SEJAM MUITO BEM VINDOS A ESTE BLOG!--------ENA!-- TANTOS LEITORES DO MEU BLOG QUASE DIÁRIO! ---ESTA FOTO É UMA VISTA AÉREA DA MINHA TERRA,-TABUAÇO! UM ABRAÇO PARA CADA UM DE VÓS! -ANDRÉ MOA-

DIÁRIO DE UM PACIENTE II

terça-feira, 29 de junho de 2010

CRÓNICAS NO FEMININO








POEMA DE LUA CHEIA

Faz este mês de Julho quarenta e um anos. O tempo corria lento, como sempre corre quando se espera por alguma coisa muito desejada. Eu estava redonda, muito redonda, e guardava dentro de mim a edição de uma outra obra, igualmente planeada como fora a primeira. Não sabia ainda se seria ou não da mesma série, pois o nosso conhecimento mútuo limitava-se a monólogos sem resposta e a um silêncio que tudo dizia. Percebi, a partir de então, que a linguagem do amor é a única que não precisa de réplicas e se alimenta de gestos e carícias engendrados em metáforas do faz-de-conta.
Era a minha lua cheia, a que eu carregava na ânsia de que se completasse o último ciclo. Depois de nove voltas completas - lua nova, quarto minguante, quarto crescente e lua cheia - chegarias com o aviso de um romper de águas, numa manhã de cacimbo que humedecia a natureza à nossa volta, num gesto de solidariedade para comigo – ambas húmidas de fertilidade! O mês dos santos populares terminara, mas o meu balão aumentava de volume a cada dia que passava.
- «Foi por lá no balão!», ou «Deixou-se ir no balão!» – eram expressões que minha mãe utilizava quando, na ingenuidade dos seus eufemismos populares, queria dizer que mais uma rapariga fora na conversa das falsas intenções do namorado. Eu sempre achara graça ao seu pudor, à forma como tudo na sua boca ganhava um ar tão limpo, avesso à brejeirice explícita ou ao palavrão desbocado. Contrariando um pouco o curso normal da natureza - que nos faz avós depois de sermos mães -, demos por nós a falar do nosso estado de graça: para mim, o segundo; no caso dela, o décimo primeiro. Não nego que senti algum ciúme ou a sensação de uma concorrência desleal, que servia de mote às conversas das amigas e conhecidas, que tudo davam para espalhar a nova pouco vulgar: mãe e filha grávidas ao mesmo tempo.
Vai fazer quarenta e um anos que os jornais acordaram prenhes de notícias, as rádios de comentários, as televisões de imagens. Lemos e ouvimos vezes sem conta a frase «Foi um pequeno passo para o homem, mas um salto gigante para a humanidade!». Tudo isto, na altura, me passou ao lado porque eu vivia recolhida na escuridão do meu eclipse. Tacteava a minha lua sem me importar com o que acontecia com a lua de todos nós. Atenta aos movimentos do planeta do meu universo, e apenas do meu, na esperança de que, chegada a hora, a mesma fosse breve.
Sem televisão que me devolvesse imagens, sonhei o meu próprio filme sobre a proeza dos homens. Vi-os descer da nave e caminhar na lua, em câmara lenta, como ouvira dizer, e a bandeira americana desfraldada. Eu conhecia a influência da lua nas marés e no anunciar dos partos. Dei, então, por mim a pensar até que ponto aquela epopeia iria mudar o mundo. Por momentos, vieram-me pensamentos loucos. Imaginei as grávidas todas, em fim de tempo, mãos sobrepostas nas suas luas, suspensas de uma ordem dos astronautas que alterasse o normal curso do calendário lunar. Imaginei-as a todas indefinidamente grávidas, a passear de contentamento as suas luas de amor, apesar de uma ou outra mais resignada, por a sua lua ter sido fruto de um descuido ou um acaso inesperado.
Acordei com o mesmo peso dos últimos dias. Saí e olhei para as outras luas, umas ainda em quarto crescente, e senti que nada havia mudado. Pelo menos eu não notara nenhuma alteração que merecesse o meu cuidado. As suas donas caminhavam com o mesmo passo inclinado para trás, apoiando as mãos nos rins, de cada vez que paravam para descansar.
Não tive que esperar muito mais. A manhã de vinte e cinco chegou depois de uma noite sem sobressaltos, dormida no aconchego dos sonhos auspiciosos. Não fora a humidade do orvalho nos lençóis a despertar-me para a realidade e a minha hora breve teria chegado sem aviso. Porque foi mesmo uma hora muito breve, daquelas que se arriscam a não traçar os minutos todos por falta de tempo. Em menos de nada, vi-me com o menino nos braços. O meu menino de cabeleira negra e farta deitado sobre o meu ventre vazio e lasso dele.
Quarenta e um anos depois, eu celebro o mês e o dia em que a minha lua, cansada de iluminar o crepúsculo dos dias, deitou, na minha cama de esperanças, um último raio de luz. Nessa hora, escrevi as estrofes do meu mais lindo poema à lua - o meu filho - Alexandre de seu nome!
Um pequeno passo na obra do Criador, um salto gigante numa vida que se iniciava!
Aida Baptista

domingo, 27 de junho de 2010

CICLO REFLEXÃO



o crente a dúvida a certeza


DUVIDAR VERSUS ACREDITAR

A dúvida é um estado de insatisfação e inquietude do qual lutamos para nos desenvencilhar e passar para um estado de crença, ao passo que este é um estado calmo e satisfatório que não desejamos evitar ou transformar numa crença em outra coisa. Ao contrário, agarramo-nos tenazmente não só ao acreditar, mas a acreditar precisamente naquilo em que acreditamos. Tanto a dúvida como a crença têm efeitos positivos em nós, ainda que bem distintos. A crença não nos faz agir prontamente, mas predispõe-nos a agir de uma certa maneira quando surge a ocasião. A dúvida é desprovida desse efeito activo, mas estimula-nos a investigar até que ela própria seja aniquilada, [...] A irritação da dúvida provoca uma luta para alcançar um estado de crença.
Charles Peirce



Duvidar para acreditar ou acreditar na dúvida?! Quando não temos dúvidas é porque acreditamos. Mas acreditamos em quê, se a realidade se move constantemente e o que ontem era hoje já não é e amanhã será diferente do que é hoje?! Tudo se move e tudo se transforma. O objecto do acreditar não tem forma permanente. Não é mais que uma massa gelatinosa que se altera ao toque e que reage ao nosso agir. O acreditar é passageiro e constitui uma breve pausa na evolução mental do ser humano. Uma pausa para a dúvida. E assim, voltamos ao princípio, ao ciclo vicioso. Duvidamos, acreditamos e voltamos a duvidar para mais tarde acreditar. Como a água que se move perpetuamente sempre no mesmo sentido: evaporação e precipitação e assim sucessivamente.
Paixão Lima

CREIO NA ETERNA DÚVIDA

Se acreditar é preciso
Para fugir ao prejuízo
Do contínuo duvidar,
Eu creio como Déscartes
Que fez da dúvida arte
Para a certeza alcançar.

