SEJAM MUITO BEM VINDOS A ESTE BLOG!--------ENA!-- TANTOS LEITORES DO MEU BLOG QUASE DIÁRIO! ---ESTA FOTO É UMA VISTA AÉREA DA MINHA TERRA,-TABUAÇO! UM ABRAÇO PARA CADA UM DE VÓS! -ANDRÉ MOA-

DIÁRIO DE UM PACIENTE II

domingo, 24 de maio de 2009

Quem nos viu e quem nos vê
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COMPASSO DE ESPERA


Várias coisas estão pendentes, em vias de concretização e eu, entretanto, a engordar, a engordar, a recuperar a olhos vistos. E o meu neto a crescer, a crescer, em corpo e sabedoria.
É costume dizer-se que enquanto o pau vai e vem folgam as costas. Pois eu estou entre esse vai e vem, em compasso de espera.

À espera do almoço em Tabuaço, para onde partirei com o meu mano na próxima quinta-feira, regressando à capital no domingo, dia 31, depois de na véspera nos juntarmos com o irmão Osvaldo e outros amigos à volta de uma mesa redonda no Tábua D’Aço. Redonda para melhor nos revermos e pormos a escrita em dia; redonda, com uns pratos redondos, uma comidinha que nos ponha mais redondos, e uns candeeiros de vidro redondinhos, a que costumamos chamar copos, atestados de um agradável combustível, um bom vinho, uma boa ‘pomada’ para nos iluminar a alma e aquecer o corpo ávido por umas ‘asneirinhas’ destas.

À espera da xaropada do dia 1, que só de pensar nela me arrepio.

À espera da colonoscopia do dia 2 e muito especialmente dos resultados. Esperançoso, mas nem por isso menos apreensivo. Não posso esquecer-me de que toda esta trampa em que tenho vivido mergulhado de há três anos a esta parte começou nos intestinos e que os meus intestinos são um óptimo alfobre de pólipos. Os meus e os do meu irmão. Ainda há dias foi fazer mais uma colonoscopia, e lá tinha uns novos pólipos a florir. Foram logo estripados, é óbvio e é o que vale.

Á espera da publicação e do lançamento do livro. Sei que já está na tipografia, que deve ficar pronto dentro de dez dias, que será distribuído pelas livrarias imediatamente a seguir e que a apresentação, o primeiro lançamento, será em Lisboa, na sede da Ordem dos Médicos, no dia 24 de Junho, dia de São João, dia do aniversário do meu saudoso pai, o senhor João Baptista Fernandes, um senhor de verdade, um homem bom, um óptimo exemplo e testemunho de generosidade e de amor à vida. E sempre bem disposto, o que não admira, se nos lembrarmos que nasceu em dia de folguedo e alegria. Chorou, mal nasceu, como acontece com todos os recém-nascidos, mas foi choro de pouca dura. Sofreu a bom sofrer, do berço à tumba, mas sempre com resignação de santo, com uma tal aceitação que não lhe permitia verter uma lágrima que fosse. Traiu-o uma lágrima que se soltou sem pedir licença e escorreu doce e tranquilamente, na véspera de morrer, ao despedir-se de mim. Nunca mais se apagará da memória aquela pérola líquida a deslizar serena e vagarosamente por um dos sulcos do seu rosto.

À espera do resultado das análises que irei fazer nos finais de Junho e, face a elas, do veredicto médico.

À espera que o diagnóstico de um naturista, no final de uma conferência a que fui assistir esta tarde, se cumpra. Disse-me ele, com base nos lóbulos das minhas orelhas e nas rugas ao lado dos olhos a que habitualmente se chamam pés de galinha, que eu estou talhado para a longevidade. Gostei de ouvir esta. Só não estivemos de acordo quanto aos anos possíveis de vida. Ele fica-se pelos cento e vinte; eu exijo cento e cinquenta, no mínimo.

