SEJAM MUITO BEM VINDOS A ESTE BLOG!--------ENA!-- TANTOS LEITORES DO MEU BLOG QUASE DIÁRIO! ---ESTA FOTO É UMA VISTA AÉREA DA MINHA TERRA,-TABUAÇO! UM ABRAÇO PARA CADA UM DE VÓS! -ANDRÉ MOA-

DIÁRIO DE UM PACIENTE II

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Afinal...parece que vou poder continuar a postar!...

AS VERGONHAS DA IGNORÂNCIA

“As vergonhas da ignorância são as que mais custam a confessar”, escreveu um dia Saramago nas páginas de uma das suas obras. Hoje sou eu quem de uma página se serve para confessar uma das minhas. Refiro-me às ignorâncias e não às vergonhas, porque sou das que ainda acredita no adagiário popular, que há muito consagrou que “Quem diz a verdade não merece castigo”. E se não merece castigo é porque das duas, uma: ou dela não se tem que envergonhar ou é já castigo suficiente ter vivido na ignorância.
Vivemos também de convicções e com convicções. As primeiras são todas as que fazem parte de um quadro de valores, em que precisamos de acreditar, e que servem de caboucos à construção diária das paredes das nossas vidas. As segundas são as que in-teriorizamos como certezas, mas que de um momento para o outro podem deixar de o ser. No entanto, enquanto duram, elas são de tal maneira seguras, que nunca nos questionamos sobre a sua validade.
Desde que me conheço que me habituei a receber, nas terras quentes da África onde morava, cartões de Boas-Festas que os parentes residentes na metrópole nos enviavam pelo Natal. Podíamos nada saber deles o ano inteiro mas, naquela altura, era um ritual sagrado: entrava-nos pela caixa do correio dentro a formulação de votos de Festas Felizes e um Ano Novo repleto de prosperidades. O adjectivo «repleto» era muito mais pomposo do que «cheio» e ajustava-se melhor à solenidade da quadra. Mas o meu olhar inocente de criança não se preocupava com a hierarquia das palavras. Preferia pousar naquela brancura da neve e deslizar pelas colinas à procura das copas triangulares dos pinheiros, debaixo dos quais se anichavam casinhas vermelhas, com janelas douradas pela luz que emanava do interior, e chaminés a fumegar odores de consoadas em família.
As casinhas eram sempre vermelhas, invariavelmente vermelhas, mas eu nunca perguntei por que razão eram elas sempre daquela cor. No meu processo natural de aquisição cognitiva, interiorizara que o vermelho era a cor que melhor se destacava no branco. E pensava que se as casas fossem brancas ou cinzentas, não haveria maneira de as distinguir por entre os infindáveis mantos brancos de neve.
E foi assim que adquiri mais uma das minhas certezas para a vida inteira: são vermelhas para se poderem ver melhor, ponto final! Uma resposta muito na tradição do universo infantil da história do Capuchinho Vermelho – para te ouvir melhor, para te ver melhor, até terminar no cruel desfecho... para te comer melhor!
Como a dúvida só existe quando a incerteza se instala, eu vivi todos estes anos sem necessidade de acrescentar perguntas a tantas outras que o viver diário permanentemente nos coloca. Até que um dia – e foi há bem pouco tempo – alguém se encarregou de me provocar uma enorme decepção, ao fazer desmoronar uma sólida peça deste meu edifício de certezas. Aconteceu a semana passada, em pleno coração da paisagem norueguesa talhada na exube¬rante natureza dos fiordes. Em Flam – por ironia pronunciado como nome de pudim – ouvi a explicação dada por um guia turístico, que me deu a conhecer o gosto amargo da desilusão e o estrondo repentino de uma verdade que acabara de desabar no estreito desfiladeiro da uma sólida mentira que eu construíra só para mim. Uma só frase, dita sem qualquer cuidado especial, sem uma ponta de erudição e reduzida à sua mera função informativa, fez mergulhar no leito escavado do glaciar a visão romântica das casinhas pintadas de vermelho.
- Sabem por que é que as casas de madeira são desta cor? - perguntou-nos.
Ninguém ousou dizer fosse o que fosse. Perante o silêncio tímido de uma plateia que não queria avançar com respostas, continuou:
- Porque na época em que foram construídas, a tinta mais barata era precisamente a tinta vermelha. Hoje em dia é mais utilizada nas dependências - estábulos, celeiros, garagens, arrecadações -, destinando-se o branco à casa de família.
Naquele momento, quase me arrependi de ter planeado a viagem. Se a não tivesse feito, continuaria a pintar as minhas casas vermelhas com a cor poética do contraste, em vez de as cobrir com uma demão da mais desenxabida teoria económica baseada na poupança.
Fica agora compreendida a razão porque em pleno Verão eu venho invocar esquecidas paisagens de Inverno. É que este golpe só teve comparação com o que me foi desferido quando me contaram que o Pai Natal não existia. Durante muito tempo, recusei-me a viver sem ele e tentei prolongar-lhe a longevidade junto de todas as crianças da família, até que o ridículo as fizesse corar de vergonha.
Porque é minha convicção que mais vale morrer de vergonha do que começar cedo de mais a viver sem as fantasias que nos alimentam a imaginação.
Aida Baptista

Apontamentos anticancro 34
«O desequilíbrio entre os ácidos gordos ómega 3 e ómega 6 na nossa alimentação aumenta as inflamações, a coagulação e o desenvolvimento de células adiposas e cancerosas.
Os ovos – sinónimo de alimentação natural – já não contêm os mesmos ácidos gordos essenciais que continham há 50 anos.
Em todos os países há, claramente, uma relação directa entre a taxa de cancro e o consumo de carne e lacticínios. Pelo contrário, quanto mais isso for o tipo de alimentação de um país em legumes e leguminosas, mais baixa é a taxa de cancro».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

FÉRIAS


VOU DE FÉRIAS DURANTE 3 SEMANAS!
COMO NÃO TEREI COMPUTADOR PARA O LOCAL ONDE VOU, DEIXO-VOS AQUI O MEU ABRAÇO!
ATÉ À VOLTA!
UM ABRAÇO PARA TODOS!
ANDRÉ MOA

domingo, 25 de julho de 2010

CICLO REFLEXÃO



O FEITIÇO DA LINGUAGEM

A linguagem pertence na sua origem à era da mais rudimentar psicologia: encontramo-nos perante um rude fetichismo quando contemplamos os pressupostos básicos da metafísica da linguagem - quer dizer, da razão. É essa metafísica que vê em toda a parte acção e actor, é ela que acredita na vontade como causa em geral, é ela que acredita no «eu», no eu como ser, no eu como substância, e que projecta a sua crença no eu-substância sobre todas as coisas - só assim ela cria a noção de «coisa» [...]. O erro fatal que se insinua desde o princípio é o de que a vontade é algo que produz um efeito - que a vontade é uma faculdade. Hoje sabemos que é apenas uma palavra. [...]. Eu temo que não nos desenvencilharemos de Deus porque ainda acreditamos na gramática.
Nietzsche