Atrás de uma outra vem…
Duvidar é o que convém
Para um dia se acertar.
Se com a verdade eu lido,
Só por método duvido,
Não preciso acreditar.

A crença não me comove.
«Como a água que se move»
«Sempre no mesmo sentido»,
Assim eu uso a cabeça.
Só a verdade me interessa,
Só por ela é que eu duvido.
André Moa

Apontamentos anticancro 21
«Ao impedir a formação de novos vasos sanguíneos, é possível assistir à regressão do cancro. À semelhança do que aconteceu com os Nazis, após as suas linhas de abastecimento serem atacadas (pelos russos), privados de abastecimentos, os tumores começaram a mirrar. Reduzidos a uma dimensão microscópica, tornavam-se totalmente inofensivos. Para além disso, demonstrou-se que a angiostatina atacava os vasos de desenvolvimento rápido, não afectando os já existentes. Também não atacava as células sudáveis do organismo, ao contrário dos tratamentos tradicionais como a quimioterapia e a radioterapia. Não causa danos colaterais».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

sexta-feira, 25 de junho de 2010

O QUINTETO ERA DOURO - 2




FOI ASSIM
Senhoras e Senhores, excelsas leitoras, celsos leitores, já que o adquiristes, lede este livro. Escutai o que têm para vos dizer estes dois escritores – estes dois poetas metidos na pele de pensadores em prosa poética – que um dia decidiram dizer o que sentiam e o que não sentiam, o que reflectiam e não reflectiam, o que intuíam e não intuíam, o que deduziam e não deduziam, analisavam, criticavam, denunciavam, criavam e recriavam.
Um – o Ernesto Leandro – sempre a sério, no conteúdo como na forma; o outro – o André Moa – a meio termo, entre o sério e o jocoso, meio a sério, meio a brincar, mas sempre com a louvável e gostosa intenção de levantar o moral às tropas e as saias às raparigas. Se nem um nem outras – moral e saias – se elevarem, não é por falta de vontade, mas por incapacidade; não será por não querer, mas por não poder. Pois bem: as saias que as levante o vento; o moral que se erga com os pensamentos, as reflexões, as tentativas de divertimento sério (mas não sisudo) para aqui vertidos. Para tanto (condição suficiente e necessária), bastará ler este livro e sopesar, como convém, tudo o que ele contém.
Sobre a génese, gestação e parto, o pai da criança que fale se quiser, que eu apenas fui convidado para padrinho. Desde que anuí em apadrinhar, em apascentar a criança, não me converti, mas procurei cumprir o melhor que pude e soube o papel, alimentando metade do corpo e da alma com que ficou, e até metade do vestido lhe pintei. A verde o que é de padrinho; a preto o que preto nasceu e ao pai pertence.
Passo a contar como tudo isto aconteceu, como esta segunda parceria[1] surgiu.
À medida que o Ernesto Leandro ia dando à luz estes seus pensamentos, foi-me mostrando, ou melhor, lendo à distância, a cada puxão de parto, os centímetros de cabeça de fora. E eu gostando. Gostando cada vez mais. E foi assim que fui criando amor por este novo filho do Ernesto.
Quando o deu por concluído, limpo e asseado, preparado que ficou para ser apresentado no areópago das letras, fez o favor de o esparramar em folhas A4, e me oferecer uma cópia. Li, reli, olhei, mirei e regalei-me.
Por estas e por outras manifestações de prazer e regozijo é que o Ernesto (suposição minha) se terá lembrado de me convidar para padrinho e costureiro de parte do vestido da criança. Questão de enfeite. Mera contribuição para que o recém-nascido, bonito e rechonchudo que já era, aumentasse um pouco no volume, que não na ponderação, muito menos na qualidade.
Comecei por recusar, com a recta intenção de não conspurcar o que nascera são e escorreito.
Mas a tentação e a vaidade acabaram por me obnubilar o espírito e o bom senso, e lá dei por mim a avançar, sinuosa e enviesadamente, pelo caminho rectilíneo que o Ernesto Leandro havia rompido.
E deu-me muita satisfação ir plantando, a cada passo, no chão por outro arroteado, umas flores de plástico, quando não lançando uns grãos de joio na ondulante seara do bom trigo antes semeado.
Mas nem tudo está perdido, fácil que se torna separar o trigo do joio. Este ganhou verdete; aquele manteve a cor natural de qualquer escrita que se preze, o preto. O que é bom dispensa qualquer pintura.
Há uma outra versão justificativa da minha presença a verde. Como verificarão, ao lerem a confissão espontânea e adiante expressa, o Ernesto Leandro mantém um contencioso com a vida desde a juventude, que faz dele um inconformado, um revoltado, um pessimista. Com estas qualidades, natural nele se torna escrever a preto carregado, já que é negra a visão que tem do mundo e da vida a que chama madrasta.

Eu que tenho razões de sobra para fazer a mesma leitura da vida, sou um optimista de raiz. Cultivo o humor e a boa disposição, aparento habitar numa galáxia situada nos antípodas da que o Ernesto imaginou e, por via disso, construí um discurso com estas características.
Assim, a tendência foi para eu dizer sim onde ele diz não, escrever a verde quando ele carrega de negro, pensar positivo onde ele pensa negativo. Nem sempre assim será, uma vez que os extremos tendem a tocar-se e, apesar do quadro onde cada um esparrama corpo, alma e divindade ser outro e de cores diferentes, muito de comum nós temos, nomeadamente no que toca ao político, ao social, ao amor à arte, à literatura, à verdade, à frontalidade, ao despojamento, à falta de ambição, ao amor ao próximo e ao afastado, ao espírito de solidariedade, etc., etc., etc.
Esta necessidade de recorrer a três etc. seguidos pode significar (significa mesmo) que me está a faltar água ao leme, pelo que por aqui me fico, esperando que tenha demonstrado a sem razão da minha presença neste trabalho, o porquê do título do livro e das cores utilizadas na escrita.
Fui desafiado. Habituado, desde pequeno, a não enjeitar desafios, também não rejeitei este. Cantar ao desafio foi sempre para mim um prazer e uma forma de ir extravasando o que me vai na alma.
Feito e aceite o convite, era tarde para arrependimentos. Quanto mais não seja por cortesia, o Ernesto não terá outro remédio senão aguentar os meus dichotes à porfia com os seus ditos tão primorosamente escritos.
Agora, quem quiser ler que leia; e quem quiser fugir que fuja, que ainda está a tempo. Como fugir pode aparentar covardia, medo de enfrentar seja o que for, se fosse a si, caro leitor, fugiria sim, mas para a frente, a ler, a ler estes pensamentos, dichotes e ditos, até ao fim.

P.S.

