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COMPASSO DE ESPERA
Várias coisas estão pendentes, em vias de concretização e eu, entretanto, a engordar, a engordar, a recuperar a olhos vistos. E o meu neto a crescer, a crescer, em corpo e sabedoria.
É costume dizer-se que enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Pois eu estou entre esse vai e vem, em compasso de espera.
À espera do almoço em Tabuaço, para onde partirei com o meu mano na próxima quinta-feira, regressando à capital no domingo, dia 31, depois de na véspera nos juntarmos com o irmão Osvaldo e outros amigos à volta de uma mesa redonda no Tábua D’Aço. Redonda para melhor nos revermos e pormos a escrita em dia; redonda, com uns pratos redondos, uma comidinha que nos ponha mais redondos, e uns candeeiros de vidro redondinhos, a que costumamos chamar copos, atestados de um agradável combustível, um bom vinho, uma boa ‘pomada’ para nos iluminar a alma e aquecer o corpo ávido por umas ‘asneirinhas’ destas.
À espera da xaropada do dia 1, que só de pensar nela me arrepio.
À espera da colonoscopia do dia 2 e muito especialmente dos resultados. Esperançoso, mas nem por isso menos apreensivo. Não posso esquecer-me de que toda esta trampa em que tenho vivido mergulhado de há três anos a esta parte começou nos intestinos e que os meus intestinos são um óptimo alfobre de pólipos. Os meus e os do meu irmão. Ainda há dias foi fazer mais uma colonoscopia, e lá tinha uns novos pólipos a florir. Foram logo estripados, é óbvio e é o que vale.
Á espera da publicação e do lançamento do livro. Sei que já está na tipografia, que deve ficar pronto dentro de dez dias, que será distribuído pelas livrarias imediatamente a seguir e que a apresentação, o primeiro lançamento, será em Lisboa, na sede da Ordem dos Médicos, no dia 24 de Junho, dia de São João, dia do aniversário do meu saudoso pai, o senhor João Baptista Fernandes, um senhor de verdade, um homem bom, um óptimo exemplo e testemunho de generosidade e de amor à vida. E sempre bem disposto, o que não admira, se nos lembrarmos que nasceu em dia de folguedo e alegria. Chorou, mal nasceu, como acontece com todos os recém-nascidos, mas foi choro de pouca dura. Sofreu a bom sofrer, do berço à tumba, mas sempre com resignação de santo, com uma tal aceitação que não lhe permitia verter uma lágrima que fosse. Traiu-o uma lágrima que se soltou sem pedir licença e escorreu doce e tranquilamente, na véspera de morrer, ao despedir-se de mim. Nunca mais se apagará da memória aquela pérola líquida a deslizar serena e vagarosamente por um dos sulcos do seu rosto.
À espera do resultado das análises que irei fazer nos finais de Junho e, face a elas, do veredicto médico.
À espera que o diagnóstico de um naturista, no final de uma conferência a que fui assistir esta tarde, se cumpra. Disse-me ele, com base nos lóbulos das minhas orelhas e nas rugas ao lado dos olhos a que habitualmente se chamam pés de galinha, que eu estou talhado para a longevidade. Gostei de ouvir esta. Só não estivemos de acordo quanto aos anos possíveis de vida. Ele fica-se pelos cento e vinte; eu exijo cento e cinquenta, no mínimo.
À espera, sempre à espera, com a arreigada esperança de que quem espera sempre alcança.
Várias coisas estão pendentes, em vias de concretização e eu, entretanto, a engordar, a engordar, a recuperar a olhos vistos. E o meu neto a crescer, a crescer, em corpo e sabedoria.
É costume dizer-se que enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Pois eu estou entre esse vai e vem, em compasso de espera.
À espera do almoço em Tabuaço, para onde partirei com o meu mano na próxima quinta-feira, regressando à capital no domingo, dia 31, depois de na véspera nos juntarmos com o irmão Osvaldo e outros amigos à volta de uma mesa redonda no Tábua D’Aço. Redonda para melhor nos revermos e pormos a escrita em dia; redonda, com uns pratos redondos, uma comidinha que nos ponha mais redondos, e uns candeeiros de vidro redondinhos, a que costumamos chamar copos, atestados de um agradável combustível, um bom vinho, uma boa ‘pomada’ para nos iluminar a alma e aquecer o corpo ávido por umas ‘asneirinhas’ destas.
À espera da xaropada do dia 1, que só de pensar nela me arrepio.
À espera da colonoscopia do dia 2 e muito especialmente dos resultados. Esperançoso, mas nem por isso menos apreensivo. Não posso esquecer-me de que toda esta trampa em que tenho vivido mergulhado de há três anos a esta parte começou nos intestinos e que os meus intestinos são um óptimo alfobre de pólipos. Os meus e os do meu irmão. Ainda há dias foi fazer mais uma colonoscopia, e lá tinha uns novos pólipos a florir. Foram logo estripados, é óbvio e é o que vale.
Á espera da publicação e do lançamento do livro. Sei que já está na tipografia, que deve ficar pronto dentro de dez dias, que será distribuído pelas livrarias imediatamente a seguir e que a apresentação, o primeiro lançamento, será em Lisboa, na sede da Ordem dos Médicos, no dia 24 de Junho, dia de São João, dia do aniversário do meu saudoso pai, o senhor João Baptista Fernandes, um senhor de verdade, um homem bom, um óptimo exemplo e testemunho de generosidade e de amor à vida. E sempre bem disposto, o que não admira, se nos lembrarmos que nasceu em dia de folguedo e alegria. Chorou, mal nasceu, como acontece com todos os recém-nascidos, mas foi choro de pouca dura. Sofreu a bom sofrer, do berço à tumba, mas sempre com resignação de santo, com uma tal aceitação que não lhe permitia verter uma lágrima que fosse. Traiu-o uma lágrima que se soltou sem pedir licença e escorreu doce e tranquilamente, na véspera de morrer, ao despedir-se de mim. Nunca mais se apagará da memória aquela pérola líquida a deslizar serena e vagarosamente por um dos sulcos do seu rosto.
À espera do resultado das análises que irei fazer nos finais de Junho e, face a elas, do veredicto médico.
À espera que o diagnóstico de um naturista, no final de uma conferência a que fui assistir esta tarde, se cumpra. Disse-me ele, com base nos lóbulos das minhas orelhas e nas rugas ao lado dos olhos a que habitualmente se chamam pés de galinha, que eu estou talhado para a longevidade. Gostei de ouvir esta. Só não estivemos de acordo quanto aos anos possíveis de vida. Ele fica-se pelos cento e vinte; eu exijo cento e cinquenta, no mínimo.
À espera, sempre à espera, com a arreigada esperança de que quem espera sempre alcança.