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DIÁRIO DE UM PACIENTE II

domingo, 31 de janeiro de 2010

AOS SETENTA só SESSENTA DE POESIA - 4





(Uma vez que o Natal, o Réveillon e os Reis já se foram e d(Eu)s e a Carolina já demos o que tínhamos a dar, volto à antologia biobibliográfica)

AOS SETENTA só SESSENTA DE POESIA
(continuação)
3

Uma vez livre como um passarinho, ainda que ferido no peito e de asas rentes, não tardou que a espevitadora seta do Cupido fizesse brotar de novo o fio poético que cedo em mim se revelara.

Bela flor, onde é que moras?
Em que jardim te encontrar?
Anda, fala-me, meu anjo!
Toda minha hás-de ficar.
Ris? Injurias-me assim?
Isso é riso suave
Saído do amor por mim.

Fico ansioso, meu anjo.
Isto causa-me ciúmes,
Lacero o meu coração
Olhando o amor pelos cumes.
Meu amor idolatrado,
Em que pensas quando vês
Nos meus olhos dor, filtrado
Amor que a ti se fez?

Em que é que ela havia de pensar, perante tamanha pepineira babosa, fruto da minha imaturidade e paralisante timidez que só muito assolada pela musa inspiradora se atreveu a revelar-se? Por certo em tudo e em todos menos em mim. Tudo se esfumou naquela para mim inolvidável tarde de estudo em grupo, restando, porém, uma amizade e um respeito profundos, como viemos a verificar ultimamente, de há uns sete, oito anos a esta parte, depois de quarenta e muitos sem sabermos nada um do outro.
A minha primeiríssima musa teve há meses, agora que conta, como eu, setenta anos de idade, um AVC que a deixou muito diminuída. Com mais fervor aqui lhe presto homenagem e lhe devoto todo o meu preito.
Este o rastilho que fez de mim o lírico da turma, o pinga-amor envergonhado, só na poesia e através da poesia ousado. Poucas colegas terão escapado (a seu pedido, será bom frisá-lo) a uma manifestação de ternura, de amor assolapado, timidamente revelado em meia dúzia de versos pespegados no frontispício da selecta literária de cada uma delas.
Mas destas manifestações mais lamechas que poéticas não guardo registo, nem sequer na memória. É muito provável que uma ou outra tenha conservado, à mistura com os demais livros, a famigerada selecta onde verti a ousadia poética de um adolescente poetastro. Cinquenta e tal anos depois, para mais depois da catástrofe desaglutinadora da diáspora migratória que quase todos sofremos, não sabendo eu, ainda hoje, do paradeiro da maioria, nem tento procurar algum resquício dessa laboriosa época “literária”. E para quê? Para ir por lã e sair tosquiado? Para ir por uns versinhos, umas quadras, uns sonetos, e ser escorraçado? Para causar aos setenta anos alguma crise de ciúmes serôdios e inconsequentes nos seus respeitados cônjuges? Nem pensar! Trabalheiras, para mais infrutíferas, quando não perturbadoras da paz das nossas pacificadas almas, quanto mais não seja pelo decorrer do tempo? E para quê? Para recolher um ou outro fragmento de um testemunho de fraco impacto, de duvidosa qualidade poética? Nã! Nessa não caio. Prefiro continuar envolto na deleitosa nebulosidade desses longínquos dias que tanto prometeram. A obra posterior que fale por si de tal promessa.

quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

PELA MINHA SAÚDE










SAÚDE A METRO

Pela saúde eu faço tudo, sou capaz de dar tudo, menos o que não tenho e o que não gosto de dar. Com este propósito, experimento muitas mesinhas, submeto-me a tratamentos exóticos. Tudo o que seja do foro naturista atrai-me, partindo do princípio, há muito experienciado de que se não fizer bem, mal também não fará.
Desde Junho que estou a seguir um tratamento naturista que me parece assentar em bases científicas e no velho aforismo: o que é natural é bom. A verdade é que me tenho sentido, física e animicamente, bem, não obstante os valores cancerígenos não terem cessado de subir e os nódulos nos pulmões continuarem a crescer.
Vem um que me diz que o mangostão é que é, e logo eu começo a mangostar. Outro, que devia praticar Chi Kung e Tai Chi Chuan e eu ponho-me de pronto a chikungar e a taichiar
Esta febre de recuperar a saúde dê por onde der, de combater até vencer o cancro que me mina (ou minava, que ou me engano muito ou o desgraçado já estará, no mínimo, a estrebuchar) levou-me a frequentar, no passado sábado, dia 23, um curso intensivo ministrado por mestre Li, um chinês com a bonita idade de 69 primaveras, que há uns anos poisou em terras lusas escolhendo entre estas, para assentar arraiais, a escalabitana capital do Ribatejo. Num dos intervalos, a mestre portuguesa cujas aulas frequento três vezes por semana, abeirou-se do guru oriental que fala pior português que eu chinês (apenas porque ele ousa exprimir-se na língua lusa e eu nem abro o bico, por não saber balbuciar em chinês sequer um «Olá») e falou-lhe de mim e do meu caso, na expectativa de que ele me recomendasse qualquer coisa eficaz. Acabou por me recomendar uns exercícios aparentemente simples, mas que não são tão simples como parecem, que se resumem a um esticar de dedos para a frente e para baixo, ora um, ora outro, ora uns ora outros. Para além de cansarem, levam muito tempo a fazer, dada a sua multiplicidade e a repetição recomendada. Há por isso que aproveitar todos os bocadinhos para os executar.
Esta manhã, ia eu no Metro a caminho de mais uma aula de Chi Kung e de Tai Chi Chuan, deu-me para preencher aquele vazio com os tais exercícios. Para melhor me poder concentrar, fechei os olhos enquanto contava para mim os segundos e os minutos e lá ia alternando a posição dos dedos. Levei nisto um bom quarto de hora até à penúltima estação do meu itinerário. Ao abrir os olhos, deparo com uma senhora sentada â minha frente, a fitar-me de olhos espantados. Os nossos olhares cruzaram-se, eu sorri-lhe, ela quebrou o embaraço, interpelando-me de pronto:
- De que religião é o senhor?
- Eu não sou religioso, minha senhora.
- Parece muçulmano.
- Pareço muçulmano, porquê?
- Não sei bem, mas parece. Eles também usam um gorro na cabeça.
- Isto não é bem um gorro, minha senhora.
- Pois não, é uma boina, mas o senhor estava de olhos fechados e a fazer cá uns trejeitos com os dedos, que até pensei que estava a rezar.
Esbocei um sorriso e atirei para a fogueira a seguinte acha:
- A senhora pensa que os muçulmanos rezam assim, com os dedos, é?
- Não sei bem. Mas como eles se põem em posições esquisitas para rezar, pensei que fosse…
- Muçulmano?
- Sim, muçulmano. O Senhor não vê que eles para rezar até se põem de rabo para o ar?
- De rabo para o ar ou curvados para a frente até tocarem o chão com a cabeça?
- E isso não vem a dar no mesmo?
- Talvez, minha senhora, talvez. Bom dia, vou sair.
- Já agora diga-me: a que santo é que o senhor rezava tão compenetrado e com tanto fervor?
- A nenhum, minha senhora. Limitava-me a curar um cancro que tenho nos pulmões.
- Ai, desculpe! E isso de dedo para cima, dedo para baixo, dará resultado?
- Espero bem que sim. Se não confiasse num bom resultado, acha que me submeteria a tanto?
- Pois, talvez não.
- Bom dia, minha senhora.
- Passe bem, senhor. As suas melhoras.

quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

EU SOU EU









EU SOU d(EU)s
É isso mesmo. Eu sou o d(EU)s único e verdadeiro. O único em que não creio, porque eu não creio em nenhum d(EU)s. Ou o sei, e não preciso de acreditar; ou não o sei, e não há crença que penetre no meu convicto racionalismo. Não sou homem de crenças, mas de certezas. Não sou homem de fé, mas de esperança. Anima-me uma arreigada e imbatível esperança que só morrerá quando eu morrer de vez, ou seja, três dias depois do meu decesso, não vá eu ressuscitar, que a medicina, hoje em dia, e a natureza, de vez em quando, continuam a fazer milagres desses. Eu sou d(EU)s, porque me sei e me sinto. Todos os crentes me lamentam por não ser crente. Todos me lamentam, menos eu. Todos me choram, menos eu. Eu choro, mas não me choro. Nem na doença. Luto, isso sim, com todas as veras do meu ser contra ela. Com o apoio e o estímulo de todos, obviamente. Mesmo dos que me lamentam e dos que rezam por mim, que é a melhor e mais convicta forma de muitos se mostrarem solidários e amigos. E a quem eu agradeço, evidentemente, com muita seriedade e convicção. A reza? Claro que não. A solidariedade telepática que me transmitem, enquanto me rezam, me pensam, e me sentem.
Dei por mim a pensar que o que mais crê é o que mais duvida, pois que só acredita, só tem necessidade de acreditar, quem não sabe, não vê, mas quer “ver” qualquer coisa a qualquer preço. Por isso crê. Na dúvida, crê. E crê na razão directamente proporcional à dúvida em que não quer cair, para não assistir dentro de si à estupenda derrocada dos princípios que o norteiam, ao desmoronamento do edifício que habita e cujos alicerces são precisamente a fé, a crença, a religião. A fé, a crença, a religião constituem o bunker em que a dúvida se refugia para não ser vislumbrada nem pelo próprio. Quanto maior a dúvida e a ânsia de a esconder, maior a convicção religiosa, maior o fundamentalismo que toda e qualquer religião segrega, com a naturalidade com que o bicho-da-seda segrega seda. Daí o fundamentalismo secular de católicos e protestantes, hoje mitigado por ter perdido muito do poder temporal por que sempre lutou; daí o fundamentalismo islâmico, hoje o mais premente e actual, dado o seu pendor para o expansionismo territorial e o seu forte poder temporal, sustentado pelo petróleo, ainda muito vivo, dominante e dominador de muitos povos.
E por aqui me fico, que isto não é assunto que se esmiúce de uma só vez.
Um abraço de harmonia, amizade, solidariedade e paz, para todos, religiosos ou não, agnósticos ou não, ateus ou não.
André Moa

