos.

Com bocas de adeus
gritámos nomes.

E ali ficámos
abraçados
à espera.

Para morrermos juntos.
Ao compasso de grau 8.


II

15 horas
39 minutos
16 segundos

o grito perfilado
da torre carcomida escorre

até que os olhos fogem para longe
cansados de fixar um tempo assim.
Mas na memória o momento imóvel
circula à velocidade do desespero.

III

apareces-me difusa
bailarina breve
flor arrebatada
angra sem barcos
âncoras mordidas
sensação à beira da rotura

não consigo conhecer-te
luz finita
visão perdida
desejo vermelho
emanação de sangue

terra

susto de fogo

Angra

cidade cinderela
ao bater do desencanto

IV

No patamar suspenso da poeira
foi a cidade violada

a lua passou pelos escombros
clara foi a noite
e acordada

em cada rua mil fantasmas
decadentes
percorreram as ruínas

abraçámo-nos ao longo da noite
em todas as esquinas

V

este sol é cinza-escuro
estes raios sem clarão
é envolvente esta bruma
este mar tem alcatrão
as aves voaram longe
nasceram mortas as flores
prestes o lago está seco
as árvores choram cansaços
o amor mora num beco
perdeu pernas mãos e braços
esta casa é pano cru
esta vidraça é opaca
os muros devoram hortas
ninguém evita a ressaca
certos homens são robots
eu já não sei o que sou
os tectos são terra escura
esta espuma é amarela
houve naufrágio por certo
o esqueleto dos barcos
está pendurado no cais
os abutre rondam perto
a igreja feita de torres
devora a paisagem toda
as crianças são ausentes
a erva está ressequida
os jardins estão doentes…
emigrou daqui a vida?

André Moa



domingo, 28 de novembro de 2010

HAJA SAÚDE





APONTAMENTO ANTICANCRO
42º

Nos primeiros 41 apontamentos anticancro limitei-me a transcrever trechos do Livro «Anticancro – um novo estilo de vida» - de David Servan-Schreiber. Se bem que as transcrições fossem escolhidas por mim, a pensar na minha própria experiência, a verdade é que não a associei directamente ao que do livro ia respigando. Vou passar a fazê-lo agora, por me parecer que, assim, mais úteis poderão ser as citações retiradas daquele livro que muito me tem ajudado, nomeadamente no aspecto psíquico, anímico, ao verificar que a maioria dos seus ensinamentos, já eu os estou a pôr em prática, há muitos meses, por indicação do naturista que me tem aconselhado e tratado desde Junho de 2009. Há dias chegou-me a informação, através da terapeuta quântica que também estou a seguir, que um médico indiano que já consultei em Maio e em Outubro terá dito que, não fora o regime que estou a seguir e a cumprir à risca, (tirando as poucas mas honrosas excepções sempre que me desloco a Tabuaço ou me junto com amigos, sem a superintendente Teresa por perto) já por cá não andava. E eu concordo, ao lembrar-me que dois grandes amigos meus e da família faleceram ambos de cancro nos pulmões e foram rapidamente dominados pelo mostro que eu tenho mantido mais ou menos freado. Trota, mas não galopa. E enquanto o pau vai e vem, quem sabe…? Pelo menos vivem-se mais uns anitos, uns mesitos, uns dias mais. Que nunca são a mais, nem de mais. Isto para o meu gosto, claro.
Como leio no livro que venho citando: «Descobrir que temos um cancro é um choque. Sentimo-nos traídos pela vida e pelo nosso organismo. Mas descobrir que tivemos uma recaída (foi também este o meu caso – primeiro, cancro no recto; ano e meio depois, nos pulmões) é ainda pior. É como se nos apercebêssemos subitamente de que o monstro, que julgávamos ter aniquilado, ainda está vivo. Continuara a perseguir-nos na sombra e acabara por voltar a apanhar-nos. Será que nunca haverá tréguas?» Boa pergunta, caro doutor David Servan-Schreiber, boa pergunta, para a qual apenas me acode uma resposta: claro que haverá tréguas. Importa é persistir até o monstro dizer basta, rendo-me a este fortalhaço das dúzias, que se borra todo, que faz das fraquezas forças, mas não desiste nunca de me dar luta.
André Moa


quarta-feira, 24 de novembro de 2010

DEMOCRISE

Diz Líder da CGTP: "Greve serve para castigar uma certa burguesia". Qual delas?
Foi uma jornada de contestação - diz líder da UGT

autoflagelação?