Com a intervenção da língua, forma-se a linguagem. E é no linguajar, que os indivíduos duma sociedade comunicam entre si. Mais conhecida por Comunicação Social (verbal, gestual e escrita), é considerada nas democracias modernas (ditas avançadas), como o 4º. poder. Mas é o poder mais poderoso, pela faculdade que tem de influenciar os restantes poderes instituídos. Retratemos o que se passa em Portugal que é, desde há muito, o país mais pobre e atrasado da Europa a fazer fé na Comunicação Social que não se cansa de o repetir até à exaustão. Neste país, todos os poderes que constituem os pilares «democráticos» da sociedade são fortemente centralizados. Governa-se do núcleo central em benefício exclusivo do núcleo central, com total desprezo da periferia que, com espírito criativo designam de «paisagem». Aqui está uma forma moderna de colonialismo. E o centralismo português consegue obter um resultado espantoso. Promove, sem cessar, uma região considerada, estatisticamente, uma das regiões mais ricas da Europa, enquanto as restantes, com excepção do Algarve e da Madeira, são das regiões mais pobres e atrasadas do continente europeu. Esta assimetria irracional pode, a médio prazo, por em perigo a própria coesão nacional. O centralismo, é o cancro da sociedade, que se alimenta das regiões periféricas e circundantes para engordar e fortalecer-se. E a única maneira de combater a doença, é promover uma regionalização administrativa equilibrada e inteligente. Por vezes, pergunto-me, se terá valido a pena aos homens do norte (que são portugueses há mais tempo que os homens do sul), verter o seu sangue e sacrificar as suas vidas para conquistar Lisboa aos mouros.
Paixão Lima
«No princípio era o verbo».
- E no fim também - acrescento eu.
- «O gesto é tudo» - diz-se.
- E então a postura? – Pergunto eu
André Moa

Apontamentos anticancro 33
«Um DOS grandes mistérios da epidemiologia moderna, além do cancro, é a epidemia da obesidade. Depois do tabaco, a obesidade é o segundo factor de risco mais elevado para o cancro. O elo entre a obesidade e o cancro só recentemente se tornou claro. Só agora começamos a compreender que têm uma origem comum.
Os
Ómega 3 3 ómega 6 presentes no nosso organismo competem entre si para controlar as funções do nosso corpo. Os ómegas 6 ajudam a armazenar gordura e promovem a robustez das células, bem como a coagulação e a inflamação em resposta às agressões exteriores. Estimulam a produção de células gordas desde o nascimento. Por sua vez, os ómega 3 estão envolvidos no desenvolvimento do sistema nervoso, em tornar as membranas celulares mais flexíveis e na redução das inflamações. Também limitam a produção de células adiposas (gordas). O nosso equilíbrio fisiológico depende muito do equilíbrio entre os ómega 3 e ómega 6 no nosso organismo e, portanto, na nossa alimentação. Pelos vistos, foi este equilíbrio alimentar que se alterou nos últimos 50 anos ».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

sexta-feira, 23 de julho de 2010

O QUINTETO ERA DOURO - 4

Douro - foto Osvaldo
INTRÓITO

O nosso comum amigo, Ernesto Leandro, conseguiu convencer-me (grande feito), a participar e a compartilhar deste projecto singular. Com a sua persistência invulgar (direi chata), aliada à sua douta argumentação, conseguiu “levar a água ao seu moinho”. É reconhecido, aliás, o seu poder de persuasão. É dos tais que é capaz de convencer uma mula de que é um camelo. Se valeu a pena o esforço, é o que resta demonstrar.
Em todo o caso segue, em anexo, a criança que acaba de nascer. Se a criança tem futuro ou se morre na adolescência, antes de atingir a idade para ir à tropa, é o que resta saber.
O «escrito» do escriba, de latão dourado ou de ouro fino, é uma bebida servida fresca em copo de vidro ou canada (à vontade do freguês) em bandeja prateada, que não de prata, por causa da crise. É uma bebida de qualidade duvidosa que não deixa de ter, contudo, uma apreciável dose de álcool (além dos limites) pelo que não é aconselhável a menores. Pode ter consequências, mas estas não são graves, pois são breves e a ressaca é curta. Não provoca «danos colaterais», expressão dramática que desculpabiliza e justifica o crime indiscriminado, como se fosse desculpável o disparar da bala que mata pela pistola do atirador e em que este, despreocupadamente, encolhe os ombros e afirma sem remorsos visíveis “que não teve intenção porque foi um erro”.
Mas, voltando ao âmago da questão, direi que a bebida em causa é servida aos amigos que comungam e compartilham dos mesmos ideais e das mesmas memórias, ingredientes que constituem o cimento que solidifica a amizade que nos une e que nos liga uns aos outros, como irmãos que efectivamente somos.
A «bebida» é servida à «Pantera Negra», ao «Ernesto Leandro», ao «André Moa», ao «Zé Guilherme», ao «Cisne Dourado», ao «Melro Negro Luzidio», ao «Pardalito Saltitante» e a outros que não memorizei (não muitos) mas que também constam da lista.
Todos são pássaros, porque voam. Assim vamos voando em bando barulhento e folgazão como irmãos que vão juntos para a «borga». Voamos sem destino, asa com asa, entre o Céu e a Terra, mas muito mais perto do Céu já que à Terra, essa, «que a leve um raio».

13.09.2009
Paixão Lima

Apontamentos anticancro 32
«Toda a literatura científica aponta na mesma direcção: quem quiser proteger-se do cancro deve reduzir drasticamente o consumo de açúcar processado e farinhas refinadas. Consumir pão de vários cereais; optar por pão feito com fermento tradicional (massa azeda), em vez do mais comum fermento de padeiro, que faz subir muito mais os níveis de açúcar no sangue. Pela mesma razão, deve evitar-se o arroz branco e substituí-lo por arroz integral ou basmati, com índices glicémicos mais baixos. Acima de tudo, é muito melhor, para combater o cancro, comer legumes e leguminosas. Não só o seu índice glicémico é muito mais baixo, como os seus poderosos fitoquímicos combatem o desenvolvimento do cancro a olhos vistos. É essencial evitar doces e guloseimas entre as refeições. Certos alimentos, como a cebola, o alho, o mirtilo, a cereja e a framboesa, reduzem o aumento dos níveis de açúcar no sangue».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS

A GUERRA DO GARNEL
EDIÇÃO DO AUTOR
COMPOSIÇÃO E IMPRESSÃO DE JOSÉ DINIS
Fevereiro/1979

Peça de teatro em dois actos e um prólogo

Apenas se transcrevem aqui os versos com que o coro vai pontuando o desenrolar da trama, bem como uma advertência e a dedicatória.

ADVERTÊNCIA

Esta peça baseia-se em factos históricos, mas não é uma narração rigorosa. A quase totalidade dos protagonistas é gente simples: pescadores ou familiares. Às suas falas deve imprimir-se toda a musicalidade e matiz do falar do povo da região, podendo ir-se, para o efeito, até à substituição de expressões e frases, desde que essa seja a melhor forma de realçar a ideia.

