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DIÁRIO DE UM PACIENTE II

terça-feira, 21 de abril de 2009


RUMO AO SONHO

Oito dias de espera, sem que nada de novo, no tocante a saúde, aconteça. Dedos das mãos numa lástima; calcanhar do pé direito inchado, com uma senhora greta que nada a faz fechar, e eu sem poder andar sem dores, sem poder escrever sem dores, sem poder pensar sem dores. Isto tudo, apesar de há mês e meio que não tomo químio e há um mês sem me ser injectada qualquer droga. O médico oncologista bem informou que estes efeitos colaterais levam o seu tempo a passar. Claro que me serenou. As dores e o mal-estar geral é que ainda não passaram. Quousque tandem, porra? Vale é que, se nem tudo são rosas, nem tudo são espinhos. Tenho mesmo motivos de contentamento. A QUIDNOVI reiterou o propósito, reconfirmou o interesse em editar o MAU TEMPO NO ANAL-DIÁRIO DE UM PACIEDNTE. Já tivemos uma reunião de trabalho, o livro foi-me entregue já paginado, para revisão. Os técnicos da editora estão a ultimar a capa. O contrato só ainda não foi assinado, por faltar definir o número de exemplares e mais um ou outro pormenor anunciado mas que me escapou. O livro deve ficar pronto na segunda quinzena de Junho, data fixada e assumida pela editora. Falou-se igualmente em termos de publicidade e de lançamentos do livro a efectuar. Por mim, disponibilizei-me a ir a todas, a participar em todos os eventos que vierem a tornar-se viáveis, nomeadamente em lançamentos do livro, seja onde for. Em todo o país, em qualquer galáxia. Será a forma de continuar a aprofundar e melhor divulgar o testemunho de vida que me propus transmitir, na pressuposição de que alguém possa vir a beneficiar com isso. Amanhã vou telefonar para se marcar nova reunião de trabalho.
Isto vai de vento em popa, seja no mar até agora turbulento da saúde, seja no mar editorial que se tem mostrado, desde o começo, bonançoso e propício à navegação rumo ao sonho, à concretização de um sonho.

quinta-feira, 9 de abril de 2009



COMPASSO DE ESPERA – TRANQUILIDADE ADIADA
2009-04-06



Lá fui eu ao hospital fazer a TAC. Cheguei às nove horas em ponto ao serviço de medicina. Vesti o fato de gala – o tal que dá mais pelo nome de pijama hospitalar – e lancei-me na cama a ler, à espera que me chamassem para ser conduzido ao Serviço de Imagiologia. Era meio-dia quando o telefone tocou a requisitar a minha presença. Às treze horas já estava despachado. Nada perguntei, nada me disseram quanto ao exame em si. Este vai ser enviado, talvez amanhã, para “Medicina”. Fiquei de telefonar à tarde. Em vez de telefonar, vou passar por lá. Pode ser que encontre o médico e me dê já o seu veredicto sobre o meu próximo futuro. Alea jacta est. Os dados estão lançados.Eu, confesso, estou muito esperançado. Mas preparado para o que der e vier.Se o que vier for bom, óptimo; se for menos bom, cerrar os dentes e continuar a lutar.
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«Claro que vai ser bom. Pensamento positivo. Vá lá cerrando os dentes e continuando a lutar!
Beijinhos. Linda».
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2009-04-07