SEM NOBREZA
Tenho da política e dos políticos que a professam com um sentido de missão, um alto conceito. Entregar-se, por toda a vida, oferecer toda a vida, colocar a vida inteira ao serviço da polis, da civitas, dos cidadãos, dos povos, sempre constituiu para mim motivo de profunda admiração e reconhecimento. A política é um serviço e uma arte plenos de nobreza e dignos de exaltação.
Os políticos que à política se dedicam com entusiasmo e espírito de solidária actividade são os verdadeiros heróis dos tempos modernos. Daí que haja tão poucos bons políticos. Como tudo o que é nobre, a política exige dedicação permanente, amor eterno, paixão, lucidez, sensibilidade, lealdade, frontalidade, raça e nobreza por parte de quem a serve. A política implica denodo e conhecimento, sabedoria e entusiasmo.
Abomino a politiquice e os politiqueiros que da política se servem, seja para ganhar a vidinha, seja para enaltecer o seu ego.
Os “políticos” que o são apenas quando lhes dá na real gana, quando vislumbram à sua frente um tapete vermelho a indicar-lhes o caminho do trono cobiçado, que só investem pela certa, que desdenham da política e dos políticos, que se envergonham de se dizer políticos; “políticos” que se escudam, que actuam com um calculismo desmesurado, que se vangloriam de não ser políticos profissionais, que desdenham do que querem comprar, ou, melhor, do que pretendem lhes seja oferecido em bandeja de prata, que, manhosamente, se calam, que só falam quando lhes convém, que se envolvem em ridículos mistérios, que escarvam no chão com patas trôpegas, medrosas e matreiras, à espera do momento aprazado, para, traiçoeira e covardemente, marrarem, ferirem, ganharem a contenda, são seres sem carácter, sem raça. Estes “políticos” fazem-me lembrar touros sem nobreza. Os touros refugiam-se nas tábuas. Aqueles, no silêncio. Os touros suspiram pelo curro; os “políticos de ocasião”, pelos momentos de fácil ovação. Como sabemos, a cornada mais sangrenta é a cornada do touro matreiro, é a cornada do touro sem nobreza.
André Moa

P.S. – Hoje é feriado nacional para os que resolveram fazer greve, protestar, não trabalhando. Que irá parir esta greve? Um ovo podre ou uma noz chocha?

domingo, 21 de novembro de 2010

UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS - AOS SETENTA só SESSENTA DE POESIA

DE GRAU 8
COLECÇÃO GAIVOTA/35
SECRETARIA REGIONAL DA EDUCAÇÃO E CULTURA
1984

I

DE GRAU 8

INTROITO

A ser verdadeiro o aforismo - a dor é a madre da poesia - então eu só comecei a ser poeta em 1980, então, este é o meu primeiro livro de poesia, porque o primeiro gerado pela dor, nascido da dor, parido com dor, alimentado pela dor.
«De grau 8» é uma colectânea que engloba quatro livros: «De grau 8» - «Espaço Disponível» - «A Liturgia das Horas» - «Nocturnos». Exceptuando-se uma boa parte dos poemas do livro «Espaço Disponível» escritos nos anos da segunda metade da década de setenta, a que costumo chamar a minha cardiolírica[1] açoriana, todos os outros foram nados e criados na dor e pela dor.
Todos os poemas do livro «De Grau 8» não passam de um grito de alma incontido, ante a calamidade gerada pelo terramoto do dia 1 de Janeiro de 1980, um espelho mais ou menos fiel da dor própria e alheia, da dor que fui sentindo, um conjunto de ais que fui apanhando nos ares carregados dos múltiplos lugares em que muita gente anónima sentia na pele e sofria, pasmada, os resultados da catástrofe que assolara a ilha e que eu visitava duas vezes por dia, para fazer o levantamento das suas necessidades mais prementes e da forma como poderiam ser resolvidas. Durante três meses fui uma espécie de mensageiro e correia de transmissão entre a desgraça e as brigadas abastecedoras dos bens solicitados, que iam de um simples cobertor a produtos de mercearia, colchões, medicamentos… Bem poderá dizer-se que «De grau 8» é composto por um único poema feito de XXXI pedacinhos da grande dor colectiva provocada pela tragédia que, literalmente, desabara sobre as nossas cabeças, esmagando muitos, a todos irmanando de imediato numa comunhão de sentimentos, num gesto raro, espontâneo e arrebatador de solidariedade. «Degrau 8» nasceu como testemunho do terramoto de 1 de Janeiro de 1980 que assolou toda a Ilha Terceira, e muito em especial a cidade de Angra do Heroísmo, onde, ao tempo, morava, e como homenagem e preito às suas vítimas, ao heróico povo daquela ilha mártir. Daí se justificar a edição desta colectânea pela Secretaria Regional da Educação e Cultura dos Açores, em 1984, graças ao empenho do grande poeta, escritor, ensaísta e amigo Álamo Oliveira que, para além do mais, se encarregou da capa e do arranjo gráfico.