DEDICATÓRIA

A todos os homens
Que algum dia sofreram
Na própria carne
O estigma da desigualdade imposta


CORO
(no início do prólogo)

Quem conhece o Ti Grajau[1]
Que tem muito que contar?
Passou tormentos em terra
E tempestades no mar.
Homem do mar, homem bravo,
Amante da liberdade.
Antes ser morto que escravo.
Escravo só da verdade.


CORO
(no final do 1º. Acto)

Temos vontade de ferro,
De antes quebrar que torcer.
Homem do mar ou da terra
Tem que lutar para viver
Tem que lutar para vencer.
Podem tapar-nos a boca,
Podem rasgar-nos o ventre…
Nem todo o vosso poder
Nos impede de ser gente.


CORO
(no final do 2º. Acto)


Era um povo insubmisso.
De antes quebrar que torcer.
Que fizestes dele, ó torcionários?

Era um povo trabalhador e fogoso.
Que é do seu sangue, ó vampiros?

Era um povo franco, leal e amigo
Monstros insaciáveis, quanto lhe roubastes!

Era um povo destemido e aventureiro.
Que fizestes da sua audácia?

Era um povo corajoso.
Que tempestade o abateu?

Ai de vós, no dia da verdade,
Demolidores do sonho e da esperança!

A força popular ressurgirá.
Um dia, há muito começado,
Das próprias cinzas renascerá o fogo
Que incendeia o escravo
Ilumina o explorado
Tempera a vontade do resignado

Virá o dia da desforra
O dia da desforra definitiva
Da prestação de contas
Da nova aurora.

Ai de vós, vilões!


Ainda não é esta a hora decisiva;;
É o instante da esperança
Mas é tempo de despertar.

Não é o dia da canção apetecida;
É o instante da esperança renascida,
O dia da alegria que antecede
A construção organizada do futuro.

Amanhã faremos da montanha planura;
Hoje derrubou-se um muro.
É um momento de voo em liberdade,
O fim da ditadura.

É ainda a estação de semear;
Mas cada vez com mais pressa de colher.

Quebraram-se as algemas;
Os nossos braços já são nossos.

Livres para o abraço necessário.
Para a união indestrutível.

O futuro agora é acessível.

O futuro somos nós a levedar.

Vamos construí-lo sem demora.

O amanhã começa agora

Está ao nosso alcance, à nossa espera.

É só querer.

Abra-se o ventre da terra!

Um homem novo vai nascer.

André Moa

Apontamentos anticancro 31
«Hoje em dia, as sondagens ocidentais sobre nutrição revelam que 56% das calorias que ingerimos provêm de três fontes que não existiam aquando do desenvolvimento dos nossos genes:
- açúcares refinados
- farinha refinada
- óleos vegetais (feijão se soja, girassol, milho e gorduras trans)
Estas três fontes não contêm quaisquer minerais, proteínas, vitaminas ou ácidos gordos ómega 3 necessários ao funcionamento do nosso corpo. Por outro lado, alimentam directamente o desenvolvimento do cancro.
O cancro alimenta-se de açúcar. Todos nós podemos cortar na quantidade de açúcar e farinha refinados que consumimos no dia-a-dia. Está provado que a simples redução desses dois factores alimentares tem um rápido efeito nos níveis de insulina e IGF no sangue. Essa redução tem efeitos secundários, como uma pele mais saudável. O aumento do consumo do açúcar contribui para a epidemia do cancro. Aqueles que fazem uma alimentação asiática, baixa em açúcar, tendem a ter cinco a dez vezes menos cancros de origem hormonal do que aqueles cuja alimentação é rica em açúcar e produtos refinados, como é típico dos países industrializados».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.


[1] Ti Grajau - figura central da peça que surge como evocação deste pescador, quando já octogenário.

segunda-feira, 19 de julho de 2010

CRÓNICAS ALPINAS









«OUTUBRO VERMELHO»

Instalada na localidade de Tsartsyne no final do século XIX, esta Usina Metalúrgica, a maior da União Soviética, começou por ser chamada de "Usine Française", por ter sido criada por um engenheiro francês...
Em 1920, quando a cidade mudou de nome para Stalingrad, também esta indústria passou a se chamar de "Outubro Vermelho". Durante cerca de ano e meio (entre 1942/43), esta metalúrgica foi alvo de violentos bombardeios das forças alemãs, sendo destruída por completo, voltando a ser reconstruída após a guerra praticamente como o original.
A Usina está situada por vários quilómetros ao longo do rio Volga e, apesar das novas tecnologias, o que choca são os seus métodos rudimentares, onde os trabalhadores estão expostos a todos os perigos, dada a falta de segurança e a poluição tanto no Volga como na atmosfera. Tais perigos nunca chamaram a atenção das organizações da defesa do ambiente. Porque será?
Osvaldo

Apontamentos anticancro 30
«Há uma epidemia de cancro no Ocidente. Pode mesmo ser datada, com bastante precisão, a partir da Segunda Guerra Mundial. Na sua introdução ao relatório da Agência Internacional para a Investigação do Cancro, o director-geral da OMS concluiu que «até 80% dos cancros podem ser influenciados por factores externos, como o estilo de vida e o ambiente». O cancro é uma doença do estilo de vida ocidental. A «desintoxicação é um conceito fundamental na maior parte das tradições médicas ancestrais, de Hipócrates ao Ayurveda e, actualmente, é imprescindível.
O cancro é mais comum no Ocidente e tem vindo a aumentar desde 1940. Assim sendo, temos de analisar o que mudou nos nossos países desde a Segunda Guerra Mundial. Ao longo dos últimos 50 anos, três factores principais perturbaram drasticamente o ambiente em que vivemos:
1 – A adição à nossa alimentação de grandes quantidades de açúcar altamente refinado.
2 – As alterações nos processos agrícolas e pecuários, e, consequentemente, na nossa alimentação.
3 – a exposição a um grande número de produtos químicos que não existiam antes de 1940.
Não se trata de mudanças circunstanciais. Temos todos os motivos para crer que estes três fenómenos têm um papel determinante no alastramento
do cancro. Para nos protegermos, temos primeiro de tentar compreendê-los».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.


sábado, 17 de julho de 2010

CICLO EMOÇÃO


MUNDO IMUNDO

Com aquele ar judicativo dos que pensam estar acima de qualquer suspeita, acusam-me de ser um iconoclasta que julgam poder amordaçar. O obscurantismo de 50 anos e a crendice popular muitos anos levarão a serem erradicados dos meus concidadãos iletrados; E esta realidade tem vindo a ser aproveitada, principalmente pela Igreja Católica, para arregimentar crentes fanáticos e incondicionais da sua doutrina.

Não me sinto, acredita, minimamente beliscado com mais este ataque ferino, pelo contrário, ele dá-me, ainda, mais força para continuar a tentar ser um travão ao ensandecimento cruento de muitos, causado pela desfaçatez e cinismo indecoroso de quem sabe, melhor do que eu, que só com a negaça dum Céu redentor obnibulante dos espíritos fracos dos néscios, meus irmãos, conseguem alcançar os seus desideratos.