Desculpem este POST-SCRIPTUM, mas impõem-se explicações suplementares, dado o que aconteceu posteriormente à conclusão dos meus ditos inspirados pelas reflexões do Ernesto Leandro.
Tínhamos pensado convidar alguns tabuacenses, para acrescentarem algo ao que tínhamos escrito.
Por mim, lembrei-me de convidar os nossos conterrâneos e meus grandes amigos Aida Baptista e Osvaldo Branco Ribeiro, emigrantes como eu, mas muito e cada vez mais arreigados à Terra Natal.
O Osvaldo Branco Ribeiro emigrou para o Brasil conjuntamente com pais e irmãs. No Brasil estudou, mas, devido aos seus escritos que, pelos vistos, não agradaram ao governo dos coronéis então no poder, foi expulso da universidade. Acabou por regressar a Portugal e daqui partiu para a Suíça, onde vive há trinta anos e é funcionário da Cultura nesse país.
Aida Baptista emigrou para Angola, ao colo da mãe e às cavalitas do pai, com um aninho de idade. Em Benguela enraizou, viveu, cresceu, estudou, se fez mulher, foi esposa e mãe. Até que as vicissitudes da vida a arrancaram do seu viveiro e a devolveram às lusas paragens.
Enviei ao Osvaldo o projecto de livro a que eu e o Ernesto resolvêramos dar o título A PRETO E VERDE, pelas razões acima aduzidas, solicitando que o lesse e escrevesse o que lhe aprouvesse.
O Osvaldo tomou tão a peito o convite que, dias depois, me informou que já escrevera o seu texto e que mo iria enviar por correio electrónico. Abri o correio, abri o anexo, procurei o texto e que encontrei? Duzentas e duas reflexões, tantas quantas as que o Ernesto Leandro fizera. Li, gostei e logo pensei que nascera um livro de reflexão a várias mentes.
Por sua vez, o Paixão Lima, nosso amigo e companheiro da estroina na infância e na juventude, correspondendo ao convite do Ernesto Leandro, concedeu reflectir tantas vezes quantas as que cada um dos três já reflectira: duzentas e duas, que é um número mágico (não me perguntem porquê, que eu de magia não percebo patavina), e forma uma capicua, concedamos, interessante.
Aqui chegados, eu que havia pensado pedir umas palavrinhas à laia de prefácio à nossa conterrânea e querida amiga Aida Baptista (cronista de mérito, como bem o demonstra nos seus dois livros de crónicas editados por Edições Minerva Coimbra – Passaporte Inconformado e O Chão da Renúncia – bem como no livro Entre Margens de Afectos, este escrito em parceria com Gabriela Silva), tratei foi de ousar e ousadamente desafiá-la a emparceirar connosco. Convidei-a a verter para o papel duzentos e dois textos reflexivos, o que lhe apetecesse e saísse, para fechar com chave d’ouro este inopinado e desconcertante concerto de gente que viu pela vez primeira a luz do dia em terras de Tabuaço, concelho românico e romântico do Douro Vinhateiro, património da humanidade.
Falta assinalar (last but not the least) um sexto elemento do grupo, igualmente de peso, igualmente ilustre tabuacense, igualmente duriense de lei, homem de leis, o Armando Gomes Leandro que, por amor a Tabuaço e à sua gente, se prontificou a fazer a abertura deste livro a vários títulos inesperado. Nascido por obra e graça do espírito luminoso do Ernesto, logo foi secundado pelos restantes membros da trupe.
Eis como um magro livrinho - A PRETO E VERDE – foi engordando até se transformar nesta luzidia obra com o sugestivo título: O QUINTETO (OU SEXTETO?) ERA DOURO.
Os seres humanos pensam e a obra nasce para bem da humanidade. Este é sempre o imanente e profundo propósito de quem escreve e dá a conhecer o que escreve. Este é o propósito destas seis cabeças nascidas em Tabuaço, Alto-Douro, Portugal, algures no Planeta Terra, em pleno século vinte, e que pretendem continuar a viver, a dar cartas e a dar que falar, século vinte e um adentro, por muitos e bons anos.
André Moa
Apontamentos anticancro 20
«Os microtumores não podem evoluir para cancros perigosos sem criarem uma rede de vasos sanguíneos que os abasteça. As novas células cancerosas que alastram par o resto do organismo – as metástases – só constituem perigo se, por sua vez, conseguirem atrair novos vasos sanguíneos. Os tumores primários geram metástases, mas impedem que estes territórios distantes se tornem demasiado importantes. Para isso produzem outra substância que bloqueia o crescimento de novos vasos sanguíneos (o que explica a razão de um crescimento repentino das metástases, após a excisão do tumor primário)».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

[1] Ernesto Leandro e André Moa escreveram, em parceria, o livro de poesia: TABUAÇO DOUR(O)ADO – CANTATA A DOIS, editado em 2007 pela Câmara Municipal de Tabuaço.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS

com o meu filho mais novo - o Luís Manuel - que hoje já teria 37 anos


UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS
AOS SETENTA só SESSENTA DE POESIAANTOLOGIA DE UM DESCONHECIDOEdição 1973(continuação)

DO SENTIMENTO À RAZÃO
(continuação)

CONSCIÊNCIA DESPERTA

Vidro espelhado
Cagadela de mosca
Lago quebrado
Movimento de osga

No meio de tudo isto
Insistentemente insisto
E pergunto
Onde está a consciência

O espelho responde
Não perguntes onde
Mas onde é que se esconde
Como e onde

E diz a mosca ao mosco
Por detrás do vidro fosco
Bem dentro da cagadela

E o cão para a cadela
Alto lá
Só eu sei onde é que está
No fundo do seco lago
Bem por baixo
Do movimento parado
No translúcido da osga

Se lá vires alguma coisa
Deste conta do recado
Descobriste um grande achado
Que ninguém
Até hoje que se saiba
Tinha ousado
Encontrar

E diz por fim a cadela
Só eu é que dei com ela
Sou ou não sou muito esperta
Tenho ou não tenho
Estofo e tamanho
Para ser
O alerta consciente
Da consciência desperta?