1980 foi para mim e para toda a família um ano trágico. Começou mal, acabou pior.
Desgastados pela incessante azáfama no apoio prestado às populações mais carentes, cansados de vivermos entre escombros, saturados de corpo e alma, ansiosos por retirar durante um mês os três filhos daquele pesadelo que muito os perturbou, tomámos como uma bênção, uma benesse o embarque para Lisboa nos finais de Junho, em gozo de férias, na companhia dos meus pais e irmãos que morriam de ansiedade por nos reverem, para mais depois do que passáramos e vivêramos. “Fugíamos” de uma catástrofe, viemos embater noutra bem mais trágica para a família.
Depois de quinze dias no Algarve, na companhia do meu irmão António, da Cândida, minha cunhada e do João, então uma criança de quatro anos, regressávamos nós a Lisboa, para no dia seguinte marcharmos com os demais familiares em romagem de saudade a Tabuaço e uns dias de descanso na casa mãe, quando, perto de Setúbal, a carrinha conduzida pelo meu irmão mais novo, o Artur Manuel, que se deslocara na véspera ao Algarve para ajudar a trazer a rapaziada e alguma tralha, foi esmagada por um autocarro e um automóvel ligeiro. Não vou descrever ao pormenor esse choque brutal, mas apenas dizer que do acidente resultou a morte do meu irmão, a do meu filho mais novo e graves e vitalícias sequelas nos outros dois filhos e no meu sobrinho. A minha vida passou a ser completamente outra. Nunca mais me sorriu. Tive de abandonar os Açores, para poder acompanhar os filhos a carecerem de cuidados médicos aturados. Vi-me obrigado a alterar todos os projectos e a reformular o meu modus vivendi. Vi-me destroçado. E assim fiquei para sempre.
Narro estes tristes acontecimentos como intróito para melhor se poderem compreender os dois últimos livros desta colectânea – A LITURGIA DAS HORAS e NOCTURNOS – ambos escritos nos meses imediatamente a seguir ao do acidente, com a alma a sangrar e o espírito perturbado.
Vou agora, trinta anos volvidos, dissecar os poemas destes quatro livros. Vou sofrer, mas eu nunca fugi ao sofrimento, já estou a ele habituado. Não sei se por ironia do destino, se por ser racionalista, positivista e um inveterado optimista, continuo, apesar de tudo, a amar e a sentir um forte apego à Vida.

André Moa

[1] Cardiolírica - palavra rica de significados e conotações, igualmente rica de sonoridades, sugestiva e plena de matizes, criação do poeta açoriano José Henriques Borges Martins e por ele utilizada como título de um dos seus múltiplos livros.


quinta-feira, 18 de novembro de 2010

HAJA SAÚDE

Novembro de 1964, em plena avenida Luisa Todi, em Setúbal, às nove e meia da manhã, aquecido por uns moscatéis que recebi como caché pela brilhante actuação.