Às duas da tarde em ponto, lá estava eu perfilado para receber o resultado da TAC que fiz ontem. O médico já tinha saído. Deram-me o exame. Li, de pronto, o relatório. Confesso que esperava melhor. Mas porque sou leigo na matéria, não sei ler nas entrelinhas e pode ser que me tenha precipitado na leitura e interpretação dos dados. Amanhã vou tentar falar com o oncologista para perceber bem o que se passa, o que ele irá dizer e prescrever. Só então tirarei conclusões. Uma coisa é certa: a luta continua e eu não viro costas à luta. Era o que faltava! Procuro ser dos que não perdem a esperança e a confiança facilmente. Assim será, com a vossa sempre preciosa ajuda, meus imprescindíveis amigos e familiares. Assim vai ser.
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2009-04-08
«Olá André,
Tive muito que ler, já que ando atrasada. Aproveito para através de si dar os meus pêsames a Gabriela Silva. Tenho gostado muito dos seus poemas e de toda a sua escrita em "Entre margens de Afectos", bem como a da Aida Baptista. E lá estarei no dia 18 de Abril no lançamento do novo livro. Quanto a si, André, espero as últimas novidades. Estamos sempre aqui entrincheirados para o que der e vier.
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O que a Gabriela diz de si é muito bonito e mostra bem a sua têmpera. Concordo plenamente e mais ainda quando ela diz: "...Quando te conheci pessoalmente ainda gostei mais..." Eu também ainda gostei mais.Quando abri este post adorei ver aquela imagem lindinha do Luís Tiago. Parece ser uma criança maravilhosa e uma força imensa de vida e esperança. Espero que as novidades sejam boas ou pelo menos razoáveis. Deixo-lhe um abraço enorme e beijinhos.
Volto breve.
Branca
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Olá André!
Acabei de chegar aqui pela mão da Branca. Li o último post e vou voltar para ver o que tenho "perdido". Quanto à sua saúde, não é a primeira vez que fica baralhado com os relatórios mas depois vem o médico e devolve a serenidade, não é? Vamos esperar que o bicharoco esteja K.O. Mas se não estiver, cá estamos para o combater e arrumar de vez. Espero que não o impeça de vir ao Douro retemperar as forças e recarregar baterias.
Um abraço. Graça Lopes».
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Levantei-me cedo e, logo que preparado para sair, lá fui eu de rota batida, munido com exames e análises, rumo ao Hospital, à procura do Dr. Manuel Domingos, o médico oncologista que já vai na segunda batalha contra os meus cancros, para me ir mantendo vivo. E eu, como lhe estou grato! Quando se apercebeu de que tinha exame e relatório comigo, perguntou-me que tal eram as notícias. Respondi-lhe que esperava melhor. Olhou-os de relance, e logo me tranquilizou, afirmando que não estavam mal. De qualquer maneira, recomendou-me que fosse dar uma volta e regressasse por volta das 11 horas. Sentei-me por ali perto a ler Aquilino Ribeiro – Geografia Sentimental. Quando mergulho na leitura alheio-me de tudo o resto, perdendo mesmo a noção do tempo. Daí que a hora e meia de espera se esfumasse sem dar bem por isso. O meu irmão apareceu e também me ajudou a vencer a ansiedade que, sob a aparência de tranquilidade, me ronronava no cérebro. Às onze em ponto, apresentei-me de novo ao médico que me amainou o espírito. Não me receitou nada, passou-me sim uma requisição de novas análises para o próximo dia vinte e oito e uma marcação de consulta para o dia trinta a fim de ponderar e decidir, com base em todos os meios de diagnóstico existentes. Adiantou que, muito provavelmente, não iria prescrever mais tratamentos, por prever que não serão necessários. Aguardemos, pois, pelo fim do mês, calma e serenamente, ainda que com o credo na boca. Mas sempre confiante e esperançoso. E preparado para continuar a lutar, com unhas e dentes, a cerrar fileiras se necessário for. Um pequeno contratempo: não será ainda desta vez que irei matar saudades da minha terra natal, do meu pátrio Douro. Muito provavelmente, se não surgir qualquer outro impedimento, só nos fins de Junho. O meu irmão ainda levantou a hipótese de se tentar alterar a data da consulta, mas eu demovi-o, mostrando-lhe que respeitava religiosamente as circunstâncias, que não gostava de contrariar, muito menos remar contra a corrente, que gostava sim de mergulhar e tranquilamente seguir o rumo por elas definido. E, argumento definitivo e “arrasador”, rematei com os velhos ditos populares: ‘a saúde está primeiro’; ‘há mais marés que marinheiros”; ‘primeiro a obrigação, depois a devoção’. A minha obrigação, a prioridade das prioridades, neste momento, é tratar da saúde. Havendo saúde, tudo o mais virá por acréscimo e com saúde é que apetece gozar a vida, dar largas à folia que, então sim, nos proporcionará alegria e prazer.

sábado, 4 de abril de 2009


A FORÇA DA SOLIDARIEDADE


«Caríssima Gabriela,

Acabo de receber da Aida Baptista a notícia do falecimento da sua mãe. Por este triste acontecimento, o meu primeiro abraço, via e-mail, coincide com último adeus à sua querida mãe que não tive o privilégio de conhecer pessoalmente, mas a quem presto a minha homenagem pela linda e talentosa filha que ofereceu ao mundo, à cultura, à literatura, à solidariedade, à amizade, ao amor. Pelo fruto chegamos à árvore. Porque o fruto é óptimo, a árvore, ainda que ausente, permanecerá entre nós, porque nos merecerá um eterno e saudoso preito.
Porque nestes momentos de perda e de tristeza deve precisar de forças suplementares, aceite a minha estima solidária, a minha alma em sintonia com a sua, hoje na dor, ontem e amanhã na alegria de continuarmos vivos, prontos a dar continuidade à obra que nos foi legada pelos nossos progenitores, por todos quantos nos precederam nesta incessante caminhada rumo ao sempre desejado e nunca alcançado absoluto perfeito.
Receba este meu grande abraço solidário e amistoso, querida amiga Gabriela.
Seu, ad aeternum,
André Moa»