Pese a muitos, vou continuar a ser, o mais possível, incómodo tentando minimizar o que, infelizmente para já, é quase irremediável; uma aposta séria que se fizesse na Educação seria um trabalho ciclópico que levaria, ainda, muito tempo a dar os seus frutos; duas ou três gerações teriam de sofrer as consequências duma dialéctica desvirtuante e de uma retórica preconceituosa.

Enfim, meu amor, " c´est la vie ". Só na infinitude da nossa paixão poderei encontrar a força motora para a continuação desta minha cruzada e levar a carta a Garcia; quero acreditar que, em parte, hei-de conseguir; atenção, que este contencioso é só meu; os seus despudorados atrevimentos não chegarão a ti, porque eu estarei por perto. Terão de se convencer que o poeta não é feudo de ninguém e que só se escraviza às suas emoções e convicções - e a ti também, até quando pudermos manter o nosso amor vivo e actuante!

ERNESTO LEANDRO

Apontamentos anticancro 29
«Pouco depois percebi que a doença estava a permitir-me apreciar uma nova identidade. A minha nova situação tinha as suas vantagens.
Nenhuma desilusão poderia ter sido mais esmagadora do que eu ficar gravemente doente aos 30 anos. No entanto, subitamente, a doença fez-me reconquistar uma certa liberdade. Já não tinha de ser o primeiro da turma ou o melhor da minha especialidade na área de investigação. Fiquei dispensado da eterna corrida para pôr à prova as minhas qualidades, mostrar as minhas capacidades e o meu valor intelectual. Pela primeira vez, senti que podia baixar as armas e respirar. Anna pôs-me a ouvir um cântico espiritual que me levou às lágrimas, como se tivesse esperado a vida toda para ouvir aquelas palavras:
“Vou pousar o meu pesado fardo
Ali, junto ao rio
Não mais vou estudar a guerra
Vou pousar o escudo e a espada
Ali, junto ao rio
Não mais vou estudar a guerra…”»
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

quinta-feira, 15 de julho de 2010

CICLO PAIXÃO




CAMINHO PORQUE CAMINHO

Os caminhos são para caminhar.
Eis porque caminho,
Como robô automatizado.
Meus pés movem-se indiferentes
Como peças dum conjunto muscular,
Como lagartas blindadas
Num corpo todo de aço,
Mas é um caminhar irracional
E mecanizado.
Um caminhar no vazio e no nada
Porque não sei e não sinto.
Sou como um mar duvidoso
De águas profundas que,
De tão profundas, nada
Se divisa, nem à superfície.
Aonde vai dar o caminho
Que os meus pés percorrem?
Ninguém sabe...
E porque os meus pés percorrem
O caminho que ninguém conhece?
Porque os meus pés foram feitos para caminhar,
E por isso eu caminho.
Paixão Lima

Apontamentos anticancro 28«Quando liguei aos meus pais, apesar do meu “ensaio” com os meus irmãos, não fazia ideia como iria fazê-lo. Passo a passo, segui as regras que ensinava aos meus colegas.
Primeiro, expor sucintamente os factos: Pai, descobri que tenho um tumor no cérebro.
Segundo, esperar. Não preencher o silêncio com palavras vãs. Ouvi-o engolir em seco. – David, não pode ser…
Passei à terceira fase. Falar dos passos concretos. - Vou arranjar um cirurgião que me opere o mais depressa possível. Ele ouvira e aceitara ».Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

terça-feira, 13 de julho de 2010

CRÓNICAS NO FEMININO


TUDO VALE A PENA

Esta minha vida de andarilha tem-me levado a escrever nos mais inusitados lugares sem que isso me crie qualquer tipo de constrangimento. Talvez porque o acto de produção do texto me passe todo ainda pela mão. Dispenso, por isso, o aparato de ter de transportar comigo qualquer tipo de tecnologia. Pedaços de papel e o aparo de uma caneta são-me, por enquanto, suficientes.
No entanto, quando há quatro anos regressei definitivamente a Portugal e me instalei no meu escritório da casa do Sardoal, apercebi-me de que aqui, rodeada de memórias, oiço o respirar da alma que o habita. Olho para as paredes e estantes e cada centímetro me transporta a um tempo e a um lugar já vividos. Deve ser por isso que também os meus netos adoram estar nesta divisão da casa. Depois do sótão, arrisco-me a dizer que este é o lugar de eleição deles.
Manuseiam muitas das minhas recordações - objectos dispersos aqui e ali -, e fazem-me perguntas próprias da idade. Respondo-lhes com a certeza de ter valido a pena este percurso por tantos lugares diferentes. O mais novo não percebe ainda tudo quanto explico e entretém-se nas brincadeiras do costume. O mais velho faz já percursos diferentes do olhar, em busca de novidades que eu vou colocando no painel de corticite por cima da secretária, onde os autocolantes amarelos me chamam a atenção para assuntos pendentes.
Entre estes, figuram também pequenas memórias de outros tempos: postais, fotos e pequenas ofertas que antigos alunos e alguns amigos me mandaram. Fixa-se num pedaço rectangular de pele de carneira. Era um marcador de livros, oferta de Salme Jamalainen, presidente da Associação de Amizade Finlândia-Portugal durante os oito anos em que vivi em Helsínquia. Deu-mo há mais de dez anos e ali estava preso a um coração de madeira a lembrar-me a perfumada floresta da Lapónia. Na tira encontra-se gravado um texto que ele leu em voz alta:
“Tudo vale a pena se a alma não é pequena”, Fernando Pessoa.
Logo que acabou de pronunciar o nome, atirou-me de rompante: “Ó vóo! Foi teu aluno?”
A pergunta nada tinha de absurdo, habituado que estava a lidar com referências permanentes aos meus antigos alunos.
- Não, querido, não foi meu aluno! - respondi.
Sorri e expliquei-lhe quem foi. Não lhe disse ainda tudo. A escrita tem lugares mas tem também um tempo, o tempo de perceber quanto vale uma palavra na mão de um poeta multiplicado como ele. Por isso guardei as estrofes “O oitavo poema de O Guardador de Rebanhos” de Alberto Caeiro

A Criança Nova que habita onde vivo
Dá-me a mão a mim
E a outra a tudo que existe
E assim vamos os três pelo caminho que houver,
Saltando e cantando e rindo
E gozando o nosso segredo comum
Que é o de saber por toda a parte
Que não há mistério no mundo
E que tudo vale a pena.

Para, num tempo futuro, lhe dizer que Fernando Pessoa não foi apenas um, mas vários num só. Como todos nós, quando num corpo de criança começa a espevitar-se a curiosidade intelectual de um adulto.
Aida Baptista

Apontamentos anticancro 27
«Geralmente, o mais difícil é dar a notícia àqueles que amamos. Primeiro contei aos meus três irmãos, um de cada vez. Par meu grande alívio, reagiram de uma forma simples e directa. Não entraram em pânico. Não tentaram tranquilizar-me a mim ou a eles com grandes frases arrebatadoras. Não disseram: «Não é assim tão mau, vais ver. Vais safar-te». São palavras triviais que parecem encorajadoras mas são temidas por quem não souber quais serão as suas hipóteses de sobrevivência. Os meus irmãos encontraram palavras para exprimir a sua dor pelo que eu estava a passar. Deram-me a certeza do seu apoio incondicional, que era, na verdade, tudo aquilo de que eu precisava».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

domingo, 11 de julho de 2010

CICLO REFLEXÃO






A Sociedade Democrática com Liberdade e sem Igualdade.
Homem Rico versus Homem Pobre.