FOI ASSIM QUE A HIDRA RENASCEU

Nuvem densa
Lança chuva
No prado que já não vejo

Entre mim e o que foi prado
Nasceu morro de cimento
Diminuiu o azul
Seja a norte
Seja a sul

O mundo era gigante
Antes de o mundo ter muros
Tijolos ferros e vigas
Deram em tapar o céu
Tornaram o mundo pigmeu
E de nós mais inseguros
Apesar de escudados
Por tais muros
Por causa de vivermos
Entre muros

As aves não cantam
Grunhem
Suspensas de altas gruas
Que voam da terra aos céu
Com humanos enlatados
Aos centos e encolhidos
E de vontade despidos

E assim
Sem céu
Sem azul
Sem verde
Sem pasto
O pensamento
Deixou de ser
Casto

TARDE DE NATAL

pelos brinquedos que exibem
as crianças mostram bem
a classe em que’stão
o zezinho acciona um comboio
o zé um pião

a criança não nasce burguesa
faz-se
à medida
a cada natal que passa
entre sorrisos
traição
e tradição
e os presentes que os pais
lhe dão

QUIMERA

buscou bosque
juntou lenha
fez fogueira
dançou fogo
veio o vento
varreu tudo
caiu chuva
caiu neve
sentiu frio
chorou lágrimas
de sal
oh Portugal
Portugal
André Moa
Apontamentos anticancro 19
«Ao atacar os seus vasos sanguíneos, em vez de orientar directamente o ataque para as células cancerosas, deveríamos conseguir “secar” o tumor e talvez até fazê-lo regredir. Uma intervenção (alimentar ou outra) que interfira com a formação de novos vasos sanguíneos pode evitar o desenvolvimento de tumores, mantendo-os em estado latente. Em algumas circunstâncias, pode até fazê-los regredir».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

segunda-feira, 21 de junho de 2010

CRÓNICAS ALPINAS




"FIM DOS TEMPOS..."

O Planeta dos Humanos chega ao fim do seu tempo de validade. E como foi o homem que inventou datas limites de validade para tudo, esqueceu que o seu próprio tempo também teria um limite de existência e esta já expirou há muito, porque hoje não vive. Sobrevive.
De tanto puxar pela sabedoria, acabou burro. De tanto montar a cavalo, acabou besta e de tanto ser besta, morreu aos coices. Antes fosse ferrador que inventor, porque no fim nada inventou, tudo copiou, porque na vida nada se cria, tudo se copia.
Se em tempos o povo proclamava os monarcas com gritos de "Rei morto, Rei posto", hoje poderemos proclamar os novos monarcas com a expressão: Acabou o Planeta dos Homens, viva o Planeta dos Macacos. Que por cá já são muitos.

Osvaldo


FIM-DE-SEMANA EM TABUAÇO

Levado pelo meu irmão António e acolhido principescamente pelo irmão Paixão Lima, com surpresas de primeira grandeza à nossa espera e tudo, passei um fim-de-semana inesquecível na minha terra natal. Em três dias, rejuvenesci trinta anos, no mínimo. Para a coisa ser completa, só faltou o irmão Osvaldo, tabuacense de gema como nós, os restantes membros do GT e todos os amigos que entretanto se foram associando em corpo e alma a este embrião de uma legião de amigos solidários e indefectíveis e que fazem parte integrante deste grupo associado através da blogosfera, nomeadamente deste blogue. Tão carentes de vós nos sentimos que já começámos a arquitectar um encontro alargado em Tabuaço, no próximo mês de Setembro. Aqui fica, desde já, a informação, certo de que todos iremos abraçar esta Boa Nova e contribuir afincadamente para a sua concretização, para a realização deste sonho para mim tão necessário ao meu equilíbrio físico e psíquico.
Bem-hajam todos.

NOTA
Comecei por cognominar a colaboração do irmão Osvaldo como CICLO OSTENSÃO. Passada a euforia incial, confesso que não me soa bem ao ouvido. Daí propor que o ciclo formado pelos textos do Osvaldo passem a chamar-se CRÓNICAS ALPINAS. Se alguém, a começar pelo Osvaldo, não concordar e pretender sugerir outra designação que o faça livremente. Estamos sempre em busca da perfeição absoluta, apesar de sabermos de antemão que é inalcançável.
André Moa

Apontamentos anticancro 18
«As células cancerosas (tal como um exército em progressão que depende da manutenção prestada pela retaguarda) também precisam de abastecimento de nutrientes e de recolha de excreções. Como tal, para sobreviverem, os tumores têm de estar profundamente impregnados de vasos capilares. Como os tumores se desenvolvem muito rapidamente, é necessária a formação rápida de novos vasos sanguíneos. A este processo dá-se o nome de angiogénese Normalmente os vasos sanguíneos são estruturas estáveis. As células que compõem as suas paredes não se multiplicam nem criam novos capilares, excepto em circunstâncias específicas, em caso de necessidade de reparar lesões ou a seguir à menstruação. Este processo de angiogénese “normal” é auto-limitativo e fortemente controlado, para evitar a criação de vasos frágeis que sangrariam muito facilmente. Para crescerem, as células cancerosas apoderam-se da capacidade que o organismo possui de criar novos vasos. Um bom método para combater o crescimento da célula cancerosa consiste em evitar que esta se apodere dos vasos sanguíneos»
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

CICLO EMOÇÃO










GOLPE DE ASA

A minha sobrevivência
Na minoria esclarecida
É uma condenação;
E o ser poeta
Em permanência
Uma purulenta secreção!
Mas sê-lo-ei
" Ad Infinitum"
Por exigência íntima
Que logo é fatalidade...
E se tudo suportei
Sem perder a rima,
Conservo a auto-estima
E vou com as musas para a Eternidade!
Dia a dia,
A ironia sarcástica
É, em mim, mais refinada;
E aquela minha agonia
(Que não era gástrica)
Está, hoje, acabada;
De cabeça erguida,
De coração aberto,
Enfrento a multidão;
Já deixei a guarida,
Já estou liberto
Não sinto a humilhação!
Para a terapia final,
Para a indiferença total
Aos que riram sem fim,
Pudesse, num golpe de asa genial,
Escrever o poema imortal
Que fizesse a morte redimir-se em mim!

Ernesto Leandro


Apontamentos anticancro 17
«Uma das causas para a superprodução repentina de substâncias inflamatórias, raramente mencionada quando se fala de cancro, é o stresse psicológico. Um choue emocional, um sentimento de pânico ou de raiva pode desencadear a secreção de noradrenalina e o cortisol. Estas hormonas preparam o organismo para uma potencial lesão, estimulando os factores de inflamação necessários na reparação dos tecidos Paralelamente, estas hormonas também actuam com fertilizantes dos tumores cancerosos, latentes ou já activos. A descoberta do papel crucial que a inflamação desempenha na progressão do cancro é relativamente recente. O interesse científico ainda está numa fase de arranque. Esta é uma das razões pela qual os passos que poderíamos dar para controlar a inflamação raramente são mencionados nos conselhos que recebemos sobre a prevenção e tratamento do cancro. Para além disso, os medicamentos anti-inflamatórios existentes têm demasiados efeitos secundários para serem considerados uma boa solução. No entanto, através de métodos naturais ao alcance de qualquer pessoa, podemos agir para reduzir a inflamação. Trata-se simplesmente de eliminar as toxinas pró-inflamatórias do nosso ambiente, adoptar uma alimentação anti-cancro, procurar o equilíbrio emocional e satisfazer a necessidade que o nosso corpo tem de actividade física. É pouco provável que os nossos médicos sugiram estes métodos Portanto só nos resta sermos nós a adoptá-los».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

