Esta «historinha» é dedicada à Dad.
- Mas porquê a ela?! - Interroga a Laurinha. Porque a Dad, além de ser a Samantha dos computadores e prestar assistência técnica gratuita ao grupo, é muito dada à defesa de causas nobres que muitos esquecem e poucos lembram. Ela não esquece e lembra, lembra sempre.
Paixão Lima
O «FIEL» DE FLORENÇA.
O cão é um animal nobre. Vou contar-vos a história do «Fiel», o cão cuja estátua em memória ainda hoje perdura (pelo menos assim o julgo), na estação ferroviária de Florença.
O «Fiel» acompanhou o dono ao comboio, quando este partiu para a guerra. Todos os dias, o «Fiel» ia à estação, à mesma hora, na esperança de ver regressar o dono. O dono não regressou, porque morreu na guerra. Mas nem por isso o «Fiel» deixou de ir esperá-lo, à mesma hora, todos os dias da sua vida. Até que um dia, o «Fiel» morreu de velho, mas no seu posto, a aguardar o dono.
Como vêem, os cães têm memória e uma capacidade infinita para amar. Para amar até aqueles que não os amam e os maltratam.
Houve uma personagem importante que afirmou: - «Quanto mais conheço os homens, mais gosto dos animais». Eu sou uma personagem sem importância nenhuma, mas nem por isso deixo de afirmar, democraticamente, o seguinte: «Quanto mais conheço os homens, mais gosto das mulheres. Não! Não é só isso. Mais gosto dos cães.»
Paixão Lima
QUANTO MAIS CONHEÇO OS HOMENS MAIS GOSTO DOS HOMENS
Recebi este texto do Paixão Lima, sem indicação precisa se era para o ciclo reflexão, se para o ciclo paixão. Optei pelo ciclo reflexão por dois motivos que são três, quase quatro, senão mesmo cinco ou seis ou mais.
1.º Motivo – Motivo de peso, como facilmente se adivinha - Seguindo a rotatividade que vem de trás, hoje cabe avançar com o ciclo reflexão.
2.º Motivo – igualmente de peso – Este texto do Paixão é ternurento, logo, subjectivo, logo, controverso.
3.º Motivo – De peso insustentável - Li o texto e logo me apeteceu contestá-lo, meter o bedelho onde, porventura não sou chamado.
4.º Motivo – Este meu texto será tão subjectivo quanto o do Paixão Lima, por isso, susceptível de equilibrar a carga e não deixar cair a besta que vai ao colo – o cão.
5.º Motivo – o de maior peso, sem dúvida – A minha relação com a espécie canina sempre foi tensa, pouco amistosa, nada dada a salamaleques ou manifestações de tu cá, tu lá. Comigo é cão lá, Moa cá. Rua, que aqui não é sala de cães.
6.º Motivo (afinal são seis) – Este, não apenas porque será o último, mas porque, de facto, na minha subjectivíssima maneira de ver as coisas, é o mais importante. Também o menos, política e caninamente, correcto, reconheço. Mas que querem, hoje deu-me para aqui, para ser eu o mau da fita…
Sempre me arranhou os neurónios, as aurículas e os ventrículos, quer os da esquerda, quer os da direita, as orelhas e a psique, aquela famigerada e, a meus olhos, triste e repugnante frase que tanto enaltece os cães e rebaixa os homens e reza assim: «quanto mais conheço os homens, mais gosto dos cães». Repudio este conceito com todas as veras da alma. Porquê? Só os cães e os animais abaixo de cão não compreenderão a razão funda da questão. E só por esta razão me parecer tão óbvia, é que não acrescentarei mais nada. Pelo menos por agora. Excepto um sétimo motivo.
7.º Motivo – ele há sempre mais um motivo que nos atropela - O último, mas não o menos importante, bem pelo contrário. Por mim, quanto mais não seja em defesa e por consideração para com a espécie a que pertenço, continuo a amar com todo o corpo, alma e divindade que me restam a mulher; a gostar de todos os homens e mulheres, com paixão e compaixão; a tentar compreendê-los e a ajudá-los, por mais que os seus actos me repudiem e reclamem perdão. E que os cães se mantenham cães a valer e não caniches de alcova, lulus de almofada, bibelôs de carne e pêlo, donos e senhores do lar e dos seus escravizados servidores.
André Moa