Na nossa sociedade a riqueza tem significados vários. Significa estar livre de privações e ter liberdade de fazer coisas. Em não menor grau, contudo, a riqueza é geradora de sinais de autopromoção em interacções sociais. O facto simples é que muitas pessoas respondem positivamente àqueles com recursos financeiros. A sua adulação expressa-se na fixação e dilatação das pupilas, no tom e volume da voz, nos movimentos das mãos, em sorrisos e gestos faciais, na orientação corporal. Essas mensagens não verbais (juntamente com as verbais) funcionam como reforçadoras e promotoras da auto-estima. É notável o ponto a que as pessoas chegam a fim de suscitar esses simples mas poderosos gestos de aprovação umas das outras. Eles são os equivalentes interpessoais do aplauso, honrarias, prémios, promoções e monumentos. LOYAL RUE (1994)


As ditas democracias modernas, consideradas pelos teóricos como o regime político menos mau, são sociedades do capitalismo inteligente (porque fazem de nós parvos). Transige-se com o que é possível, para abafar a contestação, mantendo-se o essencial. É fingir que se faz, não se fazendo. Como se trata duma sociedade de mercado, valoriza-se aquilo que no mercado tem mais valor: - O CAPITAL. Quem for detentor do capital, é um activo precioso do Sistema. Quem o não tem, é um zero à esquerda da vírgula. O rico é sempre um homem inteligente porque alcançou o sucesso. Não interessa como alcançou esse sucesso. Se de forma legítima ou não. O Sistema Capitalista não se rege por normas éticas ou morais, mas pelo lucro financeiro. É necessário dinheiro e cada vez mais dinheiro para gerir lucro e cada vez mais lucro. Quem, inadvertidamente, se encontrar na rota destes interesses, é simplesmente ignorado ou atropelado. É o mundo menos mau que os economistas se encarregam de endeusar. Os economistas são, aparentemente, homens como os outros; no entanto, são diferentes. Em lugar dum coração têm um cifrão. E no mundo capitalista que eles inventaram, vamos vivendo felizes se tivermos capital (uma minoria esclarecida) ou infelizes e descontentes os que não o têm (a maioria silenciosa) porque se falar, vai directamente para a prisão, não passa na casa da partida e não recebe dois contos, como no Monopólio. Como a vida é um jogo, este é o jogo do Sistema. Mas é um jogo viciado, porque ganham sempre os mesmos (os que têm capital).
Como lamento viver no lado errado. Mas que chatice!
Paixão Lima

Dizes Bem: mas que chatice!
Fazer obra é sandice.
Salvo quando o capital
A compra e põe no mercado,
Pondo o obreiro de lado
Como se fora animal.

Amigos, a economia,
A base da porcaria:
Só serve o capital.
P’ra calar a maioria,
Fala-se em democracia,
Democracia formal.

O poder está no Povo?
Uma ova! Casca de ovo
Sem clara, gema, nem pinto,
O Povo é um ovo sugado,
Frito, cozido, escalfado,
Perdido no labirinto

Da teia com que a aranha
Tudo arrebata e apanha
E rouba ao povo a maquia,
O suor, o parco espólio.
E assim nasce o monopólio
À custa da mais-valia.

Neste mundo vale quem tem
Muito ouro, muito vintém,
Quem chama a si o poder.
Os outros não são ninguém:
Uns fracos filhos da mãe
Que tudo apostam no ser.
André Moa

Apontamentos anticancro 26
«Em algumas situações, gostaríamos de dizer aos nossos entes queridos: Por favor, parem de tentar “fazer alguma coisa”. Estejam apenas presentes! No entanto, certas pessoas dizem as palavras que mais queremos ouvir. Perguntei A Uma paciente, que sofrera muito durante o doloroso tratamento do cancro da mama, o que lhe dera mais alento. Ela pensou no assunto durante uns dias, e enviou-me um e-mail: “No início da doença, o meu marido ofereceu-me um postal. Coloquei-o à minha frente e lia-o com frequência. Eis o que dizia: Por fora: Abre este postal e segura-o junto a ti. Agora, aperta-o.” Lá dentro o meu marido escreveu: “És tudo par mim – a minha alegria ao acordar (mesmo nos dias em que não fazemos amor!), o meu sonho a meio da manhã, sexy, quente e risonho, a minha companheira imaginária ao almoço, o meu entusiasmo crescente a meio da tarde, o meu prazer refrescante ao ver-te quando chego a casa, o meu descompressor depois do exercício, a minha ajudante de cozinha, a minha parceira de brincadeiras, a minha amante, o meu tudo”. O postal dizia ainda: “Vai correr tudo bem”. E, por baixo, escreveu: “E estarei do teu lado, sempre. Beijinhos, PJ”. Esteve do meu lado a cada momento. Aquele postal significou muito para mim, e manteve-me à tona nesta viagem. Já que perguntou, Mish” ».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

sexta-feira, 9 de julho de 2010

O QUINTETO ERA DOURO - 3





OURO VELHO – A COR DA UVA VINHATEIRA

… E eis que, num certo dia do ano de 2009, o meu “irmão” André Moa me enviou por email um projecto literário, pedindo para eu ler e deixar um intróito ou comentário sobre a obra.
Claro que me propus a ler e como o dia de domingo estava chuvoso e o frio alpino não convidava a grandes “promenades”, decidi-me a ficar cá por casa e a começar a “empreitada” cultural. Na frente do teclado, esfreguei as mãos, falei para o computador e disse-lhe: companheiro, mãos à obra!
Comecei por ler cada um dos textos do Ernesto, propostos para reflexão, e as respostas do Moa. Só que, quando ainda ia no quarto ou quinto texto, achei que aquele projecto era mais um desafio, e como a desafios eu não viro a cara, decidi, sem pedir permissão para isso, entrar no jogo e comentar à minha maneira os duzentos e dois textos que o Ernesto jogava para cima da mesa.
Foi um desafio motivante e com o resultado desta minha decisão a obra ganhou volume, mudou de cor, passando do preto e verde inicial ao d’our(ad)o, ao ouro velho que é a cor da uva vinhateira” das nossas vinhas, das vinhas do Douro.
Este projecto constitui, no fundo, uma homenagem ao povo duriense, às varandas xistosas que embelezam a nossa terra, à força braçal dos nossos antepassados que conseguiram esse milagre de transformar uma região agreste, bravia e improdutiva, numa das mais belas regiões do Mundo que é o Douro Vinhateiro. É, ao mesmo tempo, a confirmação de que Tabuaço sempre foi berço de gente que, ao aprender a brincar com as letras, acabaria por oferecer ao mundo grandes literatos - escritores, poetas, cronistas e romancistas, de que se destaca o iminente político e o grande homem de letras Abel Botelho.
O desafio foi avançando e o cansaço mais me motivava para a realização do mesmo, e assim, após uma tarde-noite a dedilhar, dei por concluído o meu contributo a este fascinante trabalho. De imediato o enviei, mesmo sem a prévia revisão, ao meu “irmão” André Moa sem mesmo imaginar (ou talvez sim) a sua reacção.
Três dias depois, recebi uma resposta que dizia: “... caro irmão, fiquei deveras surpreendido pela positiva com o que me mandaste e em discussão com o Ernesto, decidimos alterar o projecto inicial, convidar mais alguns tabuacenses, e o que era a preto e verde, passou a ser maduro duriense das melhores castas da nossa terra!...”
E assim, esta obra que começou por ser um solo do Ernesto, a seguir um dueto Ernesto-Moa, cedo se transformou num quinteto, num quinteto d’ouro, do ouro velho, a “Cor da Uva Vinhateira” tão peculiar às vinhas de Tabuaço.
Osvaldo B. Ribeiro