quarta-feira, 13 de janeiro de 2010

O DIA DE TODAS AS ILUSÕES







2010-01-13
O DIA DE TODAS AS ILUSÕES
Como estava programado, na segunda-feira, dia 11, fui fazer novas análises que hoje fui levantar e mostrar ao médico. No Domingo, dia 10, dei por mim a olhar-me ao espelho e a falar com esse outro eu que me macaqueia sempre que o miro e olho, que ri, quando eu rio e chora, se eu choro. Ao ver-me com tão bom aspecto, ao sentir-me com boa disposição, dei por mim a sorrir e a interpelar a imagem que me era devolvida, dizendo-lhe que tudo iria correr pelo melhor, uma vez que me sinto como há muito não sentia: muito bem. Daí a conclusão, mais que lógica, pretendida: confiança absoluta, meu rapaz, vais ver que os resultados das análises só poderão confirmar esta tua boa disposição, este teu óptimo aspecto. Foi com este estado de espírito que na manhã seguinte me apresentei no laboratório de análises e que hoje me aprestei a levantar os resultados e a mostrá-los ao oncologista. Ilusão. Surpreendentemente ou não, o raio do antigénio carcinoembrionário (CEA) teima em subir. Mais uns pontinhos do que fora registado em Outubro, uma vez que passou de 22,65 para 28,56 ug/L. Os demais parâmetros apresentam-se razoáveis. Perante estes resultados, julgo que ainda não alarmantes, o médico, depois de me perguntar como me sentia e eu ter respondido que bem, interroga-se sobre o que fazer. Aproveito esta sua hesitação para adiantar: - Ó, doutor, se estes dados ainda não são preocupantes, não será de aguardarmos um pouco mais, para melhor se ver a evolução disto tudo? O médico agarrou de pronto esta minha deixa e concordou de imediato, prescrevendo novas análises e nova consulta para o dia 24 de Fevereiro. É caso para dizer que «enquanto o pau vai e vem, folgam as costas». E sempre terei mais um mês e meio para prosseguir com o tratamento naturista que estou a seguir, ininterruptamente, desde Junho. Até lá, confiança absoluta, optimismo a rodos, cara alegre, que isto ou «dá tábuas ou casqueiras». Isto vai. «Ou vai ou racha». Vai. Tem de ir, que eu não baixo os braços e continuo e continuarei sempre, até à exaustão, a não dar tréguas ao maligno caranguejo. E eu que me pelava por umas boas perninhas de uns caranguejos bem temperados!
André Moa



quarta-feira, 6 de janeiro de 2010

DIA SEIS DE JANEIRO - DIA DE REIS



DIA DE REIS

Como ainda ontem à noite me lembrou minha mãe pelo telefone (não há ano que não mo lembre), faz hoje setenta anos que nasci para Cristo, no seu crente falar. Eu, mais prosaico, direi que faz setenta anos que fui filiado no sindicato católico, apostólico, romano, por vontade expressa e exclusiva dos meus pais. Eu contava apenas um mês e oito dias de vida e a idade da razão, essa, ainda vinha longe, como aliás, ainda hoje. Já me lembro muito bem é de andar a cantar os reis de porta em porta, quando ainda infante. Eu que nunca era seleccionado para nenhuma das equipas de futebol, formadas ad hoc, salvo quando faltava um para formar uma das equipas e eu era o único ainda disponível, já facilmente era arvorado em mestre e solista da cantoria. Já adolescente, a comandar um grupo de estudantes, lá íamos nós a duas ou três casas dos pais de colegas nossas de estudo, tudo previamente combinado. Quadras devidamente enquadradas na época, mas inéditas, feitas, por mim, a propósito. No final da cantoria, escancaravam-se as portas da casa onde nos esperava uma temperatura amena e um bom repasto. Acabávamos todos já bem bebidos a fazermos uma monumental serenata, até que o frio de rachar nos fosse sorvendo os eflúvios e os calores dos álcoois. Isto em Tabuaço, coração do Douro Vinhateiro.
Ainda me lembro do refrão de uma das modas mais tradicionais dos cantares dos reis: "As boas festas nós vimos dar, o deus menino vimos visitar; as boas festas nós vimos dar, o deus menino vimos visitar”. Seguiam-se depois as quadras direccionadas aos membros da família, a começar pelo senhor da casa, logo seguida da senhora da casa. "Quem diremos nós que viva no copinho do licor, viva o dono da casa e mais quem lhe tem amor”. Quem diremos nós que viva no grãozinho do arroz, viva a Dona Maria por muitos anos e bôs”.
Para todos, bom fim destas festas natalícias! E Feliz Carnaval, que não tarda aí!
André Moa!
 
Que cantan los poetas andaluces de ahora...