HAJA SAÚDE
Continuo à espera de ser chamado para ser examinado pelo cirurgião cárdio-torácico, para se avaliar da viabilidade de ser operado aos pulmões. Não estou esquecido, segundo disse o oncologista ao meu irmão. Por mim não tenho pressa. Enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Até porque continuo esperançoso de que a coisa estabilize sem necessidade de intervenção cirúrgica que reservo para quando tiver que ser, se tiver que ser, para quando não houver alternativa.
Até lá, vou cantando e rindo. E chorando, se vier a talho de foice. Animando-me como melhor puder e souber e animando um pouco a malta. O meu irmão, que nem um diligente agente, tem-me a agenda artística preenchida. No dia dez, actuação em Sintra, na abertura da exposição de pintura; no dia dezasseis, na festa do Natal para os doentinhos do Hospital da Força Aérea. E eu, no meio disto tudo, vou-me rindo e fazendo das fraquezas forças e nunca lhe digo que não. Queres que cante? Eu canto. Queres que eu recite? Eu recito. Queres que declame? Eu declamo. Queres que dance? Eu danço. Queres que tussa? Eu tusso. Com uma única condição: ser o primeiro artista do sarau, para me poder pirar logo de seguida, antes que me comece a dar o amoque.
Abraços
André Moa

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

DEMOCRISE


DEMOCRACIA E LAICIDADE
É evidente que são as circunstâncias que nos norteiam a consciência. Mesmo assim, devemos esforçar-nos por nunca defender seja o que for por oportunismo e por hipocrisia, mas em obediência a uma profunda e arreigada e fundamentada convicção.
As várias escolas que frequentei exibiam numa das paredes um crucifixo, sempre ladeado pelo “mau ladrão” – o presidente do conselho - e o “bom ladrão” - o presidente da república.
Nem por isso deixei de me tornar antisalazarista e de me ter transformado num convicto humanista (ateu), antifanático e apóstolo da tolerância. Mesmo assim, penso que não eram imagens recomendáveis para as litlles criancinhas.
Aliás, Cristo deixou-nos provas de que era laico. Também ele se opôs aos vendilhões do templo, aos sacerdotes, aos respeitadores do sábado, aos sepulcros caiados, aos publicanos, aos ricos, aos dominadores, aos hipócritas e fariseus, aos que pretendem impor a sua vontade, os seus ideais, a sua religião, os seus pontos de vista, aos demais, não por persuasão, por educação, mas imperativamente, à força, a ferro e fogo. Por estas e por outras é que ele foi crucificado.
Tenho a plena convicção de que se ele vivesse nos dias de hoje e pensasse e agisse como pensou e agiu quando por cá andou, se opunha à exibição de crucifixos por tudo quanto é sítio. Para mais, frente a inocentes criancinhas a quem o sangue, a simples lembrança de sangue, costuma arrepiar.
Num Estado de Direito que se proclama laico e com a obrigação legal de tratar por igual todas as ideologias e religiões, é uma questão de valores não permitir a exibição de símbolos ou ícones de qualquer religião. O mesmo princípio me leva a não aceitar a exibição de cartazes, propaganda política, partidária, eleitoral em qualquer edifício público.
Viva a democracia! O mal é que este é um conceito quase divinizado, transformado num quase mito, cada vez com mais definições, o que equivale a não estar bem definido. E não há nada pior para confundir as mentes do que conceitos indefinidos ou mal definidos.
Viva a tolerância! Viva a lucidez! Viva a amizade!
Um abraço amigo.
André Moa


sexta-feira, 12 de novembro de 2010

UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS

SKYLAB
O ALFA E O ÓMEGA

Aos setenta só sessenta de poesia
P(OVO)
EDIÇÃO DO AUTOR
COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO DE JOSÉ DINIS
Outubro/1979
ÚLTIMOS POEMAS DE P(OVO)