Apontamentos anticancro 25
«Uma doença grave pode ser uma viagem extremamente solitária. Quando o perigo ameaça um grupo de macacos, elevando o seu grau de ansiedade, o seu instinto é juntarem-se e catarem-se desesperadamente. Isto não diminui o perigo, mas alivia a solidão. Os nossos valores ocidentais, com veneração dos resultados concretos, podem não nos deixar ver a nossa intrínseca necessidade animal de presença em caso de perigo e incerteza[1]. Uma presença amável, constante e de confiança é, muitas vezes, a mais bela dádiva que os nossos entes queridos podem dar-nos[2]. Mas não há muita gente que o saiba. Um médico amigo, fazendo os possíveis por me aconselhar, deu-me várias sugestões práticas, mas não exprimiu o que sentia em relação ao que me acontecera. Mais tarde, quando falámos sobre essa conversa, disse-me com algum embaraço:
- Não sabia que mais dizer.
Talvez “dizer algo” não fosse o necessário. Por vezes, as circunstâncias forçam-nos a redescobrir o poder da presença.
Um dia, uma executiva, casada com o presidente de outra empresa, adoeceu. Viviam ambos para o trabalho. Estavam habituados a registar os pormenores mais ínfimos das suas vidas. Quando ela adoeceu, falaram muito sobre as opções de tratamento, mas pouco sobre o que sentiam. Um dia, ela chegou tão exausta da quimioterapia, que caiu no tapete da sala. Não conseguia levantar-se. Pela primeira vez desfez-se em lágrimas. Tudo o que o marido dizia só a fazia sentir-se pior. Não sabia o que fazer. Ajoelhou-se no chão e chorou com ela. Achava-se um fracasso total, por não conseguir fazê-la sentir-se melhor. Mas, na verdade, foi isso que a fez sentir-se melhor – o facto de ele deixar de tentar melhorar as coisas.
Em algumas situações, gostaríamos de dizer aos nossos entes queridos: - por favor, parem de tentar “fazer alguma coisa”. Estejam apenas presentes!».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

[1] Felizmente este grupo contraria essa propensão ocidental (!), mostrando-se sempre solidário e manifestando a sua presença de uma forma constante, digna, admirável, inultrapassável. Graças vos dou, por isso, amigos.
[2] E eu que o diga! E digo. E agradeço. Do fundo do coração. A todos.





quarta-feira, 7 de julho de 2010

UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS

OOs meus filhos Pedro Miguel e Susana com o meu irmão António, dando colo a uma matrona que encontrara metida na sua cama. Já lá vão 37 anos.
Ainda ele era solteiro e bom rapaz. Bom rapaz continua a ser. Solteiro é que já não. E já é (bis) avô - avô duas vezes.


UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS
AOS SETENTA só SESSENTA DE POESIA

ANTOLOGIA DE UM DESCONHECIDO

Edição 1973

(conclusão)

DO SENTIMENTO À RAZÃO
(conclusão)


DERROCADA

Patrões
Ratos podres a rir

Guindastes
Flores a fingir

Operários
Folhas outonais
A voar
A cair

Sinos dobram
Dlim-dlão
Dlim-dlão
Morte
Caixão

Homem
Tam bom
Tom bom
Tão bom
Tam bou
Tom bou
Tombou

DE CONCRETO SÓ O SANGUE


A calçada desta rua é feita
De pedras esquinadas

É feita de pedras esquinadas
A calçada desta rua

Desta rua
É feita
De pedras esquinadas
A calçada

De pedras esquinadas
A calçada
Desta rua
É feita

A calçada
Desta rua
De pedras
Esquinadas
É minha

Esta rua
Calçada
De pedras
Esquinadas
É tua

A calçada
Feita
De pedras
Esquinadas
É rua

Raios
Não

Modo
De esquecer
O sangue
Das pedras
Esquinadas
Da calçada
Desta rua

HOMENAGEM POSTÚMA A UM HOMEM AMIGO DA PAZ
a Martin Luther King

dantes era dantes
quando muito Dante
e a sua teocrática comédia

dantes era o tempo
em que tudo em mim adormecia

e de ti nada sabia
ou sabia tão pouco
que em mim oscilavas
entre o santo e o louco

era o que vinha nos jornais
e pouco mais

eis senão quando
nasceste em mim
muito à luz da razão
como um homem bom
um homem capaz
de incendiar o mundo
com um sorriso apaziguador
tão amigo e tão pacífico
que até ganhaste
o Prémio Nobel da Paz

nessa altura meio incrédulo
até me interroguei
será que a humanidade
começa a humanizar-se?

mas como dizia
de ti só sabia
o que conseguia pescar
nas entrelinhas do que lia nos jornais
que eras um lutador
um homem amigo da paz
com um coração a abarrotar de amor
e uma razão que usavas com ardor
em prol dos pobres e oprimidos

ao perceber isto
dei em ver em ti um novo Cristo
ou o próprio Cristo em ti ressuscitado

até que foste assassinado

e foi então que muito de repente
os meus olhos espantados
transformaram-se em nascente
de compaixão por toda a gente
que por ti chorava
e no peito escondia saudade e raiva

e dei em perguntar qual ingénua criança
que força do mal será capaz
de liquidar a esperança
de matar um homem amigo da paz?