À espera, sempre à espera, com a arreigada esperança de que quem espera sempre alcança.

terça-feira, 12 de maio de 2009

Não há nada que fique tão bem como o filho ao colo da Mãe
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ESCRITA EM DIA



1

SAÚDE


A saúde vai óptima, digo eu, que sou um optimista inveterado. Disse-me esta tarde, olhos nos olhos, o médico oncologista: «Está com um óptimo aspecto!» Foi o que ele me disse, sem rodeios. Gostei de ouvir. Claro que mais gostaria se viesse de uma mulher, mas o significado já seria bem outro, mais lisonjeiro, talvez, mas não mais animador.
A saúde vai boa, diria eu, se fosse mais comedido.
A saúde vai benzinho, digo eu ao olhar para os trambolhos dos pés e das pernas e ao ver no espelho reflectida a cara inchada, luzidia e brilhante como a lua em plenilúnio. Por essas e por outras é que até ao olho clínico de um médico o meu aspecto parece óptimo.
A verdade é que também já recuperei dez quilos.
Por outro lado, a barba à passa piolho voltou a crescer a já se vislumbra uma passadeira prateada a envolver-me a cara. O restauro do precioso original avança a olhos vistos.
O cabelo, esse, lá vai tentando camuflar, pouco a pouco, o melhor que pode e sabe, as clareiras cranianas com um tapete (mais correcto seria chamar-lhe manta de retalhos) ainda mais prateado que a barba. Também não admira. É mais velho que esta uns dezasseis anos. Dantes pêlo de rato, desponta agora como um esboço do que poderá vir a ser daqui a uns anitos uma cabeleira à Marquês de Pombal. No mínimo! Por enquanto apenas me assemelha a um caraculo. Verdade, verdadinha, por enquanto não passa de um capachinho da mais pura astracã.
Os dedos ainda não se recomendam, mas já não me doem como chegaram a doer. Os dedos, em qualquer retrato, são sempre a parte anatómica mais difícil de pintar (digo eu que não percebo absolutamente nada de pintura), logo, também a mais difícil de restaurar. Aliás, tenho para mim que o melhor para restauração não serão os meus dedos, mas os de porco, numa boa chispalhada. Eheheheh! O Herman José, aqui chegado advertiria os leitores com um «perceberam o trocadilho? Restauro – Restauração; quadro – confecção de pratos…
Passei uma boa parte do dia no Hospital, em marcação de consulta e de uma colonoscopia, uma vez que já lá vai um ano que fiz a última. Depois de amanhã vou fazer um electrocardiograma que tenho de apresentar, bem como as análises que fiz há dias, quando for fazer a colonoscopia, marcada para o próximo dia 2 de Junho, pelas nove horas.

2

ALMOÇO DE CONFRATERNIZAÇÃO

Rufo os tambores, para anunciar que no próximo dia 30 de Maio (sábado), pelas 13 horas, no Restaurante TÁBUA D’AÇO, junto às piscinas de Tabuaço, vila e sede do concelho românico e romântico do Douro vinhateiro, Património Mundial, vai realizar-se um almoço de confraternização onde se aguarda a presença cá do rapaz, do irmão cá do rapaz, do Osvaldo, amigo-irmão cá do rapaz, do Ernesto Leandro, irmão lógico cá do rapaz, dos amigos cá do rapaz que queiram e possam comparecer, e ainda dos inimigos predispostos a reconciliarem-se cá com o rapaz (será a maneira de ficar a saber que tenho inimigos, de os conhecer e acabar logo com eles, passando de imediato e ipso facto de inimigos ignorados a amigos declarados).
Contactos: por comentários neste blogue; pelo e-mail:
andremoa60(arroba) gmail.com ou pelo telemóvel 919448471.

3

MAU TEMPO NO ANAL-DIÁRIO DE UM PACIENTE

Acabo de receber um e-mail anunciando o O.K. para o lançamento do livro, na biblioteca da sede da Ordem dos Médicos, sita na Avenida Gago Coutinho (avenida do aeroporto, junto à rotunda do relógio).