SKYLAB[1]

skylab
skylava
skyleva
se cai massa
se cai amassa
se cai leve
se cai breve
se cai neve
ferro e aço

cair ou não cair
eis a questão
no mar
em terra
cai ou não?
mais aqui
ou mais ali
sobre mim
mais adiante
perto
distante
suspenso instante

skylab
se cai lata
se cai mata

skylab
nova espada
de Dâmocles

viva a suprema liberdade
de um laboratório voador
celestial
desintegrado

viva o horror

é bestial
é um achado
é um amor

ATONIA

na era musical em que dedilho
as cordas emperradas do meu ser
não sei o que fazer

som atónico timbre sem brio
eu atónito e a batuta
tardia no reger

NASCI COM A GUERRA
CANTO A PAZ[2]

nasci com a morte
pendurada ao pescoço

a guerra abri ao som
do primeiro vagido

espantei todas as bocas
na boca da minha mãe
nos seus olhos molhados
pressenti
as suas e as minhas dores
presentes e futuras
e as de outras mães

eu a nascer e tantos a morrer
ainda hoje sinto remorsos de ter nascido

como eles morreram - em vão

meu berço balouçava ao lado
da sepultura dos que haviam nascido
apenas vinte anos antes de mim

em mim por mim
mães pais
muita gente
muita terra
foram mártires

em vão me libertei
das armas ao romper
da aurora

esperaram por mim
no dobrar da esquina
próxima da idade
adulta
adúltera
antes de descobrir
a geometria
e o poder
de um categórico manguito
e a coragem para o desenhar
e assim me libertar
deste polvo tentacular
que me amarfanha
e não ficar preso
para todo o sempre
entre o ser e o não ser
vivo



TERRA-ILHA[3]

o que pode o povo fazer deste mundo
para não ir de todo e de vez ao fundo?

o que temos não é nosso
só nos deixaram o osso
terra-ilha terra-fosso
água até ao pescoço

o que pode o povo fazer deste barco
para fugir ao lodo para sair do charco?

temos ventos de verdade
temos braços de vontade
sangue nas veias que arde
em febrões de liberdade
que mais cedo ou mais tarde
hão-de erguer nova cidade

muito pode o povo fazer deste mundo
para não ir de todo e de vez ao fundo

O ALFA E O ÓMEGA

no princípio era a força
e a força estava com o átomo
nele estava a energia em movimento
e o movimento era a vida
quando o átomo ressurgiu
animado de força original
o primata fez-se força inteligente
esqueceu-se das origens
tomou consciência das suas capacidades
e assim se assumiu
na sua dimensão humana.

no princípio era a razão
e a razão estava com o homem e a mulher
e a razão era o homem e a mulher
tudo começou nela
e sem ela nada foi
nela estava o cogito
e o cogito era o logos
e o logos resplandece no ignoto
mas o ignoto não o admite
do cogito outros cogitos surgiram
e do logos outros logos
necessidades vitais
preparavam novos voos
novos logos

eis senão quando o homem e a mulher
se descobriram na dimensão do amor

no princípio era o amor
o amor estava com o homem e a mulher
o amor era o homem e a mulher
e sem ele nada foi
nele estava a existência
e a existência era a essência das coisas
e a essência na existência resplandece
da existência outras existências surgiram
e da essência outras essências
e do caos que a essência era
surgiu a alegria
o sacrifício e a dor
e a alegria era a dor
e foi a comunhão e o martírio
o mal e o bem
e a confusão foi maior
no coração do homem
e da mulher
a alegria fez-se medo
e o medo era o ídolo
e o ídolo a opressão
da opressão outros medos surgiram
e o domínio
e do domínio outros domínios
e do caos que o domínio era
surgiu o coro dos escravos
e a esperança foi gorada

logo outra esperança surgiu
outra esperança foi gerada
em masmorras e exílios
na pobre repartição
da angústia e do pão
onde a unidade foi
exemplificada
de correntes e grilhetas
carregada
começou
foi assim que iniciou
a marcha da libertação

no princípio a libertação
era o verbo
e o verbo se fez carne
e habitou no homem
e na mulher agrilhoados
e o verbo se fez acto
e foi um acto de amor