segunda-feira, 14 de junho de 2010

CICLO PAIXÃO














A VISÃO DO VISIONÁRIO

Sou um cavaleiro sem cavalo
Que monta o sonho e a miragem.
Percorro o mundo na procura
Da visão que ninguém vê.
Onde está a sombra adivinhada,
Onde encontrar a fantasia que anseio,
O sorriso no rosto sempre belo
Da mulher imaginada,
Em minhas noites doridas de solidão?!
Onde está aquela por quem sofro,
E que adormece a meu lado
Nas noites de luar,
E nas noites escuras de tormenta?!
Sei que está à minha espera
E que quer tocar-me, num amor
Pressentido mais do que sentido
Como golpe de vento violento
E como tempestade de areia no deserto.
Vem correr ao meu encontro!
Os meus braços estão à tua espera
E meus passos serão teu caminhar,
Num desejo comum de reunião.
Vem minha visão descobrir
O que ambos podemos construir!
Vem tornar visível a noite mais escura
Como se fora dia luminoso.
Vem enfrentar a procela que assola a humanidade;
Combater a indiferença
Dos que não sentem nem querem,
E enfrentar os que odeiam e desprezam;
Dar alguma alegria aos tristes
E sorte aos desafortunados
E oferecer algum amor aos que não amam.
E assim... juntos… daremos algum sentido
Às lágrimas deste mundo.

Paixão lima

domingo, 13 de junho de 2010

CRÓNICAS NO FEMININO












APITA O COMBOIO
Era muito pequena - oito anos franzinos, mas um ouvido bem treinado e atento aos barulhos que durante o dia rasgavam os céus da sanzala. Aquele tu ... tu... tu.u.u.u.. prolongado - um silvo inconfundível ao cair da tarde - anunciava a chegada do comboio da cana à margem norte do rio Cavaco. A partir dali a marcha abrandava porque o rio demarcava a linha de entrada no coração da cidade.
O eco do último "tu..." era o tiro de partida para a correria que, em período de férias, nos levaria (a mim e ao meu irmão) até junto da linha férrea. Primeiro, o fumo a romper por entre as acácias coloridas; depois, o corpo inteiro da lagarta, a estremecer os espaços onde se apoiavam os ganchos que separavam os vagões carregados de troncos de cana de açúcar.
Víamo-los negros, muito escuros, queimados. Nunca fiz perguntas. Acho que naquela época, entretida a viver a minha curta infância, não precisava de respostas. Não me interessava saber a razão por que faziam queimadas nas plantações da cana. Bastava-me aquele cheiro forte do açúcar em fermentação de cada vez que nos aproximávamos da Catumbela.
Na minha imaginação, a Catumbela fora sempre uma vila doce. De cada vez que ouvia a história dos irmãos Hansen e Gretel, não me assustava com a bruxa. Não ficava presa ao pormenor das migalhas de pão que eles deixavam cair no chão para assinalar a passagem pela floresta. Tudo no conto me passava ao lado, porque eu viajava directamente para a casinha de chocolate. E, para lá chegar, deixava-me guiar pela excitação das minhas marinas, exercitadas naquele cheiro adocicado a céu aberto. Fantasiava que a casinha teria que estar algures por aqueles lados. Só podia ser na Catumbela - um sítio mágico, onde das árvores pendiam folhas caramelizadas, das plantas floriam rebuçados coloridos e o rio, ali tão perto, se deixava arrastar num caudal de leite creme espelhado de açúcar queimado e crocante.
E tudo isto por causa da Cassequel, fábrica onde a cana era transformada em açúcar e depois transportado em grandes sacas de pano onde figuravam as letras da Companhia. O tecido das sacas era depois aproveitado para aventais e panos de cozinha. Na nossa casa, a palavra reciclagem começou a ser praticada muito antes de ser inventada, por mor de práticas que nos ensinavam a nada desperdiçar.
E nós corríamos para o comboio, de paus na mão, suficientemente compridos para encurtarem a distância que ia dos nossos curtos braços até aos vagões. E ficávamos ali postados a vê-lo deslizar sobre os carris, estudando a oportunidade de surripiar algum pedaço de cana que estivesse a espreitar para o lado do musseque. Claro que o meu irmão - nos seus tenros quatro anos - pouco mais fazia do que imitar-me. Dava pequenos saltos e investia com o pau, como quem espicaça um animal na ânsia de o ver aproximar-se.
Ainda hoje me interrogo como é que eu conseguia, mas recordo nitidamente que regressávamos a casa a chupar um pedaço de cana retirado do comboio. Podíamos obtê-la de outra maneira, mas não teria o mesmo significado nem o mesmo sabor - o gosto da vitória sobre uma aventura proibida, mas bem sucedida.Os meus pais nunca souberam o que nos fazia correr, assim que o comboio apitava do outro lado do rio. Talvez pensassem que nos movia uma mera curiosidade e nos quedássemos silenciosos a vê-lo passar.
Quando, muitos anos mais tarde, pisei o palco do Cinema Monumental para, integrada num grupo de jograis, dizer o "Trem de Alagoas" do brasileiro Ascenso Ferreira, não senti debaixo dos pés a madeira encerada do sobrado. Assim que uma colega começou: "O sino bate/ o condutor apita o apito/ solta o trem de ferro um grito,/ põe-se logo a caminhar...", eu estremeci por cima de dois carris do caminho de ferro de Benguela, deixei que a trepidação da linha se apoderasse do meu corpo e ganhei a velocidade do tempo.
Numa viagem de regresso ao passado, continuei pelas entranhas do poema, até me inebriar com o cheiro das estrofes "Cana-caiana/ cana-roxa/ cana-fita/cada qual a mais bonita/ todas boas de chupar..." e deixar o açúcar derreter-se na língua de areia onde estão gravadas as pegadas da minha infância.
Aida Baptista

Apontamentos anticancro 16
Todos os organismos vivos são naturalmente capazes de reparar os seus tecidos após uma lesão. Estes mecanismos são absolutamente essenciais à integridade do organismo. O nosso corpo submete-se sempre a este processo de reconstrução quando é agredido, o que é inevitável. Quando se encontram bem regulados e adaptados às outras funções das células, estes processos são perfeitamente harmoniosos e auto-limitativos. Isso significa que, uma vez executadas as substituições essenciais, o crescimento de novos tecidos pára. As células imunitárias activadas para lidar com os intrusos, regressam ao seu estado de vigilância, ou seja, ficam de plantão. Trata-se de um passo fundamental para evitar que as células imunitárias continuem o seu trabalho e ataquem tecido saudável. Recentemente, descobrimos que o cancro, tal como um cavalo de Tróia, explora este processo de reparação para invadir o organismo e levá-lo à destruição. São estas as duas faces da inflamação: se, por um lado, o seu objectivo é sarar ajudando a criar novo tecido, também pode desviar-se deste e favorecer o crescimento canceroso. Tal como as células imunitárias se preparam para reparar lesões, as células cancerosas precisam de produzir inflamação para sustentar o seu crescimento. Para isso dão início a uma produção abundante das mesmas substâncias altamente inflamatórias que são utilizadas na reparação natural das lesões. Actuam como fertilizantes químicos que favorecem a reprodução celular. Os tumores em crescimento utilizam estas substâncias para os ajudar a desenvolver-se e para tornar as barreiras circundantes mais permeáveis. O mesmo processo que permite ao sistema imunitário reparar lesões e perseguir inimigos onde quer que estejam é desviado em benefício das células cancerosas. Estas exploram-no para se alastrarem e se reproduzirem. Graças à inflamação que criam, infiltram-se em tecidos vizinhos, penetram na corrente sanguínea, migram e estabelecem colónias remotas denominadas metástases».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

CICLO REFLEXÃO



SOIS REI!