NO PRINCÍPIO ERA O VERBO

Tanto cantei que os pássaros me nomearam
presidente das madrugadas

Eram esses os louros que eu pretendia
colocar no princípio de tudo a poesia


DO SENTIMENTO À RAZÃO
I
Coração
Órgão
Músculo
Função
Bomba corporis
Por si





Irriga o corpo

II

Cabeça no topo
Cérebro dentro
Ceptro na mão
Do pensamento


III

A razão apunhala-nos pelas costas
O sentimento pelo baixo-ventre

Caiamos de esperma e sangue
As nossas rotas
Mas vamos sempre em frente

Apontamentos anticancro 24
«Nos postos avançados do nosso sistema de defesa, as nossas células imunitárias representam um poderoso exército químico que destrói constantemente cancros na origem. Tudo o que fortaleça as nossas preciosas células imunitárias, também boicota o desenvolvimento dos cancros. Estimulando as nossas células imunitárias, combatendo a inflamação (através da alimentação, exercício físico e equilíbrio emocional) e actuando sobre a angiogénese, cortamos o mal pela raiz no que diz respeito à disseminação do cancro. Paralelamente às abordagens médicas estritamente convencionais, podemos fortalecer os recursos do nosso organismo. O “preço” a pagar é levar uma vida mais conscienciosa, mais equilibrada e, no fim de contas, mais bela».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

sábado, 3 de julho de 2010

CRÓNICAS ALPINAS











Simotchka
O Diário de Simotchka


Serafima Fedorovna Voronina. Os amigos chamavam-na de Simotchka. Nascida em Tsaritsyne em 1905, era professora nesta cidade que tinha sido renomeada de Stalingrad de 1925 a 1961.
Quando as tropas alemãs se aproximaram, na Primavera de 1942, Serafima trabalhava na fábrica Outubro Vermelho. Poderia ter sido evacuada no inicio dos bombardeamentos, mas devido aos ferimentos do seu pai, ela preferiu ficar. Teve uma segunda oportunidade de sair da cidade e atravessar o Volga, mas recusou abandonar os pais uma vez mais. Morreram os três sob os bombardeamentos no final de Outubro de 1942.
Serafima conheceu todos os horrores que os civis, encurralados, sofreram na batalha de Stalingrad: o medo, a fome, o desespero, a morte dos amigos, dos vizinhos e a angústia de não ter notícias dos seus familiares evacuados. De 10 de Setembro a 25 de Outubro ela descreveu no seu Diário a vida dos que ficaram na cidade. Um soldado da Armada Vermelha encontrou os manuscritos nos escombros da cidade e entregou-os à família de Serafima, alguns anos mais tarde. Os textos a seguir são extraídos desse Diário.
«10 de Setembro de 1942, Quinta-feira.
(...) depois de domingo, já faz cinco dias de bombardeamentos continuados. Os dias continuam doces, ensolarados, claros. O Volga é belo, calmo, límpido como um espelho.
17 de Setembro de 1942, Quinta-feira.
(...) tudo está destruído, a cidade não existe mais, tudo são ruínas. Cobrimo-nos com travesseiros e cobertores e ficamos deitados, nem vivos, nem mortos.
29 de Setembro de 1942
(...) faz hoje 39 dias que nos escondemos nas trincheiras. O que nos vai acontecer?
02 de Outubro, sexta-feira, 14h.
(...) hoje de manhã, Olia e eu fomos procurar água ao Volga, assim como ontem. Os aviões passam, as balas silvam, mas é necessário procurar água, não podemos sobreviver sem ela. (...) sentada escrevo estas palavras, talvez que alguém um dia as lerá e aprenderá os horrores que nós vivemos e continuamos a viver.
03 de Outubro de 1942, sábado, 4h20 da madrugada.
(...) no início, o meu coração parava e eu ficava bloqueada, mas agora tudo parece petrificado, meu coração não sofre mais, advinha o que pode acontecer.
06 de Outubro de 1942, terça-feira, 14h.
(...) Olia tranquiliza-nos a todos, diz que não devemos lamentar nada e que o importante é continuarmos vivos. (...) à nossa volta é um planalto de estepes nu, esburacado pelas bombas e só existem ruínas em volta. (...) como é aterrador, tão aterrador que é impossível descrever.
08 de Outubro de 1942, quinta, meio-dia e meia hora. (...) os nossos repelem os alemães; mas na noite seguinte, eles progridem de novo. É como se jogassem ao xadrez. (...) vamos continuar vivos? Só Deus sabe.
19 de Outubro de 1942, segunda, 22 horas.
(...) hoje não pensamos senão numa coisa: continuarmos vivos. Só a vida conta, pouco importa o resto. (...) como e quando este jogo irá acabar? Nós sofremos tanto! Isto não é uma guerra mas um jogo de marionetas.
25 de Outubro de 1942, domingo, 14h.
(...) a aldeia industrial de Outubro Vermelho não existe mais e todos os dias há bombardeamentos. (...) as bombas chovem sem parar e é impossível sair do abrigo. Ficamos estendidos lá como toupeiras. Os dias continuam doces e ensolarados. Que belo dia de Outono!
P.S.- Este o último texto escrito por Serafima.
Osvaldo

Apontamentos anticancro 23
«O cancro é um fenómeno fascinante e perverso. Apropria-se da inteligência inquietante das nossas funções vitais para corrompê-las e, por fim, virá-las contra si próprias. Estudos recentes revelaram como é que esta subversão actua. Quer seja a gerar inflamação ou a “fabricar” vasos sanguíneos, o cancro imita a nossa capacidade básica de nos regenerarmos, visando o resultado oposto. É o inverso da saúde, o negativo da nossa vitalidade. Mas tal não significa que ele seja invulnerável. Na verdade, apresenta falhas que o nosso sistema imunitário sabe como explorar naturalmente».Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

CICLO EMOÇÃO







PROSA POÉTICA

(Para uma grande mulher que já partiu para sempre
e que eu memorizo todos os dias. Foi e é ainda para
mim a segunda maior mulher do mundo e só porque
a primeira é minha Mãe.)

A miséria no sentido etimológico da palavra e a mental em muitos outros, materialmente ricos, causam no poeta um langor entrópico que o remete para longas lucubrações causadoras dos motes que, depois da levedura, são o fio condutor dos seus poemas.
Há bastante tempo que não penso na miséria que sou; de tanto falares naquilo a que chamas " a minha riqueza de espírito", eu, meu Amor, quase que estou convencido (que insuportável vaidade a minha) que sou um poeta; também, que a minha coerência na forma de estar e agir, como dizes ainda, é garantia de estabilidade no nosso amor; repara na contradição deste teu louvaminhar (que é sentido porque dito por ti) com a irreverência, a inquietude, a angústia, a impaciência, a errância que marcaram, de um modo indelével, a minha vida...

O teu amor, o meu amor fizeram o milagre deste apaziguamento íntimo; mas não tenho dúvidas da sua transitoriedade, porque, infelizmente para mim, vai chegar o dia em que o teu cansaço, por tanto desprezo meu pela realidade, te levará à fuga de uma morte precoce.
Para já, o teu corpo e o meu corpo a exsudarem na cama em que nos juntamos quando nos possuímos, numa entrega arrebatadora e brutal, vão adiando esse fim inexorável. Não cries falsas expectativas, meu Amor; não convivo com a mentira, é certo, mas o poeta, vítima duma intermitente auto-punição, denega uma felicidade que tem à mão, sonhando uma hipotética outra adveniente daquilo que ainda não possui.
Guardo na memória, como relíquia em baú, todas as mulheres que conheci e me amaram; também as amei com o arroubamento que conheces... E a ti, minha quinta-essência, continuarei a dar-te tudo, o físico e o espiritual, até quando for possível manter o poeta um pouco adormentado e esquecido da (como eu gostaria que assim fosse, acredita) da infinitude do nosso amor; ao avisar-te dos perigos que corres, só possíveis pelo fatalismo que o poeta arrasta consigo e o consome, com a nobreza de carácter que é meu apanágio, obrigo-me a ser delator de mim próprio; se o não fizesse, não estaria a ser digno de ti.
Como admiro a tua coragem e " temeridade"! Parafraseando um poeta, " a brincares com punhais sem te picares!