no alfa e no ómega
era a força do amor


Apontamentos anticancro 41
«Uma tarde, fui tomar chá com uma amiga, uma das poucas pessoas que sabiam da minha doença. Estávamos a conversar sobre o futuro, quando ela me disse, algo hesitante: “Tenho de te fazer uma pergunta, David…O que estás a fazer para tratar o teu ‘terreno’”? Ela sabia que eu não partilhava do seu entusiasmo pela medicina natural e a homeopatia. Para mim, o conceito de ‘terreno’ – de que nunca ouvira falar na Faculdade de Medicina – não se enquadrava na medicina científica. Respondi-lhe que estava a ser muito bem tratado, e que nada mais havia a fazer a não ser esperar que não houvesse uma recidiva. E mudei de assunto.
Lembro-me da alimentação que fazia na altura. Quando estava no hospital, para não perder tempo com o almoço, optava por algo que pudesse comer durante uma conferência, ou até no elevador. Quase todos os dias, almoçava chili com carne, pão branco e Coca-Cola. Em retrospectiva, esta combinação parece-me agora explosiva, ao associar farinha branca e açúcar, gorduras animais carregadas de ómega 6, hormonas e toxinas do ambiente. Nunca cheguei a mentalizar-me completamente de que, se tinha um cancro, era provavelmente porque havia algo no meu ‘terreno’ que permitira o seu desenvolvimento, e que eu precisava de cuidar de mim para reduzir o risco de uma recidiva. Até que o meu cancro voltou, exactamente no mesmo sítio.».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» - de David Servan-Schreiber.

[1] Este skylab – laboratório espacial – deu em desintegrar-se e gerou o pânico cá em baixo na terra, por se temer ser atingido pelos estilhaços em que podia transformar-se. Tudo está bem, quando acaba em bem. Final feliz. Nada de grave aconteceu. Nada de grave foi divulgado. O pânico amainou.
[2] - Este foi o único poema que escrevi dos vinte aos vinte e quatro anos , em quatro anos de tropa, no dealbar da guerra colonial em Angola, onde residia desde os dezoito anos, com os meus pais e irmãos. Tempo seco de poesia esse em que vivi de botas cardadas nos pés e de armas mortíferas nas mãos.
[3] Este poema foi escrito e publicitado, em 1973, na cidade Angra do Heroísmo onde exercia as funções de Magistrado do Ministério Público. Numa tarde de sábado, bate-me à porta da casa dos magistrados um grupo de quatro ou cinco jovens estudantes (lembro-me do Evaristo Picanço, do Paulo Araújo, do Lobão), perguntaram se podiam entrar, que me queriam mostrar uma coisa. Quando esperava receber alguma denúncia ou queixa, puxam de uma viola e começam a cantar uma música que tinham acabado de compor, com esta letra. Ri-me e agradeci a gentileza. Anos depois, soube, julgo que pelo próprio, que o Picanço a cantou com frequência, em pleno PREC, em várias campanhas e comícios da esquerda revolucionária, em muitos locais do continente, onde passara a residir, julgo que para continuar os estudos.
André Moa




segunda-feira, 8 de novembro de 2010

NA SENDA DO CAMISOLA AMARELA... SEGUE O PELOTÃO DO GT

Ana e Teresa
André Moa (esta camisola não é dele e nunca a vestiu. Truque fotográfico)

Luisa

Kim

Laura


Eusébio - qual D. Thedon

Cândida


António

Verdinha


Leo

Ana

Osvaldo

Zezita Vitor


Dad


Zé do Cão (o homem da camisola amarela, sem truques paparásicos)
Só para manter viva a chama deste grupo do GT e dois convidados: a Dad e o Zé do Cão. O Eusébio caiu de paraquedas porque se anunciou como o Don Thédon. Isto devem ser travessuras do Kim... ou do Luis.
Vejam só a amizade, único e real sentimento, estampada no rosto de todos.
Abreijos do Osvaldo

Apontamentos anticancro 40
«Se todos nós adoptássemos uma alimentação biológica e equilibrada, ajudaríamos não só o nosso organismo a desintoxicar-se, mas também o planeta a recuperar o seu equilíbrio. O relatório de 2006 das Nações Unidas sobre alimentação e agricultura concluiu que os métodos actuais de criação de animais para consumo humano são uma das principais causas do aquecimento global. Os nossos modos de produção e consumo de produtos animais estão a destruir o planeta. E tudo parece sugerir que estão a ajudar a destruir-nos também.
“Não podemos viver saudáveis num planeta doente”
A Terra é nossa Mãe. Tudo o que recair sobre a Terra recairá sobre os filhos da Terra.
Se os homens cuspirem no chão, cospem em si próprios. Uma coisa sabemos: a Terra não pertence ao Homem, mas sim o contrário. Tudo está interligado, como o sangue que une uma família. Tudo está interligado».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» - de David Servan-Schreiber.