Meu querido amigo

Obrigada pelas mensagens e pela força que tenho sentido a vir de ti. Nem toda a gente tem essa energia no meio de um dia de inverno. Tive essa certeza no dia em que te conheci através de textos que diziam muito acerca de coragem... Quando te conheci pessoalmente ainda gostei mais porque percebi e senti que estavas ali por nós. E isso não tem preço.
Estou a viver um tempo difícil com a perda da minha mãe. Era uma mulher muito sensata, generosa, companheira, resistente e linda. Esteve dúzias de vezes às portas da morte mas resistia sempre. E, contrariamente ao que vaticinavam os médicos, não foi o coração que a matou. Esse aguentava ainda outro tanto!
Tenho muitas saudades dela mas sei que em cada estrela há um sorriso que ela me manda do céu. E é à sombra desse amor que estou viva agora. Com a força de amigos especiais como tu.
Dá notícias. Diz-me que estás rijo e que o teu neto já tem um dente.
São boas notícias.
Um beijo de mar e espuma da ilha e de mim

Querida Gabriela,
Força anímica, coragem e apego à vida é o que não te falta. De qualquer modo, apraz-me pensar que, como gentilmente referes, recebes e sentes alguma energia provinda de mim.
Se tiveres paciência, pachorra e tempo, visita o meu novo blogue – http://diariodeumpacienteii.blogspot.com/ – onde vou relatando a evolução das minhas maleitas que, espero, se estejam a transformar em ex-maleitas, onde também falo do meu neto e de vós, nomeadamente de ti e da Aida.
Continuação desse esforço supremo de renasceres das cinzas e de beijares, sob o lençol da saudade materna, o mar, a espuma , a ilha e os amigos, beijos que retribuo ainda que conspurcados por esta poluição citadina, mas com votos de que, ao contacto com a ilha e com o mar das Flores sejam suaves e acalentadores como a espuma que te envolve de suavidade e ternura.
Beijos desses, cara amiga, para ti, que bem os mereces.
André Moa

Meu querido amigo

É o regresso lento à normalidade depois de uma perda muito importante. Não sou nenhuma santa nem nenhuma filha modelo. Ficar ao lado da minha mãe estes seis anos não foi nenhuma via-sacra dolorosa. Pelo contrário. A minha mãe purificou-se e purificou-me neste tempo de preparação para a sua morte e para a minha vida.
A minha mãe tinha uma energia vital fabulosa. Há seis anos, um neurologista deu-a como morta e depois disso, quanta coisa bonita ela fez. Os segredos da energia são muito mais importantes do que pensamos. E eu conheço só aquilo que vivi. Que também não foi pouco.
A minha mãe tinha força para enfrentar tudo. Era determinada, muito senhora do seu nariz e nunca admitia que tivessem pena dela. Gostava de ser amada e fazia por isso.
Fomos sempre muito chegadas uma à outra desde que me lembro. Nunca nos separamos a vida toda porque, à parte as minhas viagens sempre a correr, a minha vida também decorreu sempre dentro da estreiteza dos horizontes da ilha onde fui e sou feliz. Não sairei nunca daqui de forma definitiva.
A doença é mesmo um estado de alma e eu acredito que tu vais superar essas coisas todas. Agora que te conheci não te posso perder. Ainda faremos juntos coisas novas e boas. Porque não um passeio às ilhas? Olha que é uma terapia especial, acredita!!!!
Um grande abraço e um beijo grande a esse neto fofo da amiga
Gabriela

Conheci a Gabriela Silva, há dias, na sessão de lançamento do livro “ENTRE MARGENS DE AFECTOS” que ela escreveu em parceria com Aida Baptista e contém ilustrações do pintor Manuel Martins.
Entretanto faleceu-lhe a mãe e eu, em solidariedade para com esta amiga recente, escrevi-lhe uma carta de pêsames sim, mas muito principalmente de apelo à vida. É esta troca de correspondência por e-mail que hoje aqui trago à luz do dia, por me parece merecedora de ser lida por todos, para consolação de todos os que sofrem no corpo ou na alma. E, como remate, a meus olhos nada melhor para nos aquecer a alma do que mais uma foto do Luís Tiago.

Noticias de última hora não há. Fui várias vezes ao hospital ao longo da semana, primeiro para marcação do exame que, suponho ser uma TAC, depois na expectativa de ser chamado para o fazer. Na quinta-feira fui informado que estava marcado para a próxima segunda-feira. Lá estarei por volta das nove horas.
Notícia de última hora. Afinal há uma. Convidado pelo meu irmão – Presidente da Delegação de Sintra da Associação dos Deficientes das Forças Armadas (ADFA) – para dizer uns poemas na NOITE DE FADOS e POESIA no encerramento da semana cultural que ali decorreu, lá fui eu. Entreguei-me à causa com tal entusiasmo, a adrenalina deu em subir de tal maneira, que até deu para cantar um fado de Coimbra – Lá longe, ao cair da tarde –; aguentar até ao final da ceia, chegar a casa por volta da uma, agarrar-me ao computador até às cinco da manhã, a rever o Mau Tempo no Anal – Diário de um Paciente. Depois foi tentar recuperar até às cinco em ponto da tarde. E cá estou eu de novo, à mesa de trabalho e de lazer.

 
Que cantan los poetas andaluces de ahora...