
HAJA SAÚDE
2010-12-04
Comecei hoje a escrever um romance autobiográfico, com o entusiasmo que costumo imprimir no início de cada um dos muitos projectos que engendro. Já é a quarta ou quinta tentativa, ao longo dos tempos, de romancear a minha vida que, como a de qualquer mortal, dá pano para mangas. Há quem defenda que todos os romances são autobiográficos e que o escritor escreve, repetidamente, com roupagens diferentes, embora, sempre e só o mesmo romance. Só que tombaram há muito na valeta do esquecimento, à espera que me arme em samaritano e os vá levantar, um a um, e trate deles, convenientemente, até à recuperação total e os conduza até ao fim da jornada. Sinto-me possuído de uma forte convicção de que desta vez é que será. Tenha eu saúde e vida que me permitam concretizar este sonho. Amen.
2010-12-05
Há quem me censure, ainda que veladamente, por eu me dizer humanista (que os teístas leiam ateu, se quiserem) e invocar com muita frequência e regularidade os evangelhos e usar palavras que a liturgia católica consagrou, como, por exemplo, Amen. Isso não me faz mossa, desde logo, porque as palavras não me metem medo e servem muitas vezes ideias aparentemente opostas. Amen, por exemplo, que provém da palavra hebraica «emunah», significa «certamente». Amen, certamente, tudo vai correr pelo melhor, como espero e confio. Acresce que eu sou convictamente humanista (ateu, se preferirem) e como tal me afirmo, mas com a mesma convicção me afirmo cristão. Cristão, não por ver em Cristo um deus e como tal o adorar, mas porque vejo nas palavras e nos ensinamentos que nos evangelhos lhe são atribuídos uma salutar fonte de vida na qual bebi desde pequeno e cuja água me apraz saborear, até porque foi ela que me serviu de alimento, me formou e enformou. Cristo, a ter existido, não passou de um homem, embora um homem de excepção. Mas mesmo que não passe de um personagem saído da cabeça dos evangelistas ou de quem os evangelistas informou e influenciou, nada altera quanto ao considerar interessantes e proveitosas e actuais muitas das parábolas que lhe são atribuídas. E isso me basta. Mutatis mutandis, é o que se passa com algumas personagens de romances, criadas pelos autores como símbolo e prefiguração do pacifismo, para através delas criticar o belicismo. E como eu me revejo em algumas dessas personagens, sem com isso deixar de ser o que sou, de pensar como penso, de estar na vida como procuro estar!
2010-12-05
43.º APONTAMENTO ANTICANCRO
Como salienta David Servan-Schreiber no seu livro Anticancro – um novo estilo de vida -
«os pacientes ficam frequentemente surpreendidos com o facto de os diversos médicos que consultam recomendarem tratamentos completamente diferentes. No entanto, o cancro pode assumir formas tão diferentes uma das outras, que a Medicina se esforça por multiplicar os ângulos de ataque. Como é frequente em casos de cancro, o cirurgião que consultei disse que uma intervenção cirúrgica seria melhor, o radiologista disse que a radioterapia seria um bom método, e o oncologista aconselhou-me a considerar a quimioterapia. Era também possível conciliar estes vários tratamentos. Mas todos eles tinham graves inconvenientes.» O autor descreve esses inconvenientes (alguns já eu os senti em mim) para depois rematar:
«É claro que recebi imensos conselhos sobre tratamentos “alternativos” que pareciam demasiado bons para serem verdade. No entanto, apercebi-me de como era tentador acreditar na possibilidade de uma cura total sem tratamentos desagradáveis e os seus efeitos secundários».
É neste degrau que me encontro há ano e meio. Vamos lá ver os resultados. Sinto é que enquanto há vida, há esperança. Que tudo corra pelo melhor e termine como desejo. Amen
Guimoa
** Guimoa foi o novo pseudónimo que o Kim me arranjou e de que eu gosto muito, porque contém a palavra chave, logo imprescindível – Moa – e mantém ligação estreita com o meu nome próprio. Gui é o diminutivo carinhoso com que a Mité me trata, desde os tempos de namoro.
E soa bem, não soa? Obrigado, padrinho Kim.