sexta-feira, 5 de novembro de 2010

UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS

Aos setenta só sessenta de poesia
P(OVO)

EDIÇÃO DO AUTOR
COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO DE JOSÉ DINIS
Outubro/1979
(CONTINUAÇÃO)

CALAFRIO


laço
corrente
cadeia
cafeteira
turbilhão
mola
embaraço
canseira
botão
napalm
na mão
fósforo
rastilho
neutrão
óculos
para usar
além túmulo
copo
taça
brinde
póstumo
caneta
cadeira
coiro
livro
de oiro
herói
almofada
chaves
da cidade
lâmpada
lustre
noivado
letras
jornal
liberdade
tesoura
faca
petardo
corpo
sangue
terra
cinza
e pó
paz
que
ninguém
constrói
……….
e como isso
me dói

MENINO SIM MENINO NÃO

menino como tu
menino e moço
nunca foi menino como tu

havia um fosso

nasceste numa alcova
dormiste em berço de oiro
ele não
apenas uma enxerga
num desvão

tu nasceste em camisa
ele nu
e logo agasalhado
embrulhado
em xaile de cambraia
ele veio ao mundo
numa noite invernosa
envolto em fria brisa

nunca foi menino como tu

tu nasceste sapiente
ele teve de estudar
tu foste sempre gente
ele para o ser
teve muito que lutar

brincaste com o fogo
toda a vida
nunca fizeste nada
ele teve sempre um só brinquedo
o cabo de uma enxada

tu tens corpo direito
o dele é dorido
e curvado

depois de tudo isto
coisa esquisita
quem ganhou a batalha

tu vegetas parasita
morres de tédio
ele é homem de critério
sofre ama trabalha

ARRITMIA

hoje
como ontem
como há muito
nada
nada de especial
nunca
acontece
nada
de especial

não se pode
promover a
essencial
um ataque de
sarna
impertinente
sempre igual
por mais que
morda
ainda que
geral

nada
de novo
no reino
de
Portugal
e esta
pasmaceira
é
universal

à parte
isso
continua a
exploração
habitual
sempre
a mesma
esperança
adiada
que
por ser
adiada
prometida
para o homem
que há-de vir
não vale a
pena

e é
escusado
fingir

o homem é
ou não é
aqui e
agora
tudo
ou
nada
hoje

o homem é
ou não é
acto
presente
não por-vir

ninguém
pode ser
depois
depois de ser
a vida é
hoje
a vida é
antes
de perecer

o amanhã
só acontece
amanhã
se
acontecer

amanhã
é o silêncio
de agora

o passado
foi
a taça
que
se bebeu
e deitou fora

o passado
morreu
antes
da hora
desta hora
da hora
precisa
em que
afogamos
a frustração
do não
do não hoje
do não agora

entretanto
a morte
vem

está

alguém
André Moa
Apontamentos anticancro 39
«Para nos protegermos do cancro, podemos limitar a nossa exposição aos factores tóxicos no ambiente. De entre todos os já identificados ou altamente suspeitos, seleccionei três que me parecem ser os mais importantes e os mais fáceis de alterar:
1. Consumo exagerado de açúcar refinado e farinhas refinadas…
2. Consumo exagerado de ómega 6 em margarinas, óleos vegetais e gorduras animais (carne, lacticínios, ovos) com origem em métodos agrícolas desequilibrados…
3. Exposição a contaminantes que entraram no ambiente desde 1940 e que se acumularam na gordura animal.
Assim, o primeiro passo em qualquer processo de desintoxicação começa por consumirmos muito menos açúcar, farinhas refinadas e gorduras animais, e por reduzirmos a quantidade de alimentos que não sejam de origem “biológica”».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» - de David Servan-Schreiber.

terça-feira, 2 de novembro de 2010




Casa da Cidade Velha, Pádua.


Uma rua de Verona





O Cruzeiro da Verdinha,
na paragem em Veneza.




Hotel em Veneza


Venda de camisolas de clubes em Milão
onde só conhessem C. Ronaldo e Mourinho
(para desgosto de alguns)...


Osvaldo




















 
Que cantan los poetas andaluces de ahora...