E POR HOJE É TUDO E JÁ NÃO SERÁ POUCO.

André Moa

sábado, 2 de maio de 2009


2009-04-30




VEREDICTO: ‘EXCELENTE’


Passei a semana em exames e análises. Na segunda-feira fui fazer uma ecografia vaso-prostática e uma urofluxometria. Na terça-feira, análises: uma ao sangue e duas à urina. Hoje, logo pela manhã, fui levantar estes utilíssimos meios de diagnóstico, para os apresentar na consulta do médico oncologista, o excelente Dr. Manuel Domingos, marcada para as onze e meia. Às onze e meia em ponto, sou chamado pelo altifalante. Tudo visto e ponderado, exclama o Dr. Domingos a sua palavra-chave, o abre-te sésamo da minha tranquilidade: excelente. Que melhor poderia ouvir eu que estava com o coração aos saltos, na expectativa do seu veredicto? Nada melhor, é evidente. O factor cancerígeno que há um mês já baixara para níveis óptimos, desta vez ainda estava um tudo nada mais baixo. O PSA situa-se a um nível também baixo. Só o colesterol ultrapassou bastante a fasquia do desejável. O médico, porém, recomendou-me que, por ora, não ligasse a esse dado. Que tratasse, isso sim, de engordar, de me portar mal, mas com classe. Claro que só com classe uma pessoa se pode portar mal, caso contrário cai-se é na bandalheira, escorrega-se para a depravação, tomba-se na vilania. Já engordei seis quilos e meio, mas ainda me falta recuperar dez quilinhos para ficar com o peso anterior à hecatombe. E eu já era um rapaz elegante, como sabem os que me conhecem. Nunca fui gordo. Tornei-me foi num esqueleto ambulante, numa macabra imitação de um biafrense dos anos sessenta cujas fotografias nos arrepiavam a nós europeus bem nutridos. Falei-lhe dos nódulos que persistem. Como estacionaram, o oncologista considerou que não valia a pena prescrever mais tratamentos. Vigilância é o que se impõe. Alerta apertado, atenção redobrada. Análises e consultas regulares para controlo da situação. Daqui a dois meses, novas análises e nova consulta. Por pouco que a revisão não voltava a coincidir com a reunião da Assembleia Municipal de Tabuaço. Colide com os festejos de São João, que na minha terra são sempre muito animados, mas o meu corpinho pede mais sopas e descanso que bailarico aceso. Esteja eu folgado de saúde, que o folguedo rebenta espontaneamente no coração e na razão, e não há alegria maior nem festarola mais apetecida do que aquela que resulta de nos sentirmos bem connosco, convosco, com todos e com a vida. ‘Boa festa faz quem em sua casa está em paz’, como sempre ouvi proclamar a minha mãe, ao longo dos anos, mais amiúde na minha infância e juventude, quando o corpo me pedia rambóia, pândega, folia, estroinice, e a costumadas aflições dos progenitores preferiam sentir o pinto no aconchego das asas maternais, a fruir, quietinho, o sossego do pátrio ninho.
Sinto-me contente e serenado. A respirar fundo. Só não me apresento eufórico porque a espada de Dâmocles, em casos destes, mantém-se teimosamente pendente sobre a cabeça do visado e eu já estou de sobreaviso, pois que já é o segundo cancro que combato. E é bem verdade que gato escaldado de água fria tem medo.
Apesar deste receio natural (‘quem tem cu tem medo’ – proclama, frontal e sem papas na língua, o povo do alto da sua ancestral e experimentada sabedoria), se sempre confiei, mais confiado me sinto agora e mais agradecido a todos quantos me encorajaram, me estimularam, me emprestaram força anímica. Vou continuar atento, vigilante, alertado, mas não alarmado, que os sons não são de alarme, mas de júbilo. Alegremo-nos todos e rejubilemos.
 
Que cantan los poetas andaluces de ahora...