SOIS REI! SOIS REI! POIS SOU...DA CAPOEIRA.
Eu era um galo lutador. Na capoeira, era o Rei das Pitas, pois derrotava a concorrência facilmente. Era feliz e entretinha-me a fazer pintainhos, muitos pintainhos.
Até que, num certo dia, nem quero lembrar-me do susto que apanhei. A Patroa entra-me no galinheiro com um grande cutelo numa mão e, com a outra, agarra-me violentamente pelo pescoço que, por sinal, era careca. Só sei que acordei, gritando histericamente na noite, a saltar da cama em sobressalto, agarrado ao pescoço, onde uma dor violenta se esbatia lentamente. A minha mulher, atarantada, pergunta-me, inquieta:
- É um A.V.C?
- Não! Respondo eu. - É o cutelo
Paixão lima

Se Freud lesse este texto
Que diria? Pois, não sei.
Teria um bom pretexto
Para analisar este rei.

Concorrente desleal,
Não usava o coração
P’ra seduzir o pital:
Esgrimia o esporão.

Por isso, dormiu tão mal,
Vítima de um pesadelo.
E bem forte, por sinal:
Sentiu na gorja um cutelo.

Sofreu dores, gritou alto…
Sem saber bem o porquê,
A mulher, em sobressalto,
Pergunta: é um A.V.C?

E o galo garanhão,
O tal rei de capoeira,
Só mereceu compaixão
Da aflita companheira.

Mas que galo lutador!
Que noite tão esquisita!
Só no sonho mostra amor;
E por quem? Por uma pita.

Pesadelo interpretado pelo discípulo mais rasca que Freud ao mundo deitou:
André Moa

Apontamentos anticancro 15
«Estudos sobre a actividade das células imunitárias (incluindo as células NK) demonstram que estas estão no seu ponto alto quando seguimos uma alimentação saudável, o nosso ambiente é «limpo» e a nossa actividade física envolve todo o corpo (não apenas o cérebro e as mãos). As nossas células imunitárias também são sensíveis às nossas emoções. Reagem positivamente a estados emocionais em que predominam a alegria e os sentimentos de união com aqueles que nos rodeiam. É como se as nossas células imunitárias se mobilizassem muito melhor quando estão ao serviço de uma vida que vale realmente a pena ser vivida.
O que inibe e o que activa as células imunitárias:
INIBE – dieta ocidental tradicional (pró-inflamatória); Stresse, raiva, depressão; isolamento social; negação da sua identidade (por exemplo, a sua homossexualidade); estilo de vida sedentário.
ACTIVA – dieta mediterrânica, cozinha indiana, cozinha asiática (anti-inflamatória); serenidade, alegria; apoio da família e amigos; aceitação de si próprio com os seus próprios valores e passado; actividade física regular.»
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

quarta-feira, 9 de junho de 2010

O QUINTETO ERA DOURO - 1


Caros visitantes, caríssimos comentadores:

Como “ameacei” e avisei há dias (quem avisa, amigo é) começa aqui e agora a editar-se, aos bochechos (se fôssemos presidente de um supremo tribunal qualquer, diríamos, por certo, às bochechas), a obra colectiva O QUINTETO ERA DOURO que, nascida do impulso criador do Ernesto Leandro, foi agregando um e outro e outro e outra, até atingir o dourado número de cinco. Mas como vem tudo muito bem explicadinho nas várias e variadas entradas (intróitos) do repasto, cá vai o primeiro bochecho (bochecha no nosso pátrio Douro significa outra coisa bem diferente), sem mais aquelas.

-ERNESTO LEANDRO
- ANDRÉ MOA
- OSVALDO B. RIBEIRO
-PAIXÃO LIMA
- AIDA BAPTISTA


O QUINTETO ERA DOURO

REFLEXÕES E REFLEXOS

DE

CINCO DURIENSES DE TABUAÇO

SOBRE

TUDO E NADA


À GUISA DE INTRÓITO

Começo por cumprimentar os meus quatro ilustres conterrâneos, cúmplices desta obra. Mais ainda pela generosidade demonstrada na aceitação de reflectirem sobre as minhas reflexões. Escrevi-as porque me deu prazer, nunca pensando que pudessem vir a ser a génese deste " O QUINTETO ERA DOURO ".
Como toda a minha obra literária - à excepção do primeiro livro," POESIA - PROSA POÉTICA - do sonho, do amor, da solidariedade " e "TABUAÇO DOUR(O)ADO " escrito em parceria com o meu querido amigo e irmão, André Moa, estas 202 reflexões iriam hibernar na gaveta.

O mérito e as mais-valias estão nos meus quatro companheiros. São, pois, merecedores desta obra asseada, dádiva a Tabuaço, às suas gentes e à deslumbrante região do nosso Douro vinhateiro. " Que venha cedo e bem ".
Que linda recompensa para todos nós se os leitores vindouros puderem dizer: eram DOURO, de facto.
Ernesto Leandro


Apontamentos anticancro 14

«Os recursos do organismo e o seu potencial para lidar com a doença ainda são frequentemente subestimados pela ciência moderna. Obviamente, no caso do Super Rato, a sua resistência extraordinária está relacionada com os seus genes. Mas o que acontece a todos aqueles, como talvez seja o nosso caso, que não possuem estes genes excepcionais? Até que ponto podemos contar com um sistema imunitário «comum» para executar tarefas extraordinárias?
A resposta a esta pergunta está no espírito combativo das nossas células imunitárias, intervenientes cruciais na nossa prontidão para derrotar o cancro. Podemos fortalecer a sua vitalidade ou, pelo menos, não as enfraquecer. Cada um de nós pode estimular os seus glóbulos brancos de modo a que dêem o máximo quando confrontados com o cancro. Vários estudos demonstraram que, tal como os soldados, as células imunitárias humanas são muito mais eficazes quando: 1) são tratadas com respeito (são bem alimentadas e protegidas de toxinas); 2) o seu comandante mantém a cabeça fria (sabe lidar com as emoções e age com bom senso).»
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

UMA VIDA EM VERSOS COM REVERSOS














Fumavas? Pois sofre agora!
AOS SETENTA só SESSENTA DE POESIA

ANTOLOGIA DE UM DESCONHECIDO

Edição 1973

(continuação)