ERNESTO LEANDRO

Apontamentos anticancro 22
«O cancro é uma doença multidimensional que raramente cede a uma única intervenção. À semelhança da triterapia utilizada para a SIDA, é necessário combinar várias abordagens para que seja eficaz. Não restam, porém, dúvidas, de que o controlo da angiogénese é um ponto central no tratamento do cancro. Enquanto esperamos pelo medicamento milagroso, existem alternativas naturais que têm uma grande influência sobre a angiogénese, sem efeitos secundários, e que podem ser associadas aos tratamentos convencionais. São elas:
1 – Práticas alimentares específicas (recentemente, foram descobertos vários alimentos antiangiogénicos naturais, tais como cogumelos comestíveis comuns, alguns chás verdes, especiarias e ervas aromáticas).
2 – Tudo o que contribui para reduzir a inflamação (a causa directa do crescimento de novos vasos sanguíneos) ».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

quinta-feira, 1 de julho de 2010

CICLO PAIXÃO






DESTINO DE MERDA

O gabinete do Chefe é espaçoso. Uma larga janela oferece uma visão panorâmica sobre a plataforma principal da estação ferroviária. O movimento de comboios e passageiros é intenso. Neste centro ferroviário importante, todas as horas são horas de ponta.
De pé, mãos atrás das costas, dificilmente escondo o nervosismo e o medo. Aguardo ser recebido pelo Chefe. Dois dias antes, sem surpresa, recebi a notificação. O Almeida, carteiro da minha zona e com o decorrer do tempo um amigo, com olhos compungidos e tristes, entrega-me a notificação e solicita a minha rubrica no livro de registos.
- Então vai viajar, meu amigo? Pergunta-me.
- Não sei. - Respondo-lhe com um breve encolher de ombros a fingir despreocupação. - As pessoas chegam e partem. Tudo se move, meu caro Almeida!
- Mas para onde? - interroga o meu amigo carteiro.
- Ninguém sabe - concluo filosoficamente.
Sou interrompido nos meus pensamentos pela porta a abrir-se violentamente. Alto e gordo, o Chefe aconchega o seu avantajado traseiro na cadeira giratória que parece pequena. Sem olhar para mim, folheia distraidamente o meu processo. Um grosso volume de centenas de páginas. De súbito, pousa os óculos e ordena-me:
- Senta-te! Não suporto pessoas de pé.
- Compreendo - digo com voz trémula ao mesmo tempo que me sento precipitadamente.
- Estive a estudar o teu processo - continua o Chefe - e não cheguei a conclusão nenhuma. À primeira vista pareces um tipo normal. Não cometeste crimes graves. O teu percurso de vida é imperceptível. Não chegaste a vincar na areia do caminho os teus próprios passos. És um incógnito e anónimo. A tua vulgaridade de tão vulgar chega a ser suspeita. Não concordas por natureza e gostas de protestar. Dizes que não acreditas em Deus. Afinal, o que tem valor para ti? – Pergunta, irascível.
- Não sei, Chefe - consigo responder após um esforço mental infrutífero.
- Porque te esforçaste por caminhar tanto sem objectivos e motivações, já que não acreditas em nada? - pergunta-me curioso.
- Não é verdade, Chefe! Acredito em Deus. No meu Deus. Um tipo como eu, mas perfeito. Não me promete nada mas responsabiliza-me pelos meus actos. O meu Deus é a minha consciência - consigo articular com esforço.
- Já sei - diz o Chefe, enfastiado. - És um individualista! - E ri-se. - Pois bem, meu caro, chegou a hora de partires. Dou um prazo para te preparares para a viagem. E tens sorte porque muitos fazem a última viagem sem preparação. Que tens a dizer? - Exclama todo satisfeito.
- Protesto - grito energicamente.
- À tua vontade. Mas não muito alto porque o tom de voz elevado perturba-me. E curioso acrescenta:
- Mas protestas, porquê? Caminhaste na estrada da vida e agora tens de pagar a factura por teres vivido.
- Mas é injusto – asseguro, cheio de razão. - Para viver ninguém me consultou. Preferia não ter vivido. Porquê pagar a factura por ter vivido, quando o fiz contrariado, contra a minha vontade?
Folheando a primeira página do processo, o Chefe acena afirmativamente e diz:
- Na realidade, o teu protesto foi veemente no acto do teu nascimento. Ao que consta dos registos, não cessaste de berrar durante 17 minutos, o que não é normal.
- Está a ver Chefe, como tenho razão?! Vamos negociar o valor da factura - proponho como último argumento. Divertido, o Chefe põe os óculos e observa-me curioso, mas sem deixar de advertir.
- Será que não te apercebes que não estás em condições de negociar?!
Mas como jogador do tudo ou nada, lanço na mesa todos os trunfos.
- E se antecipar a viagem, se me apresentar como voluntário, não tenho direito a um bónus ou desconto?
Surpreendido, o Chefe fecha o processo e, zombeteiro, entrega-me a factura. Ao analisar o documento, constato que o valor da factura é elevado. Mas como nunca me preocupei com dinheiro, para quê preocupar-me agora?!
- Tenho apenas um reparo a fazer, Chefe. Não vou regatear o preço nem o pagamento do I.R.S., I.V.A., contribuição autárquica, etc. São impostos que já estou habituado a pagar. Mas discordo da taxa da dor. Parece-me inadequada. - A taxa da dor é obrigatória - resmunga o Chefe. E divertidíssimo acrescenta: - Querias fazer a última viagem a rir como quem vai de férias?!
Já desesperado e como último recurso, apresento a minha última proposta:
- E se pagar três vezes o valor da factura a troco duma redução significativa da taxa da dor?
- Espera aí! Deixa-me pensar - diz o Chefe, perplexo e algo confuso. - Então propões pagar três vezes o valor da factura a troco da redução da taxa da dor para o mínimo possível?! Atendendo à crise, a proposta é interessante. Está bem, aceito. - E acrescenta, eufórico:
- Dá cá o cheque e em troca pega lá o bilhete. Parte em grande velocidade e quanto antes, não vás perder o comboio. Mas antes, responde-me a uma última pergunta. Sabes que vais fazer a última viagem e não tens curiosidade em saber qual o destino?!
- Eu não! - Respondo apressado.
- E porquê?! - interpela o Chefe cheio de curiosidade.
- Porque qualquer destino é bom. Como estou atolado até ao pescoço na merda deste mundo, qualquer outro é melhor, mesmo que seja também um mundo de merda. Assim, sempre se muda de mundo e de merda.
Paixão Lima
 
Que cantan los poetas andaluces de ahora...