Afinal...parece que vou poder continuar a postar!...

“As vergonhas da ignorância são as que mais custam a confessar”, escreveu um dia Saramago nas páginas de uma das suas obras. Hoje sou eu quem de uma página se serve para confessar uma das minhas. Refiro-me às ignorâncias e não às vergonhas, porque sou das que ainda acredita no adagiário popular, que há muito consagrou que “Quem diz a verdade não merece castigo”. E se não merece castigo é porque das duas, uma: ou dela não se tem que envergonhar ou é já castigo suficiente ter vivido na ignorância.
Vivemos também de convicções e com convicções. As primeiras são todas as que fazem parte de um quadro de valores, em que precisamos de acreditar, e que servem de caboucos à construção diária das paredes das nossas vidas. As segundas são as que in-teriorizamos como certezas, mas que de um momento para o outro podem deixar de o ser. No entanto, enquanto duram, elas são de tal maneira seguras, que nunca nos questionamos sobre a sua validade.

Desde que me conheço que me habituei a receber, nas terras quentes da África onde morava, cartões de Boas-Festas que os parentes residentes na metrópole nos enviavam pelo Natal. Podíamos nada saber deles o ano inteiro mas, naquela altura, era um ritual sagrado: entrava-nos pela caixa do correio dentro a formulação de votos de Festas Felizes e um Ano Novo repleto de prosperidades. O adjectivo «repleto» era muito mais pomposo do que «cheio» e ajustava-se melhor à solenidade da quadra. Mas o meu olhar inocente de criança não se preocupava com a hierarquia das palavras. Preferia pousar naquela brancura da neve e deslizar pelas colinas à procura das copas triangulares dos pinheiros, debaixo dos quais se anichavam casinhas vermelhas, com janelas douradas pela luz que emanava do interior, e chaminés a fumegar odores de consoadas em família.

As casinhas eram sempre vermelhas, invariavelmente vermelhas, mas eu nunca perguntei por que razão eram elas sempre daquela cor. No meu processo natural de aquisição cognitiva, interiorizara que o vermelho era a cor que melhor se destacava no branco. E pensava que se as casas fossem brancas ou cinzentas, não haveria maneira de as distinguir por entre os infindáveis mantos brancos de neve.
E foi assim que adquiri mais uma das minhas certezas para a vida inteira: são vermelhas para se poderem ver melhor, ponto final! Uma resposta muito na tradição do universo infantil da história do Capuchinho Vermelho – para te ouvir melhor, para te ver melhor, até terminar no cruel desfecho... para te comer melhor!
Como a dúvida só existe quando a incerteza se instala, eu vivi todos estes anos sem necessidade de acrescentar perguntas a tantas outras que o viver diário permanentemente nos coloca. Até que um dia – e foi há bem pouco tempo – alguém se encarregou de me provocar uma enorme decepção, ao fazer desmoronar uma sólida peça deste meu edifício de certezas. Aconteceu a semana passada, em pleno coração da paisagem norueguesa talhada na exube¬rante natureza dos fiordes. Em Flam – por ironia pronunciado como nome de pudim – ouvi a explicação dada por um guia turístico, que me deu a conhecer o gosto amargo da desilusão e o estrondo repentino de uma verdade que acabara de desabar no estreito desfiladeiro da uma sólida mentira que eu construíra só para mim. Uma só frase, dita sem qualquer cuidado especial, sem uma ponta de erudição e reduzida à sua mera função informativa, fez mergulhar no leito escavado do glaciar a visão romântica das casinhas pintadas de vermelho.
- Sabem por que é que as casas de madeira são desta cor? - perguntou-nos.
Ninguém ousou dizer fosse o que fosse. Perante o silêncio tímido de uma plateia que não queria avançar com respostas, continuou:
- Porque na época em que foram construídas, a tinta mais barata era precisamente a tinta vermelha. Hoje em dia é mais utilizada nas dependências - estábulos, celeiros, garagens, arrecadações -, destinando-se o branco à casa de família.
Naquele momento, quase me arrependi de ter planeado a viagem. Se a não tivesse feito, continuaria a pintar as minhas casas vermelhas com a cor poética do contraste, em vez de as cobrir com uma demão da mais desenxabida teoria económica baseada na poupança.
Fica agora compreendida a razão porque em pleno Verão eu venho invocar esquecidas paisagens de Inverno. É que este golpe só teve comparação com o que me foi desferido quando me contaram que o Pai Natal não existia. Durante muito tempo, recusei-me a viver sem ele e tentei prolongar-lhe a longevidade junto de todas as crianças da família, até que o ridículo as fizesse corar de vergonha.
Porque é minha convicção que mais vale morrer de vergonha do que começar cedo de mais a viver sem as fantasias que nos alimentam a imaginação.
Aida Baptista
Apontamentos anticancro 34
«O desequilíbrio entre os ácidos gordos ómega 3 e ómega 6 na nossa alimentação aumenta as inflamações, a coagulação e o desenvolvimento de células adiposas e cancerosas.
Os ovos – sinónimo de alimentação natural – já não contêm os mesmos ácidos gordos essenciais que continham há 50 anos.
Em todos os países há, claramente, uma relação directa entre a taxa de cancro e o consumo de carne e lacticínios. Pelo contrário, quanto mais isso for o tipo de alimentação de um país em legumes e leguminosas, mais baixa é a taxa de cancro».
Do livro «Anticancro – um novo estilo de vida» de David Servan-Schreiber.