DO SENTIMENTO À RAZÃO

do sentimento à razão
caminho
e
labirinto

LUA FUGA

lua
não mais
branca
não mais
pura
não mais
lua
não mais
mel
lua fuga
lua engodo
lua dos poetas
e dos corvos
lua lua
com saudades
lua
adeus


CARNAVAL CANALHA


centelha incendiada
a figurar
o tudo
o nada
máscara colada
a face envergonhada
carnaval canalha
dignidade na face
por dentro palha





AMOR AOS QUADRADINHOS

I

Trepou à macieira
Quebrou um ramo
Caiu
Do ramo partido
Fez escada
Subiu
Colheu duas maçãs
Uma podre
Outra sã
A primeira
Roída pelo bicho
A segunda recheada
De ouro incenso e mirra
Lançou a bichada fora
Assobiou
Lavou a boa
Cheirou-a
Aproximou a boca
Beijou-a
Embrulhou-a
Fez um laço
Cor-de-rosa
Correu
Ofereceu-lha
Cantou
Ela não aceitou
Morreu

II

Bateu à porta
Ninguém ouviu
Ninguém abriu
Entrou
Disparou
Soprou no cano
Saiu
O sol dardejava
Brilhava de mais
Canta
Rolou
Correu para a sarjeta
Vomitou
Atravessou
Ruas
Praças e pracetas
Parou
Ajudou um cego
A atravessar
Na passadeira
Cuspiu
Sentou-se
Num banco do Éden
O jardim dos jardins
Desfolhou malmequeres
Saiu-lhe bem-me-quer
Sorriu
Colheu uma rosa
Enforcou-se
No perfume dos espinhos

III

Levantou-se
Fechou a porta
Por dentro
Abriu o coração
Por fora
Limpou o sangue
Do retrato
Fechou o coração
Por dentro
Compôs o quarto
Abriu a janela
Saiu
Fechou a porta
Por fora
Subiu a alameda
Pelo centro
Brincou ao arco
Cantou
Anoiteceu
Procurou
Nada viu
Nada encontrou
Chorou.
O amor
Tinha
Acabado.
Triste
Fado

Apontamentos anticancro 13

«Direitos dos animais - Este livro e, em particular este capítulo, faz referências a vários estudos realizados em ratos de laboratório. Gosto muito de animais e não me agrada o sofrimento a que são sujeitos no decorrer destas experiências. Mas, até à data, nem os grupos defensores dos direitos dos animais nem os cientistas envolvidos encontraram alternativas satisfatórias para estas experiências. Como poderão verificar, é graças a estes animais que um extraordinário número de crianças, homens e mulheres poderão, um dia, ser tratados de maneira mais eficaz e humana. Muitos animais virão igualmente a ser beneficiados pois, tal como nós, também é frequente sofrerem de cancro».
«Graças aos ratos do Professor Zheng Cui, os cientistas conseguiram demonstrar que os seus glóbulos brancos podiam eliminar até 2 mil milhões de células cancerosas em poucas semanas. Passadas apenas 6 horas de terem sido injectadas células cancerosas, o abdómen destes ratos especiais é invadido por 160 milhões de glóbulos brancos. Face a este violento ataque, 20 milhões de células cancerosas desapareceram em meio dia! Antes destas experiências com o Super Rato e os seus descendentes, nunca ninguém se atrevera a imaginar que o sistema imunitário fosse capaz de se mobilizar com tal eficácia».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

sábado, 5 de junho de 2010

CICLO OSTENSÃO




APOCALIPSE
Até quando terá o meu Povo, o nosso sofrido Povo, que suportar este Céu escaldante e tenebroso de incertezas dolorosas que lhes oprime a alma? Onde está esta Alma Lusitana, outrora tão cantada por Camões e hoje escorraçada por políticos aldrabões?

Até quando terá o Povo lusitano que esperar que as nuvens se apaziguem, que o Céu tenha abertas e que consiga abrir as mentes escuras, turras e obscuras dos nossos dirigentes políticos e lhes mostre o rumo que leve a libertar este Povo escravo de correntes apertadas e cortantes que lhe sufocam o grito preso na garganta, e que apenas aspira liberdade?

Quando será que o nosso Sol, esse Sol tão nosso, deixará de ser apenas Poente e o teremos enfim como Sol Nascente com aquele brilho que lavava a Alma viva e ardente de nossos egrégios avós e que de novo hão-de levar à vitória este Nobre Povo nascido das entranhas de uma Valente Nação?
Osvaldo

Nota do “editor” – O Post de ontem, com o belo poema do Ernesto - VAZIO -, foi o post n.º 100 deste blogue. Por mera coincidência, mas que é de realçar, esta nova centena abre com este texto do nosso irmão Osvaldo, sobejamente conhecido e admirado por todos os frequentadores deste, do seu e de muitos outros blogues, e que a partir de agora nos dá o prazer de colaborar com regularidade no Diário de um Paciente. Abre-se, assim, um novo ciclo – O CICLO OSTENSÃO – assim chamado não só por o substantivo ostensão ostentar a primeira sílaba de Osvaldo, mas por significar “acção de mostrar, de expor”. Ora, mostrar e expôr é praticamente a acção quotidiana do Osvaldo há muitos e bons anos, pois que constitui uma parte substancial da sua actividade profissional, em Genebra, e a forma habitual dele intervir na blogosfera e outros areópagos.
Com a inclusão do Osvaldo neste blogue, concretiza-se um propósito que há muito me andava a bailar no espírito: juntar aqui o «QUINTETO ERA DOURO» formado por cinco tabuacenses devotados às letras e que acabam de escrever uma pequena, despretensiosa, mas interessante obra colectiva a qual, dentro em breve, começará a ser vertida neste blogue, cada vez mais colectivo e mais nosso, aos bochechos, que é para não embriagar e não deixar ninguém com a cabeça à roda.
Bem-vindo, irmão Osvaldo, a esta nossa casa.
André Moa

Apontamentos anticancro 12

«Quando atacado pelo cancro, todo o organismo entra em guerra. As células cancerosas actuam como autênticos bandidos armados, vagueando à margem da lei. Ignoram todas as regras respeitadas por um organismo saudável. Devido aos seus genes anormais, escapam aos mecanismos de controlo dos tecidos saudáveis. Por exemplo, perdem a obrigação de morrer ao fim de um determinado número de divisões. Tornam-se «imortais». Ignoram as mensagens dos tecidos circundantes que – alarmados pela invasão – lhes dizem para pararem de se multiplicar. Para piorar a situação, envenenam esses tecidos com as substâncias que segregam. Assim, criam uma inflamação local que estimula ainda mais o crescimento canceroso, invadindo os territórios adjacentes. Por fim, tal como um exército em busca de provisões, apropriam-se dos seus vasos sanguíneos. Obrigam-nos a proliferar a fim de fornecerem o oxigénio e os nutrientes necessários ao crescimento daquilo que, em breve, se tornará um tumor.
Existem algumas circunstâncias que travam esta horda de selvagens e a fazem perder a sua virulência: 1) quando o sistema imunitário se mobiliza para lhes fazer frente; 2) quando o organismo se recusa a criar a inflamação sem a qual não conseguem desenvolver-se nem invadir outros territórios: ou 3) quando os vasos sanguíneos se recusam a reproduzir-se e a fornecer os nutrientes de que necessitam para crescer. São estes os mecanismos que podem ser reforçados para evitar que a doença assuma o comando. Depois de o tumor se instalar, nenhuma destas defesas naturais pode substituir a quimioterapia – ou a radioterapia. No entanto, podem ser utilizadas, em simultâneo com os tratamentos convencionais, para mobilizar as resistências do organismo ao cancro.»
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

CICLO EMOÇÃO


VAZIO!

Das fragas escarpadas
Do meu ser
Estatelaram-se memórias
Dum viver
Sem remédio,
Que a morte e o tédio
Só hão-de vir
Quando se gastar
Toda a paciência
Na demência
De mim, que nunca fui!
Que só era
Quando concebido
E não nascido;
Depois, condenado e perdido
Por imposição alheia.
E o primeiro choro
Que ouviram de mim
Foi prenúncio de morte,
Premonição de má sorte...
Quando a todos disse que sim,
Eu sabia e queria um não
Rotundo de exclusão.
E numa demonstração de humanidade,
Porque não entenderam o silêncio,
Porque não compreenderam a renúncia,
Em vez de me darem o punhal,
Sorriram-me o perdão, por caridade...

E, agora, quando me tentam encontrar,
Só vêem o vazio em meu lugar!

Ernesto Leandro

Apontamentos anticancro 11

Todos nós precisamos de nos sentir úteis ao próximo. É um alimento indispensável à alma. Esta necessidade, quando não satisfeita, provoca mágoa, e uma mágoa ainda mais profunda se a morte estiver próxima. Grande parte daquilo a que chamamos medo da morte provém do receio de que a nossa vida não tenha tido qualquer sentido, que tenhamos vivido em vão, que a nossa existência não tenha sido importante para nada nem para ninguém.
Nunca esqueci a lição que aprendi: no limiar da morte, ainda podemos conseguir salvar a vida.
Há catorze anos que celebro o «aniversário» do diagnóstico do meu cancro. Não me lembro da data exacta da ressonância magnética. Sei apenas que foi por volta do dia 15 de Outubro. Portanto, o período entre 15 e 20 é uma época especial para mim, um pouco como Yom Kippur, a Semana Santa ou o jejum do Ramadão. É um ritual pessoal. Arranjo tempo para estar sozinho. Por vezes faço uma espécie de «peregrinação» a uma igreja, uma sinagoga ou a um local sagrado. Medito sobre o que me aconteceu, a dor, o medo, a crise. Dou graças, pois transformei-me, pois sou um homem muito mais feliz desde o meu segundo nascimento»
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.

Nota – É natural que a transcrição que aqui faço do livro sejam as que mais me tocaram, as que, em meu critério, mais possam tocar e assim ajudar alguém que aqui as leia. Por outro lado, dou por mim a verificar que tais transcrições correspondem às passagens do livro onde me revejo espelhado, correspondendo muitas delas quase em cem por cento á minha própria experiência de paciente portador há quatro anos de um cancro que me foi diagnosticado no dia 5 de Maio de 2006. André Moa

terça-feira, 1 de junho de 2010

CICLO PAIXÃO








BELO EU, BELA A PAISAGEM


O sol ardente castiga o pecador.
Sinto-me castigado.
Para aliviar os pés
Que o calor maltrata,
Descalço-me e entro na água
De calças arregaçadas.
A corrente murmura inquieta,
Desconsolada,
Por se sentir obrigada a correr
Sem o querer.
A água beija ternamente
Os meus pés nus.
Miríades de peixes infantis,
De poucos centímetros,
Formam nuvem
À volta das minhas pernas.
Dão-me turrinhas acariciantes
Como beijos de amor.
Ao movimentar-me,
A nuvem de coisinhas vivas
Persegue-me.
E teima em enlaçar as minhas pernas
Como se de um abraço se tratasse.
Vejo-me no meio do rio a observar
Uma pequena cobra d'água, que pára
A centímetros das minhas pernas.
Parece reflectir: peixe ou perna?
De repente, decide-se.
Nem uma coisa nem outra.
Afasta-se lentamente
Sem deixar de observar-me.
Estou subitamente aliviado.
A cólera reprimida
Que me acompanha sempre,
Abandona-me neste momento
E sinto-me pacificado e menos pecador.
A dor que carrego em meus ombros
É mais leve e menos torturante.
Imóvel no meio do rio,
Para não perturbar os meus companheiros de folguedos,
Assemelho-me a uma rocha,
Ali colocada há décadas.
Tudo à minha volta é harmonioso, simples e compreensível.
Sinto que faço parte do ambiente e da paisagem.
E como a paisagem é bela, também me sinto belo.
A minha mão submersa é sala de estar dos pequenos amiguinhos
Que passeiam, confiantes,
Por entre os meus dedos imóveis.
Sinto-me mais acompanhado.
A Mãe Natureza acolhe-me em seus braços
Que ternamente me envolvem com amor.
E dentro do possível a um ser humano
Sinto-me feliz e abençoado.
Por quem? Não sei.
Paixão Lima

Apontamentos anticancro 11
«No seu livro sobre o poder transformador da morte iminente, Irvin Yalom, um prestigiado psiquiatra da Universidade de Standford, cita uma carta escrita por um senador nos anos 60, pouco depois de este saber que sofria de um cancro gravíssimo: “Deu-se uma mudança em mim, que creio que seja irreversível. O prestígio, o sucesso político e o estatuto financeiro perderam instantaneamente a sua importância. Em vez disso, passei a apreciar melhor certas coisas, tais como almoçar com um amigo, a companhia da minha mulher, ler um livro ou uma revista… Pela primeira vez, acho que estou, de facto, a saborear a vida. Apercebo-me, finalmente, de que não sou imortal. Estremeço ao lembrar-me de todas as oportunidades que perdi – mesmo quando estava de boa saúde – por questões de falso orgulho, valores artificiais e supostas afrontas”.
Assim, a proximidade da morte pode, por vezes, levar a uma espécie de libertação. Na sua sombra, a vida assume repentinamente uma intensidade, uma sonoridade e um sabor que talvez nunca lhe tivéssemos conhecido. É claro que, chegado o momento, sentimos o desespero de partir, como se nos despedíssemos de uma pessoa sabendo que não voltaremos a vê-la. Quase todos nós receamos esta tristeza. Mas, no final, não será pior partir sem ter desfrutado de todo o sabor da vida? Não será muito pior não ter motivos para estar triste no momento da partida?»
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.
 
Que cantan los poetas andaluces de ahora...